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  • Cultura, Mundo | 19.12.2016 - 15h23

    Orson Welles, do teatro ao rádio e ao cinema e ao ostracismo

    Rubens Spanier Amador

    O mundo anda tão carente de figuras inspiradoras, conhecidas “antigamente” como verdadeiros artistas, pensadores, heróis, gente que era referência intelectual e estética para nós, como um Chaplin, um Sartre, um Muhammad Ali, que a cada dia mais me refugio no passado. Repiso um livro clássico, um filme arrebatador, a vida de um esportista mítico, a história de um criador que marcou época com algo inovador. Ontem revi a trajetória do radialista, ator e diretor de teatro e cinema Orson Welles (foto).

    Em 1938, numa época ainda sem tevê, Orson, com apenas 23 anos, já diretor do Teatro Mercúrio e funcionário da CBS, dirigiu um programa de rádio cuja transmissão recriou a Guerra dos Mundos, livro de ficção científica de H. G. Wells que descreve a invasão da Terra por marcianos. 

    No final de tarde do domingo, famílias de costa a costa dos EUA ligaram o rádio para ouvir o programa da noite. Quem sintonizou a CBS no meio, não ouviu o alerta inicial de que se tratava de dramatização. O programa soou tão realista que metade dos americanos acreditou que os marcianos estavam em Nova Jersey provocando destruição e mortes. O pânico foi tanto que dominou a América, provocando um semi-caos urbano. 

    A certa altura, pressionada pelas autoridades, a direção da CBS mandou Welles esclarecer novamente os ouvintes de que se tratava de ficção e suspender a transmissão.

    A HISTÓRIA DA TRANSMISSÃO DE "A GUERRA DOS MUNDOS"


    Nos dias seguintes, jornais do mundo todo divulgaram o ocorrido. Tratado como garoto prodígio, Welles teve de dar uma entrevista mostrando (encenando - dizem) arrependimento. Tendo se tornado literalmente da noite para o dia conhecido no planeta, viu as perceptivas de sua carreira nas comunicações aumentarem proporcionalmente à popularidade de seu talento. 

    O fabricante de sopa Campbell telefonou para a CBS com uma oferta de patrocínio generoso. Questionado pela imprensa sobre o interesse, já que Welles levara "pânico" aos americanos, o fabricante respondeu com o velho espírito competitivo americano: "Se Welles foi capaz de convencer metade dos Estados Unidos de que marcianos estavam invadindo os Estados Unidos, imagine o que poderá fazer pela sopa Campbell." 

    Logo Welles foi chamado por Hollywood, onde assinou contrato com os estúdios da RKO para rodar um filme por ano e, aos 25, realizou o clássico Cidadão Cane, uma inovação na linguagem do cinema considerada um marco, embora não tenha obtido sucesso de público. 

    Grandes acontecimentos em comunicação carregam a propriedade de se conectar com a alma de seu tempo e por vezes de antecipar outros acontecimentos. Os americanos haviam sofrido a crise de 29, viviam assombrados pelos fantasmas do desemprego e da fome. O medo os fez acreditar irracionalmente na "ilusão marciana". Um ano depois, em 1939, eclodiria a Segunda Guerra Mundial, revelando um personagem que, a exemplo de Welles, usou o rádio com grande poder de persuasão, em seu caso para converter os alemães a uma causa megalomaníaca e apavorar e intimidar a Europa: Adolf Hitler.

    CENAS DE "CIDADÃO KANE"

    Welles era um verdadeiro artista - um inconformista e, no bom sentido, um provocador, coisa que não vemos mais hoje em dia, não com a categoria dele. No filme Cidadão Cane, ele satirizou o magnata das comunicações dos EUA, o Roberto Marinho americano na época, William Randolph Hearst, homem com vasto poder e grande influência, inclusive sobre os produtores de Hollywood.

    Rodar e lançar o Cidadão Kane se tornou um desafio hercúleo para o jovem Welles, que no fim venceu a batalha apelando para o valor mais caro para os americanos, a Liberdade. O filme receberia nove indicações ao Oscar, vencendo o de melhor roteiro original. Sua coragem de realizar esta obra-prima, porém, fechou-lhe muitas portas no futuro. Ainda em vida, em 1975, recebeu um Oscar honorário. Chegou tarde. Infelizmente, com o tempo ele se convertera, na verdade "fôra convertido", num artista maldito. Depois de seu gênio ter obtido o reconhecimento e a fama muito cedo, viveu a maior parte dos seus 70 anos de vida no ostracismo, até morrer em 1985. Morto, continua vivo na memória global como um criador que ousou romper os padrões culturais e morais de seu tempo. Sua vida foi tudo, mas não foi comum, muito menos em vão.

    Orson Welles

    * George Orson Welles (Kenosha, WI, 6 de maio de 1915 — Los Angeles, CA, 10 de outubro de 1985) foi um cineasta norte-americano. Também foi roteirista, produtor e ator. Iniciou a sua carreira no teatro, em Nova Iorque, em 1934. É considerado um dos artistas mais versáteis do século XX no campo do teatro, do rádio e do cinema. Alcançou o sucesso aos 23 anos graças à obra radiofônica A Guerra dos Mundos, que causou comoção nos Estados Unidos quando muitos ouvintes pensaram que se tratava de uma retransmissão verdadeira de uma invasão alienígena. Esta sensacional estreia lhe valeu um contrato de três filmes com o estúdio RKO, que lhe deu a liberdade absoluta em suas realizações. Apesar destes benefícios, apenas um dos projetos planeados conseguiu ver a luz do dia na RKO: Citizen Kane (1941), o seu filme mais bem sucedido. Adiante, ele rodou The Magnificent Ambersons em 1942 e Touch of Evil em 1958. Embora estes três sejam seus filmes mais aclamados, os críticos têm argumentado que outras obras suas, como The Lady from Shanghai (1947) e Chimes at Midnight (1966) foram subvalorizados.


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