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Pelotas e RS

Rua Trilhos Velhos faz parte da história da Zona Sul

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Na fronteira das Três Vendas com as Terras Altas, segundo minha memória dos anos 1960, havia a Vila dos Trilhos, constituída por um casario pobre alinhado dos dois lados de uma via férrea desativada.

Dos dois lados da antiga via férrea — os trilhos haviam sido retirados —  moravam os mais pobres das redondezas.

Quer morar nos trilhos?

Alguns moradores trabalhavam, outros não tinham ocupação regular, de modo que, na linguagem popular, quem morava na ex-via férrea das Três Vendas eram biscateiros, vagabundos e ladrões. Quando queriam depreciar alguém desempregado ou a perigo, as pessoas diziam: “Está querendo morar nos Trilhos?!”

Era uma favela, sim, mas morar nos Trilhos não era tão ruim quanto pintavam. Mais de uma vez andei por ali, montado numa bicicleta (automóvel não entrava, só charrete), em visitas de reconhecimento. Rua de terra, naturalmente, aproveitando o aterro onde ficavam os trilhos.

Eram fileiras de casebres de paredes encardidas a cada um dos lados da antiga via férrea. Tábuas de segunda ou terceira mão, já sem vestígio de pintura. Aqui e ali havia umas vendinhas de mercadorias escassas, uma oficina de bicicletas, um sapateiro, uma doceira, uma lavadeira, um “eletrecista”…

Gato e passarinho

Enfim, gente normal que batalhava para se sustentar. Quase todas as casas tinham cachorro ou gato e/ou passarinho na gaiola. Em algum pátio se via um cavalo preso a uma árvore. Muita criança de pé no chão. A droga mais consumida, com certeza, era a pinga.

Forço a memória, a ver se recordo de mais alguma coisa. Na esquina dos Trilhos com a Avenida Fernando Osório havia um mercadinho-padaria-açougue. Quase defronte a essa mercearia, uma indústria de pêssegos em lata, os famosos duraznos em almíbar.

E agora, cinquenta anos depois, como estará esse lugar?, me pergunto.

Abro o Google e digito: Rua dos Trilhos, Três Vendas, Pelotas. Vem uma penca de referências, confirmando que minha memória está boa.

Sim, existe a Rua Trilhos Velhos, separada pela  Av. Fernando Osório da Rua do Leito da Ferrovia Francesa. No mapa, as duas ficam perto do aeroporto e do hipódromo.

Dupla identidade

Incrível como a mesma ferrovia, após a desativação, adquiriu dois nomes, como se houvesse, no passado, uma separação de classes.

Há 100 anos, era tudo uma coisa só. A ferrovia se chamava Compagnie Auxiliare de Chemins de Fer. Era “auxiliar” da empresa francesa que explorava o porto de Rio Grande e a Ferrovia São Paulo-Rio Grande.

Com cerca de 90 km, a Auxiliar foi construída para levar pedras extraídas do Monte Bonito, na zona colonial pelotense, para a edificação dos molhes do porto de Rio Grande.

Era tanta pedra que a pedreira do Monte Bonito se esgotou. Foi então que a Auxiliar descobriu uma jazida de granito no Capão do Leão, de onde saíram as pedras que completaram os dois molhes de Rio Grande.

Donde se conclui que a Rua Trilhos Velhos faz parte da história da Zona Sul.

3 Comments

3 Comments

  1. Milton R Martins

    30/06/20 at 07:10

    Bom dia! Tenho casa no Monte Bonito e to querendo ler sobre a historia da Cia Francesa na localidade…o trajeto e o carregamento da pedra para os molhes, era feito no Arroio Pelotas?
    Pleito da Via Férrea Francesa/Trilhos Velhos/hj Vila Francesa, tem a ver com a ver com o carregamento de pedras no Arroio Pelotas, Canal São Gonçalo, Lagoa dos Patos e Molhes?
    Do Leito da Viação Férrea em diante qual o percurso? Emendava com o atual Corredor do Obelisco até o Arroio Pelotas…tô querendo entender…pfv?!

  2. interyart

    13/06/20 at 21:53

    meu bisavô era encarregado da Pedreira. no final do século XIX. Em 1900, foi para a Itália buscar recursos que empregara lá para sustentar a mãe, durante 13 anos de trabalho em pedra no Brasil. Ao que se sabe pretendia empreender aqui, à semelhança que outros graniteiros argentinos faziam, quando empreitavam a extração e traziam seus amigos e parentes da Itália para trabalhar com eles. Na época, a concessão de exploração que era da “Société Anonyme Franco-Brésilienne de Travaux Publics”, fora rescindida devido à Revolução Federalista (rescindida ao final de 1893) e em 1897, havia sido retomada pela administração direta da Comissão para Melhoramentos da Barra do Porto de Rio Grande, a cargo do Engenheiro Honorio Bicalho. Mas, até 1898, apenas 950 m foram construídos de trajeto para transporte das pedras até o porto, o que fez com que as obras fossem de novo concedidas a outra companhia, passando à Companhia Francesa em 1906.

  3. Esteves

    11/06/18 at 15:40

    Da pedreira a linha seguia até as margem do São Gonçalo (canal) onde embarcavam em balsas sendo transportadas até o local da obra! Na época foi uma das maiores obras de Engenharia no mundo! Como uma região tão importante e rica foi desmontada efetivamente! Nunca entendi isto, acho que alguém deveria elaborar um estudo sobre o fenômeno!

Brasil e mundo

Leite posta encontro com o Papa

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Atual governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite foi recebido pelo Papa Francisco nesta quarta-feira (14). Aproveitando o espaço na agenda do Pontífice, levou à Sua Santidade uma réplica das ruínas das Missões e uma caixa com camisas do Grêmio, do Inter e do Xavante, pra ficar de bem com todas as torcidas.

Aproveitando, convidou o Papa a visitar o Rio Grande do Sul em 2026, como parte das comemorações dos 400 anos das missões jesuíticas no estado — por coincidência ano da próxima eleição presidencial, sonho que Leite persegue.

No X, Leite postou: “Foi uma conversa muito gentil e muito amável do Papa, que lembrou ter ido muitas vezes à cidade de Pelotas, onde um tio dele (Victor José Bergoglio) morou”.

Leite acrescentou: “A sua mensagem de hoje (do Papa) é muito oportuna. O Papa Francisco falou sobre temperança e pediu aos fiéis que exercitem o equilíbrio. É uma mensagem que serve para as relações nas redes sociais, pessoais, profissionais e políticas nesse mundo tão dividido”. Com essas palavras, Leite, que tem discursado contra a polarização na política, parece confirmar uma impressão. Ele é conhecido nos bastidores como “Governador Casio”. Tudo calculado, nada é espontâneo, com vistas ao pleito de 2026”.

Na última semana, Leite gravou vídeo de apoio a Matteus, participante gaúcho da final do BBB, aproveitando a onda da audiência do programa. Matteus perdeu, contudo, e o comentário é de que “perdeu por causa do apoio de Leite”. Era o comentário hoje na aula do Pilates.

Terá sido a derrota de Matteus um mau agouro para Fernando Estima, de quem se fala que poderá ser candidato dos tucanos a prefeito de Pelotas?

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Cultura e entretenimento

UnaMúsica inicia temporada com show da Gafieira do Clube

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O projeto UnaMúsica inicia sua temporada 2024 com show da Gafieira do Clube nesta quinta-feira, dia 18, às 18h. A apresentação será ao ar livre, no Anfiteatro do Parque Una e coincide com a abertura da Semana Nacional do Choro em Pelotas.

O evento, que ocorrerá de 18 a 27 de abril, celebra o  10º aniversário do Clube do Choro de Pelotas e o reconhecimento pelo Iphan do Choro como Patrimônio Cultural do Brasil. Durante o período, diversas atividades acontecerão em diferentes locais da cidade.

UnaMúsica

O UnaMúsica surgiu em 2020 com a intenção de valorizar a produção musical local ao promover shows de diferentes estilos no Anfiteatro do Parque Una. Porém, devido à pandemia de Covid-19, o projeto foi reestruturado e, dos cinco shows selecionados para aquela temporada, quatro foram realizados de forma virtual. Em 2022, o plano original foi retomado e a última apresentação foi realizada presencialmente.

Tendo o espaço público do Parque Una como cenário, o projeto retorna em 2024, buscando  levar boa música aos moradores e visitantes do bairro.

Gafieira do Clube

O projeto Gafieira do Clube reúne instrumentistas participantes do Clube do Choro e foi concebido com base nas tradicionais bandas de gafieiras do Rio de Janeiro que se destacavam em casas noturnas renomadas, como as estudantinas, oferecendo um repertório especialmente elaborado para a dança, com arranjos de músicas populares e composições instrumentais.

Apresentando uma formação moderna que combina os instrumentos do choro com nuances jazzísticas, incluindo contrabaixo, bateria e instrumentos de sopro, a Gafieira do Clube surge com o propósito de proporcionar uma experiência musical instrumental mais vibrante e envolvente, mesclando os ritmos do choro, maxixe, samba e outros, para o deleite dos apreciadores da música brasileira.

Participam do projeto: Rafael Velloso (sax), Rui Madruga (violão 7 cordas), Fabrício Moura (violão de 6 cordas/cavaquinho), Pedro Nogueira (cavaquinho solo), Paulinho Martins (bandolim), Gil Soares (flauta), Paulo Lima(contrabaixo) e Everton Maciel (percussão).

O QUÊ: Projeto UnaMùsica 2024 – Show Gafieira do Clube

QUANDO: Dia 18 de abril, às 18 horas

ONDE: Anfiteatro do Parque Una

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