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Opinião

Nosso querido Café Aquário

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Feliz ou infelizmente, tenho olho mais apurado para detectar defeitos do que virtudes. Não vejo mal; acredito que as duas características, sendo humanas, se complementam no infinito, para o fim de manter a fé na espécie.

Dito isto, gostaria de admitir que dedilhei um texto elogioso, embora a alguns possa não parecer.

De repente, pegando sol aqui na janela, pensei: “Preciso me lembrar de uma coisa boa que me faça feliz”.

Foi então que me veio, sabe-se lá por que cargas de água, a imagem do Café Aquário.

Já frequentei mais, mesmo na melancolia dos domingos, quando o ambiente remete a qualquer coisa das antessalas de velório, mas sempre passo ali. Às vezes paro pra trocar trivialidades sobre o passeio, acomodado nos beirais dos vidros ou recostado nas exóticas palmeiras que alguém um dia plantou para nos fazer sombra.

Me veio à lembrança o frenesi do lugar, coalhado em dias de frio, sobretudo o fervor dos sábados de manhã. Não se trata de uma gente qualquer a que vai ali.

O Aquário concentra o extrato mais idoso, em geral desconsiderado nas pesquisas de consumo. Daí eu considerar que os frequentadores, no fundo, confirmam sua presença por razões sentimentais, não pelos produtos que a Casa oferece – nem mesmo o café propriamente dito, servido em louça escaldada, café que, além de único, talvez seja o melhor do planeta.

Se as razões são sentimentais, e estou convencido que sim, me pergunto o que faz os clientes se abalarem pela rua, entrouxados contra o frio e o vento, muitas vezes deixando para trás as famílias, para palmilhar em direção à esquina envidraçada.

Às vezes me ocorre que nossos percursos ao Aquário são, no fundo, um retorno à infância, em todos os matizes das nossas credulidades. Uma espécie de reencontro com o recreio da escola dos primeiros anos fundamentais, quando nossos sentidos registram os acontecimentos e os espaços com uma amplitude maior do que possuem na realidade.

O Aquário me parece isso: um recreio sem fim, com data de formatura distante e incerta.

Como ocorre em todos os retornos aos lugares aonde fomos felizes, há algo de triste no ar, como um perfume doce demais, porque o que reencontramos nunca é como nos lembrávamos. E porque sempre prendem um aviso de “passamento” na entrada, para avisar que ela, a “Sirene”, continua funcionando.

O Aquário é impregnado de vida. Não uma vida qualquer – uma vida que viveu, sente saudade, mas mantém a fome de continuar existindo. Ser lembrado, lembrar.

É um dos poucos lugares onde, do nada, alguém é capaz de puxar do bolso fichas grátis para pagar a próxima rodada, apenas pelo prazer da conversa. Se o café vier frio, coisa que nunca acontece, eu te garanto: não fará mal algum.

Rubens Amador. Jornalista. Editor do Amigos de Pelotas. Ex funcionário do Senado Federal, MEC e Correio Braziliense. Pai do Vitor. Fã de livros, de cinema. E de Liberdade.

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Brasil e mundo

Felicidade de “segunda”, não dá mais

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Concordo com Alexandre de Moraes: antes das redes sociais, nós éramos felizes e não sabíamos. Mas éramos felizes no sentido de que uma pessoa ignorante podia ser. Hoje a farsa não convence tão fácil. As vozes se tornaram muito mais plurais, o que é positivo para a sociedade.

A tecnologia levou a percepção de felicidade a um patamar mais elevado. Aumentou a exigência. Ninguém mais se contenta com meias verdades.

Voltar no tempo é impossível, apesar dos esforços nesse sentido. O próprio Lula não entendeu isso, por isso está perdendo popularidade. Perdeu poder de persuasão. Ele e qualquer outro governante.

A própria velha imprensa perdeu poder de persuasão. Está todo mundo vendo o rei nu. Vendo e avisando a este da nudez, em voz alta. A corte toda, que inclui a velha imprensa, está nua. Ouvindo que está nua, mas se fingindo de surda.

A tecnologia muda os comportamentos. Os avanços tecnológicos provocam essas destruições criativas. Assim como foi o canhão que permitiu Napoleão, a internet e as redes sociais estão forjando um cidadão menos distraído, mais atento e engajado. Uma democracia muito mais participativa.

O mundo mudou.

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Opinião

De fato, Pelotas “mudou”

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Às vezes encontro com pessoas que estão voltando a morar em Pelotas. É comum comentarem isso: “Pelotas mudou. Havia uma vibração visível. Tinha uma intelectualidade… hoje não tem mais. O Sete de Abril, mesmo, está fechado… há 14, 13 anos… é isso mesmo?”.

Aqui vão sete coisas que parecem ter mudado a vida em Pelotas. Nem pra pior nem pra melhor. Apenas a vida mudou.

1. Condomínios fechados: as pessoas se preocupam mais com o condomínio do que com o passeio público. Com sua vida em seus espaços fechados ou, se abertos, integrados, como o Parque Una.

2. Alunos da UFPel vêm de fora por causa do Enem. Vão embora nas férias e no fim do curso. Não são daqui. Não chegam a formar um elo emocional forte com a cidade.

3. Professores da UFPel vêm de fora.

4. A cidade se espalhou.

5. A população está envelhecendo.

6. Digitalização da vida, com trabalho remoto.

7. Globalização, compras pela internet, streaming.

O mundo mudou.

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