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Opinião

Contos Eleitorais – Episódio 1

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Pedro Hallal, reitor da UFPel

Desde que a Advocacia Geral da União publicou a cartilha das Condutas Vedadas aos Agentes Públicos Federais em Eleições tenho respeitado seu conteúdo, compreendendo que uma das bases da democracia é o respeito as regras eleitorais. Esse respeito é fundamental para que o resultado das urnas expresse a vontade popular e, mais do que isso, seja aceito por todos. Admito que esse silêncio é tarefa difícil, tendo em vista que a pauta é apaixonante e domina as redes sociais e as rodas de conversa, seja no trabalho, seja no lazer. Não aguentando mais ficar calado, começo hoje a escrever contos eleitorais, com tópicos sobre as eleições que não ultrapassam os limites impostos ao cargo que hoje ocupo.

E o primeiro episódio é sobre as pesquisas eleitorais e o seu fracasso nas eleições de 2018. Perto da época das eleições é sempre a mesma coisa: institutos de pesquisa conduzem investigações sobre intenções de votos e a mídia divulga com a famosa frase: “a margem de erro é de dois pontos percentuais, para cima ou para baixo”. Vamos então compreender a origem dessa frase e as razões para os erros grotescos ocorridos nas eleições de ontem, por exemplo no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Minas Gerais.

Na verdade, a margem de erro é um conceito estatístico, que indica única e exclusivamente a precisão numérica da estimativa. Numa pesquisa de intenção de votos, esse é apenas um (E O MENOS IMPORTANTE) aspecto a ser considerado. A precisão de uma estimativa, em termos numéricos, depende única e exclusivamente do número de pessoas entrevistadas.

Eu então pergunto: se entrevistarmos 3.000 pessoas sobre as intenções de votos para o segundo turno presidencial em Pelotas (RS), o resultado esperado é o mesmo de entrevistarmos 3.000 pessoas sobre as intenções de votos para o segundo turno presidencial em Santo Amaro (BA)? Em termos numéricos, a resposta é SIM. Ou seja, a margem de erro é exatamente a mesma.

Então qual o outro indicador a ser considerado nas pesquisas eleitorais? A forma de escolha dos respondentes. A famosa frase de que “a margem de erro é de dois pontos percentuais, para cima ou para baixo” só é válida quando os respondentes foram escolhidos, de forma aleatória e com probabilidade idêntica de seleção, entre todo o universo, no caso, de eleitores. Em resumo, em teoria, para se ter uma estimativa correta da intenção de votos para presidente, precisamos sortear, de forma aleatória, 3.000 pessoas entre todos os eleitores do país. E isso jamais será obtido entrevistando as pessoas nas ruas, em áreas de grande circulação.

Obviamente que garantir essa aleatoriedade não é fácil. No Brasil, a fórmula mais comumente adotada nas pesquisas populacionais são os inquéritos domiciliares, nos quais os indivíduos são sorteados dentro das casas, que são sorteadas dentro de setores censitários (áreas com aproximadamente 300 domicílios) delimitados pelo IBGE, que são sorteados nos municípios, que são sorteados nos estados, que são sorteados nas regiões. Infelizmente, esse não é o método adotado nas pesquisas de intenção de votos, e por isso, os erros são tão frequentes.

Enquanto a maioria das pessoas olha as pesquisas eleitorais pelo número de entrevistados, a verdade é que as pesquisas deveriam ser analisadas pela forma de sorteio dos respondentes. E essa informação raramente é divulgada em detalhe na mídia. Os erros ocorridos nas eleições de 2018 passam um recado direto aos institutos de pesquisa do país: os métodos atualmente utilizados não estão sendo capazes de garantir a aleatoriedade na seleção dos participantes, e estão gerando amostras sistematicamente diferentes do universo eleitoral do país.

Notem que tais erros praticamente desapareceram nas pesquisas de boca de urna. Isso é fácil de compreender. Nas pesquisas de boca de urna, os eleitores são sorteados por zonas eleitorais, de forma que a aleatoriedade é garantida. Nesses casos, basta entrevistar o número correto de eleitores que a precisão das estimativas está garantida.

Existe uma explicação complementar para as discrepâncias entre os resultados das pesquisas anteriores e o resultado das urnas: as intenções de votos mudaram muito nos últimos dias e nas últimas horas. Sim, essa explicação também é verdadeira. A migração de votos no primeiro turno, especialmente na eleição presidencial, parece ter ocorrido realmente nos últimos momentos. No entanto, tal movimento migratório jamais seria capaz de explicar as abismais diferenças observadas em alguns estados.

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Opinião

Incômodas indicações para cargos na prefeitura

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Há pouco a prefeitura demitiu Pai Cleber de Xangô do cargo de “diretor de Patrolamento” da Secretaria de Obras. Numa cidade com muitas ruas de terra nos bairros, o setor é visado. Quando chove, as ruas, esburacadas, alagam. Ao ver a patrola, os moradores ficam felizes. O ponto: segundo o vereador César Brizolara, do PSB, Pai Cleber foi indicado ao cargo pelo vereador Márcio Santos, do PSDB, partido da prefeita Paula Mascarenhas. A demissão veio após Brizolara afirmar que Cleber entregava aos moradores cartões oferecendo serviços religiosos e propagandeando que o serviço de patrola ocorria graças a Santos.

Já na Secretaria de Assistência Social, o servidor Juliano Nunes foi guindado ao cargo de função gratificada de “diretor de Alta Complexidade”. Segundo o secretário de Assistência Social, Tiago Bündchen, em depoimento ontem (19) na Câmara, Nunes foi indicado ao cargo pelo vereador Carlos Júnior, do PSD, da base do governo. Como Pai Cleber, Nunes foi afastado do cargo, depois de denúncias de que desviava dinheiro público de beneficiários do Serviço de Prestação Continuada. O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado esteve na casa de Nunes, onde fez buscas e apreensões.

Já no Pronto Socorro Municipal, Misael da Cunha, então vice-presidente do PSDB e ex-tesoureiro do partido, foi elevado ao cargo de “gerente executivo do Pronto Socorro”, de onde acabou afastado após a descoberta de pagamentos em duplicidade a uma empresa específica. O caso motivou uma CPI, em curso na Câmara, onde Brizolara tem insistido em que se abra uma outra CPI específica para investigar a Secretaria de Assistência Social.

Por esses casos estima-se os riscos da indicação política de pessoas para cargos-chave. De apelo eleitoral. E que operam verbas.

Vereadores indicando cargos, de qualquer tipo, e a autoridade na prefeitura aceitando, é um sinal da miséria brasileira, da falta de entendimento do papel institucional. Às vezes cansa falar disso.

A imagem da patrola parece resumir o que ocorre.

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