Fins de ano são dias em que nos tornamos um pouco monges, como que reencontramos as percepções do Oriente. Embora o consumo material permaneça, prevalecem os sentimentos de confraternização e esperança. Não é uma boa hora para histórias pesadas. Por sorte, terminei ontem de ler O Coração das Trevas, considerado a obra prima de Joseph Konrad.
O romance é um mergulho perturbador nos instintos selvagens que nos habitam e que tratamos de domesticar através das convenções sociais. Não vou contar toda a história, para evitar spoiler. Vou dar uma pincelada, até porque muitos já podem conhecê-la.
O marinheiro Marlow é incumbido de resgatar Kurtz, funcionário de uma das companhias do Rei Leopoldo II, da Bélgica, num ponto distante da floresta do Congo Belga, então colônia pessoal do Rei, de onde os seus empregados extraem borracha, marfim e resina de Copal, explorando com crueldade os nativos.
Kurtz era insuperável no envio das riquezas extraídas da floresta. Sua capacidade de trabalho o distinguia. Contudo, em algum momento ele se converte num selvagem tirânico, visto e temido como a um semideus por uma comunidade de congoleses.
Com economia de palavras, o livro trata, no fundo, do mistério da dramática conversão sofrida por um homem civilizado no qual a cobiça desmedida desperta o que Freud chamava de “instinto de morte”.
O romance foi base para o filme Apocalypse Now, de Coppola. No filme (vídeo abaixo), o cenário deixa de ser o Congo e passa a ser o Vietnã. Soldados americanos são escalados para eliminar um coronel rebelde (Kurtz tb) no meio da selva, onde enlouquece e, como ocorreu ao Kurtz do romance, se torna uma espécie de semideus para os nativos.
Por se terem tornado “incômodos”, ambos os Kurtz precisam ser retirados de cena.
Livro e filme valem o esforço dos nossos olhos, de preferência depois da festas.
Jornalista. Editor do Amigos. Ex-funcionário do Senado Federal, do Ministério da Educação e do jornal Correio Braziliense. Prêmio Esso Regional Sul de Jornalismo. Top Blog. Autor do livro Drops de Menta. Fã de livros e filmes.
Está longe, mas, como as especulações eleitorais começaram, não é descabido considerar que o deputado federal Daniel Trzeciak, do PSDB, possa não concorrer a prefeito de Pelotas em 2014.
Pelos seguintes motivos:
1. Os eleitores não gostam de políticos que abandonam mandatos no meio. Além disso, a região perderia seu único representante no parlamento, logo ele, responsável por trazer grande quantidade de verbas de emendas para hospitais, obras etc.
2. O salário de deputado é de R$ 41,6 mil. O de prefeito, R$ 15 mil.
3.Prefeitura está com déficit grave nas contas públicas. Somados o déficit de 2023 e o previsto em lei para 2024, dá um acumulado de R$ 400 milhões, um quinto do orçamento públicoanual da cidade, de R$ 2 bilhões.
4. O clima de Brasília, seco, segundo orientações de saúde, é mais favorável à filha do deputado, de um ano de idade, do que o úmido clima pelotense.
Prefeita insiste e vai recorrer contra decisão judicial que suspende projeto de lei que autoriza Associação Rural a construir empreendimento imobiliário
A pedido da prefeita Paula Mascarenhas, a Procuradoria do Município vai recorrer judicialmente para manter em curso na Câmara um projeto de lei do Executivo que autoriza a Associação Rural de Pelotas a construir um empreendimento imobiliário sobre um terreno de 25 hectares (igual ao tamanho de 25 campos de futebol profissional).
A Procuradoria vai alegar que, pela Lei 948, de 1959, o terreno está doado pelo Município à entidade. É verdade. Porém, com base na mesma lei citada, o juiz Bento Barros suspendeu nesta semana o trâmite do projeto de lei. Ele se assenta no seguinte argumento presente na mesma Lei 948:
“A legislação mencionada estabelecia que a sociedade beneficiária (Associação Rural) não poderia alienar o imóvel ou parte dele em nenhum momento, sob pena de caducidade da doação e retorno do imóvel, juntamente com todas as benfeitorias existentes, ao patrimônio do Município de Pelotas. Portanto, até o momento, o direito de dispor e reaver o imóvel é do Município de Pelotas, integrando o seu patrimônio.
Estima-se que o terreno valha ao redor de R$ 100 milhões. A prefeita quer abrir mão do terreno em favor da Rural, em vez de vendê-lo. Na prática, por alguma razão incompreensível, quer dar o terreno.
Um negócio assim, se consumado, seria típico do Brasil, possível graças à mão caridosa e amiga do Estado. Pior é que o projeto de lei do Executivo autorizando a transação já tinha passado numa comissão da Câmara. Vereadores, que no papel são fiscais do interesse público, estão apoiando.
Ainda falta muito para o Brasil ser uns Estados Unidos, onde o empreendedorismo é tão admirado pelos nossos liberais. Se é que seria possível uma empreitada semelhante.