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Opinião

O Natal ao longo dos tempos

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Cena marcante, para mim, foi o adolescente que revelou ter roubado “para comprar presentes de Natal pra minha família”. Faz parte da minha profissão, psiquiatra forense, ouvir jovens infratores para avaliar seu psiquismo e suas motivações. Como o Natal, que deveria representar valores espirituais, se tornara motivo para um roubo à mão armada?

De aniversário de Jesus Cristo e sua mensagem de amor e humildade, o Natal se transformou na festa do Papai Noel onde o principal são os presentes. Mas na origem do Noel estava a fé cristã, pois inspirado no bisco Nicolau, que em Mira (na atual Turquia) se dedicava aos mais carentes e dava presentes às crianças no aniversário de Jesus.

São Nicolau (Santa Claus para os americanos) passou a ter caráter mais comercial no século XX, numa versão criada por cartunistas americanos e popularizada pela Coca Cola, que lançou um comercial do “bom velhinho” com as vestes vermelhas.

O século XX marca, portanto, o momento da história em que o caráter de propaganda comercial passa, gradativamente, a substituir o simbolismo cristão original não só do Natal, como da própria figura de Santa Claus (Papai Noel), até então inspirada no bispo que, com presentes às crianças, festejava Jesus.

De caridade aos mais humildes, os presentes de Natal se tornaram então uma obrigação. O comércio, é natural, valoriza a data e aproveita que ela coincide com a época do 13º salário. Uma tradição atribuída ao próprio bispo Nicolau é a de valorizar o comportamento das crianças, para saber se elas “merecem” os presentes.

Algumas décadas atrás isso chegava a ser uma preocupação, mas – com os estímulos comerciais à realização dos desejos de todos – hoje o pressuposto é que todos tem direito a serem atendidos em seus sonhos de consumo, nessa época.

Se procurarmos na História épocas mais antigas, podemos cogitar que talvez estejamos retomando tradições milenares, pois nessa mesma época do ano – antes da Era Cristã – havia a tradição de uma grande festa pelo solstício de inverno (no Hemisfério Norte), o nascimento anual do Deus Sol.

As festividades atuais teriam mantido algumas características da era pré-cristã e talvez por isso não seja tão surpreendente a deturpação do sentido das comemorações, onde presentes materiais se tornam mais importantes que o significado afetivo, amoroso e espiritual da data.

Uma das necessidades humanas é a de comemorações e nesse sentido nem sempre as pessoas prestam atenção no motivo da festa.

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Opinião

Decisão surpreendente a da prefeita!

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Foi surpreendente, e até chocante, ver a prefeita Paula Mascarenhas tentando na prática dar um terreno valioso do Município para a Associação Rural. Ela quer dar de mão beijada uma área da prefeitura do tamanho de 25 campos de futebol profissional (25 hectares), para que seja comercializada. Quer ceder a terceiros uma gleba pública, e daquelas dimensões, como se fosse propriedade sua.

O juiz Bento Barros não concordou com a transação. Mandou parar tudo e, em seu despacho, ainda mandou uns recados indiretos à prefeita. Mencionou a crise financeira da prefeitura e relembrou a ela da possibilidade legal de que venda (por licitação) o terreno que a Rural pretende comercializar, o que, no caso em questão, seria o lógico e esperado de um gestor atento ao interesse público.

O terreno, em valor estimado ao redor de R$ 100 milhões, teria por finalidade um vultoso empreendimento imobiliário na Rural — não um fim social, como o originalmente previsto na cessão da área. Um negócio que, se consumado, seria típico do Brasil, possível graças à mão caridosa e amiga do Estado. Pior é que o projeto de lei do Executivo autorizando a transação já tinha passado numa comissão da Câmara. Vereadores, que no papel são fiscais do interesse público, estão apoiando…

SABE LÁ DO QUE SE TRATA ISSO?

Há milhões de motivos para preocupações.

Ainda falta muito para o Brasil ser uns Estados Unidos, onde o empreendedorismo é tão admirado pelos nossos liberais. Se é que seria possível uma empreitada semelhante.

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Cultura e entretenimento

Anatomia de uma queda, o vencedor da Palma de Ouro. Por Déborah Schmidt

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 Samuel (Samuel Theis) é encontrado morto na neve do lado de fora do chalé isolado onde morava com sua esposa Sandra (Sandra Hüller), uma escritora alemã, e seu filho Daniel (Milo Machado Graner), de 11 anos, com deficiência visual. A investigação conclui se tratar de uma “morte suspeita”, pois é impossível saber ao certo se ele tirou a própria vida ou se foi assassinado. Sandra é indiciada e acompanhamos seu julgamento que expõe o relacionamento do casal. Entre o julgamento e a vida familiar, as dúvidas pesam sobre a relação da mãe com seu filho.

Com um começo instigante, Anatomia de uma Queda coloca dúvidas na cabeça do espectador: Samuel caiu acidentalmente do chalé ou cometeu suicídio? Ou será que foi empurrado por Sandra? Ao longo de 2h e meia, o filme desenvolve sua narrativa sem pressa e de forma complexa, focada nos diálogos. A primeira parte explora a investigação e a reconstituição da morte de Samuel, enquanto que na segunda temos o julgamento, com Sandra suspeita e acusada do assassinato do marido, tendo que provar sua inocência com ajuda de Maître Vincent Renzi (Swann Arlaud).

A diretora Justine Triet acerta em cheio ao trabalhar com diferentes versões, sem nunca apresentar uma verdade definitiva e nem respostas prontas. O roteiro de Triet e Arthur Harari, seu marido na vida real, foi uma colaboração perfeita ao explorar a intimidade do casal e a relação, muitas vezes abusiva, entre eles.

Em uma das grandes atuações do ano, Sandra Hüller tem uma performance poderosa. Falando em inglês, com dificuldade em francês e sem poder falar em sua língua materna, ela passa por todas as nuances de sua personagem e, ao lado do jovem Milo Machado Graner, conferem à narrativa uma profundidade impressionante.

Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes e forte candidato ao Oscar, Anatomia de uma Queda é um angustiante estudo de personagens que desvenda as complexidades das relações humanas.

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