Há dois dias, 3, fosse vivo, o ator Marlon Brando faria 95 anos de idade, me lembra um amigo, Robert Mencken.
Escreveu ele:
“Esse era grande gênio, um cara profundo e humano em suas contradições e talentos. Uma personalidade rica do tipo que já não se vê mais hoje, mas tão rica que podemos seguir extraindo valiosos insights de suas múltiplas facetas.
A autobiografia dele segue sendo uma das melhores que li (Canções que minha mãe me ensinou).
Destaco a lucidez dele tanto na atuação em favor da causa negra, quanto a percepção de que não estava no seu ‘lugar de fala’ (ele entendia que seu apoio aos negros podia ser útil, mas que nunca entenderia o sentimento negro).
Se eu tivesse de destacar um atributo de sua personalidade, diria que era a autenticidade. Era um sujeito genuíno”.
Volto eu:
Ainda hj é considerado o ‘maior ator do mundo’.
Li uma biografia sobre Brando de um autor independente, a biografia da terceira mulher dele, Tarita, e a autobiografia.
A gente pensa que os outros são mais felizes do que nós.
A vida de Brando, riquíssimo ao ponto de comprar um atol (Tetiaroa, arquipélago com 12 ilhas na Polinésia Francesa), não foi nenhum passeio. Filho de pais alcoólatras, garoto, era obrigado a recolher a mãe bêbada de bares e da cama de estranhos. No fim de sua vida um de seus 16 filhos oficiais se tornou assassino, uma de suas filhas se enforcou.
Entre outras coisas da autobiografia, sublinhei isto:
“Se eu tivesse sido amado e tratado de outra maneira, teria sido uma pessoa diferente. Passei a maior parte da minha vida com medo de ser rejeitado e acabei rejeitando a maioria das pessoas que me ofereceram amor porque não conseguia confiar nelas.”
“Quase a vida inteira precisei parecer forte sem sê-lo e o que eu mais desejava era controle. Quando me sentia injustiçado ou diminuído, queria vingança. Agora, não. Ainda desprezo a autoridade e o tipo de conformismo que induz à mediocridade, mas já não sinto necessidade de sair atacando essas coisas”.
“Nos últimos anos eu redescobri uma parte de mim que era limpa, pura e correta, e que estivera escondida desde que eu era criança”.
“Eu percebi que precisava perdoar meu pai, senão passaria o resto da minha vida na armadilha de meu ódio e minha angústia. Agora perdoei a ele e a mim, mas percebo que perdoar com a mente nem sempre é fazê-lo com o coração”.
“Minha mente sempre fica tranquila quando me imagino sentado em minha ilha dos Mares do Sul à noite, num vento suave, com a boca aberta e a cabeça caída para trás, olhando aqueles pontos de luz piscando, esperando que aquele rastro silencioso e fantasmagórico se espalhe no céu negro e me deixe aturdido novamente. Eu não estendo mais a mão, mas nunca canso de esperar a mágica seguinte”.