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Opinião

A Venezuela que eu vi

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Sou um turista do tipo curioso, que fica fazendo perguntas na rua a todo tipo de pessoas, camelôs, motoristas de táxi, populares em compras, funcionários de bares, de mercados, todo mundo enfim. Tenho uma curiosidade infinita de saber como vive o povo de cada lugar, desde a situação objetiva do país até como se sente, subjetivamente, uma espécie de “pesquisa qualitativa” e aleatória da opinião pública.

Foi assim em dezembro de 2010, quando passei uma semana na Venezuela sob o governo de Hugo Chávez, um presidente populista e comunicativo. Achei interessante que o governo mantinha um jornal pró-situação com a inteligência de lhe ironizar, lembro de uma charge em que uma pessoa perguntava para outra o que gostaria de dizer ao Presidente e a outra respondia que não fazia diferença porque com o Chávez só ele falava, algo assim.

Falei com dezenas de pessoas em lojas, bares e principalmente camelódromos, vendo uniformes de beisebol, a paixão nacional. Todas me disseram a mesma coisa, “o Chávez tem mania de estatizar tudo, mas não sabe administrar e quebra as empresas”.

Durante aquela semana, no final de 2010, houve uma chuvarada no interior do país que deixou milhares de desabrigados e me chamou a atenção que a medida do governo, ao invés de viabilizar alojamentos para as vítimas, foi baixar um decreto obrigando todos os donos do hotéis a receber os desabrigados nas suas instalações.

O chavismo, conforme vi ao vivo, não considera importante qualquer forma de iniciativa privada, do grande ao pequeno empreendedor, considera que o governo tem o direito de intervir em tudo a qualquer tempo.

Nas redes sociais vejo as pessoas dizendo que o chavismo prova que “o socialismo não dá certo”, mas ao contrário da Venezuela o governo chinês foi no sentido oposto, fazendo coexistir o mercado com a economia estatal naquele país.

Na Rússia pós-comunista, inclusive, também coexiste o mercado com uma presença forte do Estado.

Lembro de China e Rússia, inclusive, porque são hoje os grandes apoiadores de Maduro, em contraste com os Estados Unidos, acusados pela esquerda de querer promover um ‘golpe’ na Venezuela, por motivos ‘geopolíticos’, leia-se petróleo. Mas os interesses da China e da Rússia, seriam humanitários?

A guerra ideológica nas redes sociais me parece muito distante da trágica realidade venezuelana. Ela não é uma vítima dos Estados Unidos, pois Chávez levou à falência um país riquíssimo, muito antes de qualquer influência externa. Ela também não é prova de fracasso do socialismo, pois a China é uma potência econômica, rivalizando com os Estados Unidos nos mercados internacionais.

A população da Venezuela é uma trágica vítima da incompetência de seus governantes.

Montserrat Martins é médico psiquiatra, autor de Em busca da Alma do Brasil

Facebook do autor | E-mail: montserrat@tjrs.jus.br

1 Comment

1 Comments

  1. cloves

    04/05/19 at 23:50

    A China é mais capitalista que o Brasil, o que prova que o socialismo nunca funcionou!!!

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Brasil e mundo

Felicidade de “segunda”, não dá mais

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Concordo com Alexandre de Moraes: antes das redes sociais, nós éramos felizes e não sabíamos. Mas éramos felizes no sentido de que uma pessoa ignorante podia ser. Hoje a farsa não convence tão fácil. As vozes se tornaram muito mais plurais, o que é positivo para a sociedade.

A tecnologia levou a percepção de felicidade a um patamar mais elevado. Aumentou a exigência. Ninguém mais se contenta com meias verdades.

Voltar no tempo é impossível, apesar dos esforços nesse sentido. O próprio Lula não entendeu isso, por isso está perdendo popularidade. Perdeu poder de persuasão. Ele e qualquer outro governante.

A própria velha imprensa perdeu poder de persuasão. Está todo mundo vendo o rei nu. Vendo e avisando a este da nudez, em voz alta. A corte toda, que inclui a velha imprensa, está nua. Ouvindo que está nua, mas se fingindo de surda.

A tecnologia muda os comportamentos. Os avanços tecnológicos provocam essas destruições criativas. Assim como foi o canhão que permitiu Napoleão, a internet e as redes sociais estão forjando um cidadão menos distraído, mais atento e engajado. Uma democracia muito mais participativa.

O mundo mudou.

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Opinião

De fato, Pelotas “mudou”

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Às vezes encontro com pessoas que estão voltando a morar em Pelotas. É comum comentarem isso: “Pelotas mudou. Havia uma vibração visível. Tinha uma intelectualidade… hoje não tem mais. O Sete de Abril, mesmo, está fechado… há 14, 13 anos… é isso mesmo?”.

Aqui vão sete coisas que parecem ter mudado a vida em Pelotas. Nem pra pior nem pra melhor. Apenas a vida mudou.

1. Condomínios fechados: as pessoas se preocupam mais com o condomínio do que com o passeio público. Com sua vida em seus espaços fechados ou, se abertos, integrados, como o Parque Una.

2. Alunos da UFPel vêm de fora por causa do Enem. Vão embora nas férias e no fim do curso. Não são daqui. Não chegam a formar um elo emocional forte com a cidade.

3. Professores da UFPel vêm de fora.

4. A cidade se espalhou.

5. A população está envelhecendo.

6. Digitalização da vida, com trabalho remoto.

7. Globalização, compras pela internet, streaming.

O mundo mudou.

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