05.07.2019 – Atendimento na Casa de Passagem durante o inverno – Foto Michel Corvello
Por Daiane Santos | Fotos de Michel Corvello.
O dia frio de sexta-feira (5), em que até a neve apareceu em Pelotas, prenunciava: aquela seria uma das noites mais frias dos últimos anos, com temperaturas próximas de 0ºC e sensação térmica negativa, conforme alguns centros climáticos. Previsão confirmada, era hora de unir forças em prol daqueles que passariam mais uma noite ao relento. A prefeitura e centenas de pelotenses abnegados ouviram o chamado à solidariedade e levaram roupas, cobertas e colchões para a Casa de Passagem Municipal, onde uma equipe de servidores e voluntários aguardavam a população em situação de rua com uma sopa quente.
Diariamente, rondas são feitas pela equipe da Secretaria de Assistência Social, buscando tirar das ruas e proporcionar, pelo menos, uma noite mais confortável a quem tem por teto as estrelas. No inverno, o trabalho é mais intenso e, em alguns dias, une-se ao do setor de Redução de Danos da Secretaria de Saúde, que tenta ajudar aqueles cujo vício em drogas ou álcool há muito tempo venceu a esperança.
Com as mãos estendidas e muita vontade de ajudar, eles percorrem os recantos onde homens e mulheres em situação de rua costumam ficar, para tentar convencê-los a ir à Casa de Passagem, local em que não falta comida e cama limpa para quem deseja abrigo.
“Essa gestão tem sido muito boa. Temos apoio e os funcionários se sentem valorizados. Só quem trabalha nas ruas sabe o quanto é difícil, então ter o apoio das secretarias e da prefeita faz a diferença”, garante a ex-coordenadora da Casa de Passagem, Denair Rosa, que recentemente passou a gestão do espaço à colega Rita Duarte, mas fez questão de acompanhar a ronda de sexta.
A missão nem sempre é fácil, a maioria não quer deixar a rua e prefere enfrentar o frio congelante a aceitar a permanência entre quatro paredes, e na noite de sexta não foi diferente. Caso de Luciano Freitas, 39 anos, que, junto ao seu cachorro, devidamente vestido para a noite, preferiu ficar em sua barraca improvisada na entrada de uma agência bancária na avenida Bento Gonçalves.
Sincero e eloquente, ele agradeceu o convite, prometeu procurar ajuda médica para um problema que enfrenta na perna. Porém, nem a promessa de cama e alimento quente o convenceram a sair dali. “Não precisa, não, tenho bastante cobertor e um pessoal já trouxe comida”, indicando as marmitas deixadas por cidadãos que foram levar o alívio possível aos desabrigados.
‘Não somos invisíveis’
Dos dez locais visitados durante uma das duas rondas realizadas na sexta-feira à noite, apenas uma atuação deu resultado. Maison, 20 anos, aceitou o abrigo oferecido e acompanhou as equipes da prefeitura até a Casa de Passagem, onde tomou uma sopa servida no Restaurante Popular pela Prefeitura em parceria com a Mitra Diocesana.
Natural de Pinheiro Machado, Maison veio para Pelotas em busca de trabalho. No entanto, a vaga conquistada em uma empresa do Monte Bonito, 9º distrito, só garante abrigo durante a semana, deixando o jovem sem muitas opções quando começa o fim de semana.
“Tenho que vir pra cidade, pois não tenho onde ficar lá. Daí vou me virando, fico na casa de amigos, durmo onde consigo”, contou meio desconfiado, sem saber se aceitava ou não a ajuda. Ele foi o único a ir para o abrigo oferecido na Casa de Passagem, onde outras 22 pessoas já se preparavam para passar a noite fria que se avizinhava.
Ao todo, graças a abertura do Centro de Referência Especializado para Pessoas em Situação de Rua (Centro Pop) da Prefeitura, 70 vagas – 30 na Casa de Passagem, 30 no Centro Pop e dez no Albergue Municipal – estavam disponíveis para aqueles que precisassem.
Melhor para Michel da Silva Fabres, 32 anos, que há algum tempo passa o período noturno no espaço destinado ao acolhimento da população em situação de rua. Graças ao apoio e ajuda dos assistentes e educadores sociais do local, ele conseguiu renda oriunda de benefício social e se prepara para, em breve, ter seu próprio lar. “O que seria da gente se não tivesse isso aqui? Só tenho a agradecer à secretaria, às ‘tias’ e ao pessoal que doou roupas e cobertas. Aqui não somos invisíveis. Só quem vive na rua sabe o que é fome e frio de verdade”.
Solidariedade
Enquanto os funcionários da Casa de Passagem, do Centro Pop e do Restaurante Popular corriam para deixar tudo pronto e garantir o acolhimento daqueles que aparecessem, doações da comunidade não paravam de chegar. À tarde, a prefeita Paula havia feito um apelo nas rádios e redes sociais para que os pelotenses ajudassem doando cobertores, colchões e roupas. Rapidamente começaram as entregas, o que esquentou a noite dos abrigados e os corações de toda a equipe.
“Se cada um doar uma calça, já vai ajudar muito. Fiz questão de ajudar como podia e sei que muitos pelotenses também fizeram isso”, disse a educadora Taísa Oliveira.
A missão de esquentar os dias e noites daqueles que mais precisam também não terminou.
05.07.2019 – Atendimento na Casa de Passagem durante o inverno – Foto Michel Corvello
De acordo com o secretário de Assistência Social, Luiz Eduardo Longaray, ainda faltam alguns colchões. No entanto, a principal demanda é de roupas infantis, já que a Secretaria de Saúde resolveu ampliar a campanha de arrecadações e atender pedidos da comunidade mais carente.
“Quem quiser doar, pode trazer aqui na Casa de Passagem ou ligar, que buscamos. Tem muita gente pedindo ajuda, principalmente, para roupas de criança, que são mais difíceis de conseguir”, explicou, pedindo que a população avise a Prefeitura caso veja alguém em situação de rua. A Casa de Passagem fica na rua Três de Maio, 1074. O telefone para contato é o (53) 3921-6079.
05.07.2019 – Atendimento na Casa de Passagem durante o inverno – Foto Michel Corvello
Os serviços
A Casa de Passagem oferece 30 vagas para pernoite, com direito a banho, material de higiene e roupas limpas, além de janta e café da manhã. Os abrigados também podem guardar seus pertences no espaço apropriado, que abre de domingo à domingo das 19h às 7h.
Já o Centro Pop funciona de segunda à sexta-feira, das 8h30 às 16h30, promovendo oficinas e o encaminhamento a serviços e direitos, como atendimento médico e psicológico, feitos por meio do Consultório de Rua e da Atenção Básica (UBS Sansca), além do acesso à retirada de documentos.
Os usuários também recebem café da manhã e da tarde, bem como vale-refeição para almoçar no Restaurante Popular, que tem 1,3 mil usuários cadastrados e serve 400 almoços, funciona das 9h às 13h, de segunda à sexta-feira. No prédio localizado à rua Três de Maio, 1068, o almoço é servido às 11h30 para os cadastrados e a partir das 12h para a população em geral. As refeições têm o valor simbólico de R$2,00 e o Município ainda oferece pratos gratuitos para pessoas em vulnerabilidade social.
Assistentes Sociais realizam o cadastro de novos usuários, que têm prioridade no atendimento, todas as quartas-feiras. Os interessados devem apresentar:
Carteira de Identidade;
CPF;
Cadastro NIS (Número de Identificação Social);
Comprovante de residência;
Foto 3X4.
Caso a pessoa não possua algum dos itens acima listados, a equipe da Secretaria de Assistência Social realiza o encaminhamento para os setores responsáveis, de forma gratuita. A documentação atualizada facilita, ainda, a busca por uma oportunidade de emprego.
O escritor e jornalista Luiz Carlos Freitas autografa na próxima quinta-feira (30), a partir das 18, na Livraria Mundial, seu novo romance: Confissões de um cadáver adiado. Freitas mergulhou no trabalho durante um ano até bater o ponto final.
O romance tem como ponto de partida e chegada a própria vida do autor, que sobreviveu a uma sentença que parecia de morte.
O prefácio fala por si:
Realidade e ficção na hora da morte Amém!
Sou filho do povo pobre e escravizado, a literatura me libertou e salvou. Perambulei por aqui e ali, encontrei guarida, força e sobrevivência financeira no jornalismo, oásis e alegria no ofício de escrever romances de cunho social, em paralelo, nas horas roubadas ao lazer e ao convívio familiar. Escrever me bastava, ser famoso e ganhar dinheiro não me atraia – expulsar fantasmas íntimos era o objetivo. Até que, no final de abril de 2011, ocorreu o que eu previa desde quando perdi meu pai, em 1973, aos 43 anos, vitimado por câncer no estômago e metástase no fígado.
Eu trabalhava na conclusão do romance MoriMundo e, em função de desconforto gástrico, fui me consultar. Desconfiança do médico, endoscopia, diagnóstico de enfermidade anunciada: tumor maligno de 2,5 cm (a mesma doença paterna) no Piloro (parte do estômago). Solução? Cirurgia. Pra ontem! Fui operado dia 13 de maio de 2011. Tudo certo! Extraíram o tumor e parte do estômago – deram-me como curado. Milagrosamente. Sem metástases. Tirei o prêmio da Mega Sena. Hurras! Vivas! Safei-me. Em julho dispensei o auxílio-saúde do INSS, voltei ao trabalho e à conclusão do MoriMundo, com a responsa de retornar a consultar-me com o oncologista em novembro, já com a tomografia em mãos.
Terminei o livro e o publiquei em setembro daquele ano. Ufa! Em novembro fiz a “Tomo” e me apresentei ao médico, pacificado, tranquilo, sem nada a temer. Choque! De alta voltagem! O cara leu o laudo do exame e me disse na lata: Problemas! Novo tumor no estômago, outro no pâncreas, um terceiro no baço e necrose no fígado. Puta… Balancei. No pâncreas! Tremi, me senti mal, meu mundo caiu, pensei: É o fim, prezado Freitas. Deu pra ti, camarada! O que temia há 40 anos se tornou realidade. Dei um tempo. Recuperei-me. E perguntei ao oncologista: Quanto tempo de vida? Entre seis meses e dois anos! Respondeu na hora, insensível e habituado às dores alheias. O que devo fazer? Extirpar os tumores por meio de cirurgia, a fim, talvez, de prolongar a vida, respondeu: Tchau e benção!
Dei entrada ao hospital dia 1º de janeiro de 2012, com cirurgia marcada para a manhã seguinte. No íntimo se digladiavam a esperança, a desesperança, o medo e um vago sentimento de aceitação do inevitável. Fiquei novehoras na mesa de cirurgia. Extraíram o tumor e o que restava do estômago, a cauda e a cabeça do pâncreas, o baço, e rasparam a necrose do fígado. Acordei e percebi que continuava no mundo dos vivos. Por pouco tempo. Deu rolo. Intercorrências nas cirurgias. Abriram-me mais cinco vezes consecutivas e instalaram um dreno no fígado para filtrar o excesso de bílis. Fui indo, dois, três dias… Bactéria estava à toa na vida e decidiu infectar-me.
Peguei infecção hospitalar das bravas. Dê-lhe litros de antibiótico e parará. A coisa piorou, choque séptico, falência de órgãos múltiplos… Adeus mundo! Quinze dias em coma! Caixão e sepultura prontos, família conformada, médicos nem aí para mais um caso perdido (aqui é força de expressão, “licença poética”). Acordei! Vi três rostos em forma de santa – não lembro a ordem: minha mãe, minha companheira, minha irmã caçula. Acordei do coma para espanto geral – milagre! –, permaneci três meses no hospital, perdi 30 quilos, voltei pra casa – milagre! A enfermidade foi superada, estou limpo há 11 anos e 25 dias, completados hoje, 26 de setembro de 2023. Não tenho estômago, partes do pâncreas, o baço, a vesícula, a aparência e a energia de outrora…
Nesses quase 12 anos de recuperação física e mental, ganhei sobrevida, 15 quilos (meu peso oscila entre 52 e 55 Kg), paz, tranquilidade, tempo para escrever, certa lucidez, aposentadoria por invalidez, uma coluna política três vezes por semana no centenário Diário Popular (desde 2014 até dezembro de 2020), e uma vida praticamente normal – sem sequelas graves. Ainda que sobre mim paire a sombra do medo da recidiva. Entre 2014 e 2015 escrevi o romance Homo Perturbatus, publicado em 2016, reeditei Amáveis inimigos íntimos, em 2017, Odeio muito tudo isso, em 2019, e publiquei o romance Ninguém em 2020. Enquanto isso, Confissões de um cadáver adiado maturava na mente e no espírito, à minha revelia, esperando o momento certo para vir à luz. Comecei a escrevê-lo em maio de 2022, após necessária visita à aldeia Campelo, no Norte de Portugal, onde nasceram meus avôs paternos. Concluí a obra em março de 2023. Foi doloroso reabrir velhas feridas, descobrir outras, furtivas. Às vezes, chorava e lamentava meus erros, geralmente a melancolia, a nostalgia e a culpa ditaram o ritmo e as palavras. Fui em frente!
Confissões de um cadáver adiado não é um manual de superação da enfermidade – longe disso. Mas é testemunho inequívoco de que o diagnóstico de câncer – mesmo os considerados irremediáveis – já não é sinônimo de finitude. Tampouco tem a pretensão de “colonizar” o outro, como diz Saramago. O objetivo da obra é compartilhar experiências, plantar esperança, mostrar a ambiguidade, a imperfeição e a mesquinhez do ser. Há outros. Diversos. Descubra-os!
A prefeitura avisa que começou uma nova etapa da obra na ponte do Laranjal.
Dizem que, nexta-feira (24), começaram uma nova etapa da obra de recuperação da cabeceira da ponte sobre o arroio Pelotas, a terceira. “A empreiteira contratada fez a perfuração das microestacas e começou o trabalho de concretagem”.
“Entramos, agora, na terceira etapa da obra, que é a das estacas que servirão de cortina para a contenção. O prazo para conclusão dessa parte é de, aproximadamente, dez dias, se o tempo for bom”, diz o secretário de Obras e Pavimentação, Giovan Pereira.
A obra é decorrência de problemas na contenção do material na travessia. Custo: R$ 400 mil, dos cofres do Município.