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Opinião

Empatia é quase amor

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“Simpatia é quase amor” é um dos mais divertidos blocos de carnaval, criado em Ipanema, no Rio, nos anos 80, cujo nome é inspirado num personagem conquistador e simpático. Ninguém precisa explicar a “simpatia”, é algo que alguém lhe inspira – ou não. O que você precisa saber na prática é que golpistas, sejam estelionatários ou de outros tipos, são habitualmente muito simpáticos e sabem conquistar a sua confiança para lhe enganar.

Empatia, que é “se colocar no lugar do outro”, é mais difícil de ser compreendida e praticada. É muito frequente acharmos que estamos compreendendo alguém quando, na verdade, não estamos. A falsa empatia é a “identificação”, é vermos na outra pessoa características que na verdade são nossas. “Eu sei como você se sente” pode ser uma frase enganosa, pois quem a diz pode estar conectado com os próprios sentimentos e não os do outro.

Uma pesquisa esclarecedora foi realizada pelo psicólogo Carl Rogers, gravando sessões de Psicoterapia com autorização dos pacientes e dos terapeutas. Todos foram ouvidos sobre as gravações, que foram assistidas também por pessoas neutras. Houve diferenças entre os momentos em que os pacientes se sentiam compreendidos, em relação aos que os terapeutas acreditavam que os haviam entendido. A opinião dos juízes neutros coincidia com a dos pacientes, não com a dos terapeutas. A conclusão da pesquisa foi de que só a própria pessoa sabe quando foi bem compreendida, ou não.

Enquanto a simpatia pode ser usada para o bem, ou para o mal – dependendo de quem é a pessoa simpática e de suas intenções – a empatia só merece esse nome quando é verdadeira, quando nasce de um interesse real de compreender como a outra pessoa se sente. Quem de fato se coloca no lugar do outro, seria capaz de usar esse conhecimento para lhe iludir? Nesse caso não seria empatia verdeira, seria uma percepção inteligente dos sentimentos da outra pessoa, com fins manipulativos.

A empatia é a base das amizades duradouras e dos vínculos familiares mais felizes, em contraste com as relações conflitivas que existem nos lares e na sociedade em geral. Mesmo sendo tão importante, fundamental mesmo para a felicidade humana, é curiosamente um assunto muito pouco estudado.

A dificuldade em entender e praticar a empatia vem de confusões muito frequentes com a simpatia, ou com a identificação, ou com percepções inteligentes que podem ter sobre seus sentimentos (o “papo de vendedor”). Empatia é bem mais profunda do que tudo isso e se você estiver motivado leia “Comunicação Não-Violenta” de Marshall Rosenberg ou “A Way of Being”, de Carl Rogers. Vale a pena.

© Montserrat Martins é médico psiquiatra.

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Opinião

Decisão surpreendente a da prefeita!

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Foi surpreendente, e até chocante, ver a prefeita Paula Mascarenhas tentando na prática dar um terreno valioso do Município para a Associação Rural. Ela quer dar de mão beijada uma área da prefeitura do tamanho de 25 campos de futebol profissional (25 hectares), para que seja comercializada. Quer ceder a terceiros uma gleba pública, e daquelas dimensões, como se fosse propriedade sua.

O juiz Bento Barros não concordou com a transação. Mandou parar tudo e, em seu despacho, ainda mandou uns recados indiretos à prefeita. Mencionou a crise financeira da prefeitura e relembrou a ela da possibilidade legal de que venda (por licitação) o terreno que a Rural pretende comercializar, o que, no caso em questão, seria o lógico e esperado de um gestor atento ao interesse público.

O terreno, em valor estimado ao redor de R$ 100 milhões, teria por finalidade um vultoso empreendimento imobiliário na Rural — não um fim social, como o originalmente previsto na cessão da área. Um negócio que, se consumado, seria típico do Brasil, possível graças à mão caridosa e amiga do Estado. Pior é que o projeto de lei do Executivo autorizando a transação já tinha passado numa comissão da Câmara. Vereadores, que no papel são fiscais do interesse público, estão apoiando…

SABE LÁ DO QUE SE TRATA ISSO?

Há milhões de motivos para preocupações.

Ainda falta muito para o Brasil ser uns Estados Unidos, onde o empreendedorismo é tão admirado pelos nossos liberais. Se é que seria possível uma empreitada semelhante.

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Cultura e entretenimento

Anatomia de uma queda, o vencedor da Palma de Ouro. Por Déborah Schmidt

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 Samuel (Samuel Theis) é encontrado morto na neve do lado de fora do chalé isolado onde morava com sua esposa Sandra (Sandra Hüller), uma escritora alemã, e seu filho Daniel (Milo Machado Graner), de 11 anos, com deficiência visual. A investigação conclui se tratar de uma “morte suspeita”, pois é impossível saber ao certo se ele tirou a própria vida ou se foi assassinado. Sandra é indiciada e acompanhamos seu julgamento que expõe o relacionamento do casal. Entre o julgamento e a vida familiar, as dúvidas pesam sobre a relação da mãe com seu filho.

Com um começo instigante, Anatomia de uma Queda coloca dúvidas na cabeça do espectador: Samuel caiu acidentalmente do chalé ou cometeu suicídio? Ou será que foi empurrado por Sandra? Ao longo de 2h e meia, o filme desenvolve sua narrativa sem pressa e de forma complexa, focada nos diálogos. A primeira parte explora a investigação e a reconstituição da morte de Samuel, enquanto que na segunda temos o julgamento, com Sandra suspeita e acusada do assassinato do marido, tendo que provar sua inocência com ajuda de Maître Vincent Renzi (Swann Arlaud).

A diretora Justine Triet acerta em cheio ao trabalhar com diferentes versões, sem nunca apresentar uma verdade definitiva e nem respostas prontas. O roteiro de Triet e Arthur Harari, seu marido na vida real, foi uma colaboração perfeita ao explorar a intimidade do casal e a relação, muitas vezes abusiva, entre eles.

Em uma das grandes atuações do ano, Sandra Hüller tem uma performance poderosa. Falando em inglês, com dificuldade em francês e sem poder falar em sua língua materna, ela passa por todas as nuances de sua personagem e, ao lado do jovem Milo Machado Graner, conferem à narrativa uma profundidade impressionante.

Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes e forte candidato ao Oscar, Anatomia de uma Queda é um angustiante estudo de personagens que desvenda as complexidades das relações humanas.

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