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Cultura e entretenimento

Uns poucos trabalham com esperança de restaurar o Clube Comercial

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Nesta semana visitei o Clube Comercial, convidado pelo advogado Cláudio Amaral, vice-presidente do Clube. Segui Cláudio numa visita completa a todas as peças do casarão.

Há muitos anos eu não entrava no Comercial. Nos bons tempos, frequentei alguns bailes. A gente se sentia em um filme; hoje o salão lembra os escombros de uma guerra. Um pouco chocante para quem lembra de tardes e noites fervilhantes, dignas de comemorações – uma época se foi.

Amaral é um dos poucos com esperança de recuperar o prédio, mesmo que seja devagar e sempre.

Amaral, no salão que um dia foi de baile

Em algum momento, há mais de 20 anos, o Comercial começou a progredir até se tornar o que é hoje: um prédio fantasmal, habitado por morcegos, cupins e, talvez, alguns espectros. Entre as paredes centenárias, a gente ouve o silêncio.

“Se não der certo a restauração, a saída será vender”, diz Amaral.

Embora o clube esteja habilitado a captar recursos através da Lei de Incentivo à Cultura Estadual (LIC) e da Lei Rouanet, praticamente ninguém está disposto ou pode ajudar.

Pela LIC, o clube pode receber recursos de ICMS das empresas, na forma de incentivos fiscais; ao invés de recolher para os cofres do estado, empresas podem repassar recursos para projetos culturais, como é o caso do projeto de restauração do Comercial. A Rouanet é a mesma coisa, só que o imposto não é ICMS, mas o Imposto de Renda.

“Só a Embaixador (empresa de ônibus) ofereceu ajuda, financeira. O dinheiro ficou depositado numa conta, relacionado a um edital da Lei Rouanet. Mas, como ninguém mais colaborou, perdemos o edital por decurso de prazo. Fizemos um pouco de tudo, tentamos até convencer o Santander, a Caixa, a assumirem a restauração, dando a eles o direito, como recompensa, de utilizarem a parte de baixo para suas repartições, deixando a andar de cima para o clube, num comodato de 30 anos. Mas também não houve interesse”, conta Amaral.

Uma parte foi vendida

Tentando sair das cordas, a direção vendeu parte do prédio, o pedaço onde por muitos anos funcionou o cartório da Zumira. O negócio foi fechado por pouco mais de R$ 1 milhão, quantia que, segundo Amaral, está sendo aplicada inteira na recomposição do telhado – a obra foi orçada em R$ 850 mil e prevê uma camada de telhas de alumínio, descidas pluviais, calhas; por fim, ripas e o telhado final.

“Feito isso, pelo menos deixará de chover dentro do clube”.

Passo seguinte?

“Nós voltaremos em breve a ingressar em um novo edital na LIC e na Rouanet para capturar recursos. Com o telhado pronto, e com a liberação dos bombeiros, à medida que formos recuperando peças, vamos alugar aquelas que dão para a rua, como o antigo Pub, com entrada pela Félix da Cunha, e o restaurante, pela Anchieta, que estão relativamente bem conservados em relação às demais. Queremos alugar para o comércio, atividade que, afinal, deu origem ao nome do Clube, Comercial. A ideia é locar todas as peças, mesmo as hoje bloqueadas por parapeitos e janelas, voltando assim à planta original”. Segundo Amaral, no começo, o entorno do clube era um cinturão de lojas comerciais, com entrada pela rua. “Onde hoje são janelas eram as portas das lojas. O clube ocupava o miolo térreo e toda a parte de cima”.

Avançar aos poucos nos reparos

O objetivo, com os aluguéis, é obviamente gerar renda, uma soma corrente que permita, ainda que aos poucos, avançar nos reparos. Toda a restauração do prédio, menos o telhado, está orçada em R$ 12 milhões. Uma vez que a direção consiga restaurar o prédio, seu destino futuro seria se transformar num local para sediar eventos e funcionar como um ponto turístico, atraindo visitantes-consumidores.  

“Nossa maior dificuldade é a falta de quem nos ajude. Há resistência até para colaborações via incentivo fiscal, em que parte dos impostos pode ser redirecionada do Tesouro para projetos culturais. Os doadores não despenderiam um Real além do que já despenderiam com tributos; mesmo assim, a resistência permanece, até mesmo do comércio, origem da fundação do clube”.

Incentivo para captação 

Para tentar quebrar o gelo, a direção aprovou a possibilidade de que qualquer pessoa que atraia patrocinadores tenha direito, por esse esforço, a uma comissão. “A legislação exige a figura do produtor cultural, o captador. Temos o nosso. Mas, dentro da lei, buscando aumentar as chances de captação, quem conseguir patrocinador, mesmo não sendo produtor cultural, receberá 5% do valor captado, dividindo a comissão com aquele. Como os valores são altos, será um valor comissionado proporcional, o que deve aumentar o interesse”.

A maior parte do mobiliário se perdeu. “Muita coisa perdida, cadeiras e namoradeiras francesas, virou uma pilha no fundo no prédio”.

Algumas peças, como um piano alemão, seguiram para a Biblioteca Pública Pelotense, que possui uma verba para restaurá-los. Outras, especialmente obras de arte, como quadros de Aldo Locatelli e de Debret, e esculturas de Caringi, estão hoje sob a guarda do Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo (Malg), igualmente para serem restaurados. A Faculdade de Museologia, da UFPel, também está ajudando.

Misteriosamente, um aqui, outro ali, vários objetos de arte do clube desapareceram.

Apoios

Segundo Amaral, a direção do clube tem recebido o apoio de um trio de arquitetas, entre elas Helenice Couto. “Elas estão juntas conosco, trabalhando para salvar o prédio sem receber para isso, ao menos nesta fase. Fizeram todo o projeto, todos os levantamentos, e estão preparando uma apresentação em Power Point de tudo que for necessário para continuar o restauro, um material a ser apresentado a possíveis patrocinadores”.

“Apesar das dificuldades, esses apoios nos dão esperança de que vamos conseguir, finalmente, a ajuda de que tanto necessitamos”, acredita Amaral.

© Rubens Spanier Amador, jornalista

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Rubens Amador. Jornalista. Editor do Amigos de Pelotas. Ex funcionário do Senado Federal, MEC e Correio Braziliense. Pai do Vitor. Fã de livros, de cinema. E de Liberdade.

3 Comments

3 Comments

  1. João Monteiro

    25/02/20 at 02:10

    Lastimável! Quantos bailes de formatura frequentei no Clube. Mulheres bonitas, homens bem vestidos, muita alegria, paquera e glamour…

  2. José CS Vidal

    22/02/20 at 01:54

    . Os dirigentes do clube receberam dezenas de propostas de apoio, durante meses, e as recusaram todas.

    • Maria do Carmo L. Curi Hallal

      22/02/20 at 13:23

      Clube Comercial de Pelotas. Onde fui rainha do carnaval , debutante do ano e glamour . Cresci nos corredores do clube, lembro das festas , dos coquetéis, do salão verde, do piano, da sala de honra , da fonte , dos relógios e das obras! São muitas lembranças !

Cultura e entretenimento

UnaMúsica inicia temporada com show da Gafieira do Clube

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O projeto UnaMúsica inicia sua temporada 2024 com show da Gafieira do Clube nesta quinta-feira, dia 18, às 18h. A apresentação será ao ar livre, no Anfiteatro do Parque Una e coincide com a abertura da Semana Nacional do Choro em Pelotas.

O evento, que ocorrerá de 18 a 27 de abril, celebra o  10º aniversário do Clube do Choro de Pelotas e o reconhecimento pelo Iphan do Choro como Patrimônio Cultural do Brasil. Durante o período, diversas atividades acontecerão em diferentes locais da cidade.

UnaMúsica

O UnaMúsica surgiu em 2020 com a intenção de valorizar a produção musical local ao promover shows de diferentes estilos no Anfiteatro do Parque Una. Porém, devido à pandemia de Covid-19, o projeto foi reestruturado e, dos cinco shows selecionados para aquela temporada, quatro foram realizados de forma virtual. Em 2022, o plano original foi retomado e a última apresentação foi realizada presencialmente.

Tendo o espaço público do Parque Una como cenário, o projeto retorna em 2024, buscando  levar boa música aos moradores e visitantes do bairro.

Gafieira do Clube

O projeto Gafieira do Clube reúne instrumentistas participantes do Clube do Choro e foi concebido com base nas tradicionais bandas de gafieiras do Rio de Janeiro que se destacavam em casas noturnas renomadas, como as estudantinas, oferecendo um repertório especialmente elaborado para a dança, com arranjos de músicas populares e composições instrumentais.

Apresentando uma formação moderna que combina os instrumentos do choro com nuances jazzísticas, incluindo contrabaixo, bateria e instrumentos de sopro, a Gafieira do Clube surge com o propósito de proporcionar uma experiência musical instrumental mais vibrante e envolvente, mesclando os ritmos do choro, maxixe, samba e outros, para o deleite dos apreciadores da música brasileira.

Participam do projeto: Rafael Velloso (sax), Rui Madruga (violão 7 cordas), Fabrício Moura (violão de 6 cordas/cavaquinho), Pedro Nogueira (cavaquinho solo), Paulinho Martins (bandolim), Gil Soares (flauta), Paulo Lima(contrabaixo) e Everton Maciel (percussão).

O QUÊ: Projeto UnaMùsica 2024 – Show Gafieira do Clube

QUANDO: Dia 18 de abril, às 18 horas

ONDE: Anfiteatro do Parque Una

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Cultura e entretenimento

Livro desconcertante esse: Por que nós morremos

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Pelo que diz, a cada geração nossos corpos são simplesmente barcos para facilitar a propagação de nossos genes, e eles se tornam dispensáveis tão logo cumprem sua missão. A morte de um animal ou pessoa seria apenas a morte desse barco.

Seríamos apenas cascos dos nossos genes. Máquinas de sobrevivência dos genes. Nosso cérebro seria um gerente de filial encarregado de tomar decisões delegadas pelos genes. Trocar uma lâmpada da vitrine, organizar a equipe de vendedores, trocar mercadorias com defeito.

Sendo assim, toda a nossa vida seriam truques dos genes pra sobrevivermos, nos colocarmos no grupo social pra sobreviver, e procriar e passar os genes adiante. Só isso. 🤪

Será?

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