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Brasil e mundo

Os ‘parasitas’ como protagonistas

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Augusto Bernardo Cecílio*

Realmente o mundo dá muitas voltas. Quem diria? Hoje, na linha de frente do enfrentamento ao coronavírus, não vemos engravatados, banqueiros, nem o pessoal do chamado mercado financeiro. Não vemos nenhum daqueles que tentaram jogar na lama a imagem daqueles que trabalham para servir ao público, aí incluído parcela da mídia e seus espaços generosos pra divulgar matérias e reportagens contra os servidores e até contra os serviços públicos.

Augusto Bernardo Cecílio

Na linha de frente estão os servidores públicos das mais diferentes áreas, especialmente os da saúde, que arriscam as suas vidas e a dos seus familiares para salvar vidas, além dos que estão na retaguarda, trabalhando para manter a máquina pública funcionando.

Que ironia! Os que foram recentemente chamados de “parasitas” são a nossa esperança. Antes fomos acusados de tudo, éramos um peso pra sociedade, um estorvo, um grupo que trabalhava pouco, um bando de preguiçosos que ganhava muito e que consumia os recursos que deveriam ir, imagino, para o pagamento dos juros absurdos da dívida pública e para os financiadores e defensores do chamado neoliberalismo e do Estado mínimo.

Como disse Paulo Planet Buarque em artigo publicado, “De repente, não mais que de repente, todos os problemas brasileiros – seu eterno “déficit” público, a corrupção, a sonegação fiscal, a injusta distribuição de renda, a incompetência administrativa, tudo – passaram a ter no servidor público a sua causa principal, senão única”.

“Toda a mídia concentrou no serviço público a razão maior dos males nacionais, sendo as reformas administrativa e previdenciária absolutamente imperiosas: eis que, a partir da aprovação das mesmas, por fim os governos passarão a ter os recursos indispensáveis para o investimento e o desenvolvimento”.

Bem antes do episódio dos parasitas, fomos bombardeados por reformas e pela possibilidade de redução de salários, pelo possível esvaziamento dos serviços públicos, além de discursos difamatórios, que jogaram a sociedade contra nós. A mesma sociedade que hoje luta contra a falta de leitos, de respiradores, máscaras, álcool, testes rápidos e de materiais de proteção para os profissionais da saúde.

Antes mesmo das eleições presidenciais chegaram até a classificar como “jabuticabas brasileiras” o direito ao décimo terceiro salário e abono de férias. E outros insistem em defender padrões existentes em outros países, inclusive os EUA, que não oferece saúde pública à população, e onde um simples teste do coronavírus custa o equivalente a R$ 5 mil reais.

Diante das mortes e das infecções, temos mais uma certeza: a necessidade urgente de se valorizar o Sistema Único de Saúde (SUS) e os serviços públicos. Como disse Hélcio Marcelino, do SindSaúde-SP, mesmo sucateado, tendo perdido mais de R$ 20 bilhões para o pagamento de juros só no ano passado, o SUS ainda consegue oferecer tratamento para a população.

 “Se não fosse o SUS e seus trabalhadores, a situação seria muito pior no Brasil. Muito pior que a da Itália e da Espanha, onde a gente vê as pessoas sendo internadas em casa, e os médicos sendo obrigados a escolher quem vai viver e quem vai morrer para colocar no respirador”.

É neste momento que a sociedade verá a importância dos servidores, verdadeiros protagonistas nessa luta, heróis anônimos que se arriscam, enquanto os nossos algozes estão refugiados nas suas mansões, acovardados, e talvez arrependidos.

Auditor fiscal e professor.

1 Comment

1 Comments

  1. Marcelo Koch

    14/04/20 at 01:48

    Parabéns!
    E vem um projeto de “governo” extingüindo a estabilidade, exceto para poucos casos. A estabilidade foi criada para proteger a população. Não é um privilégio. Existe para o servidor ter autonomia de decidir em favor do interesse público, sem medo de ser demitido, mesmo que desagrade o “governante” .

    Vai ser o seguinte: se a linha ideológica do servidor não combinar com o governo, será pressionado e sabotado , para que seu desempenho seja prejudicado até atirar a toalha ou ser demitido. E assim se repetirá, até que o “governo” encontre alguém que aceite o cabresto.

    Imaginem um servidor que detecta um lote milionário de medicamento falsificado. De uma empresa que doou pra campanha do governo. Pelo projeto do “governo”, esta categoria de servidor não estará amparada pela estabilidade. Imaginem ele denunciando, sem a proteção da estabilidade…

    É óbvio que é necessário mudar coisas e corrigir distorções no funcionalismo. Mas quando o projeto federal ataca a estabilidade, o que veremos será o mais amplo e profundo “aparelhamento” ideológico do Estado, jamais visto. Ficam os puxa-saco e vão-se os que têm coragem de defender o dinheiro do povo.

    O que se vê por trás disso é um projeto de perpetuação no poder.

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UFPel entregou título de Dr. Honoris Causa a Mujica

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Discretamente, na sexta passada, a direção da UFPel viajou ao Uruguai para entregar a Pepe Mujica o título de Doutor Honoris Causa. A notícia foi divulgada ontem, terça, no site da Universidade.

Algumas frase dos dirigentes universitários presentes à homenagem, às vezes em tom juvenil:

“Pepe é um grande exemplo de pessoa que consegue lutar por direitos humanos, justiça social e democracia. Resistiu bravamente aos movimentos da ditadura e, como um jardineiro, sempre plantou a esperança, a luta e a vontade dessa luta em cada companheiro. Ele planta hoje a esperança para os nossos jovens”.

“Muito obrigada por ser quem é, muito obrigada por nos inspirar a defender a educação como uma forma mais poderosa de semear o futuro”.

“A visão humanista de Mujica ressoa profundamente com os ideais que nós da Universidade Federal aspiramos cultivar, nossa instituição sempre se pautou na crença de que a educação é a base para uma sociedade mais justa e igualitária, as bandeiras defendidas por Mujica colocam o bem-estar humano e a preservação do planeta acima do materialismo e do consumo desmedido e enlouquecedor, inspiram nossos esforços e reafirmam o nosso compromisso com a busca por dias melhores”.

***

Cmt meu: Mujica é de fato um homem incomum. Coerente. Vive modestamente, de acordo com suas ideias. Há nele uma ausência de vaidades materiais que chega a ser comovente. Se morasse em Pelotas, e fosse professor de Universidade, jamais o veríamos, por exemplo, no Dunas Clube, à beira da piscina, tomando cerveja depois de disputar uma partida de tênis – em greve por salário ainda mais alto do que os que já receberia (R$ 20 mil, digamos), pensando em justiça social num país de esmagadora maioria pobre, com ganhos mensais médios de R$ 3 mil.

***

Na cerimônia, Mujica disse: “Sigo confiando em los hombres, a pesar que todos los dias me deconcertan”.

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Comentário em vídeo: Liberdade de expressão

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