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Opinião

Covid-19: Estudo coordenado pela UFPel não deve ser interpretado como incentivo ao fim do isolamento

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Abaixo, uma síntese do estudo, que está na primeira de quatro fases.

EPICOVID19 divulga resultados da primeira fase

O EPICOVID19 é um projeto de pesquisa coordenado pela Universidade Federal de Pelotas e pelo Governo do Estado Rio Grande do Sul. A própria estrutura do projeto, num modelo tripartite de parceria, deve ser destacada. Os três pilares são a ACADEMIA, representada pelas universidades, o PODER PÚBLICO, representado pelo governo estadual e pelo governo federal, e a SOCIEDADE CIVIL, representada pelos três financiadores do projeto:  Serrapilheira (https://serrapilheira.org/), Unimed Porto Alegre (https://www.unimedpoa.com.br/) e Instituto Cultural Floresta (https://www.institutoculturalfloresta.org.br/).

O logotipo do projeto remete ao conceito de um ICEBERG. Existe uma parte visível, representada pelas estatísticas oficiais, amplamente divulgadas até o presente momento, e uma parte submersa, que precisa ser conhecida para que sejam tomadas as melhores decisões para o enfrentamento da pandemia. A pesquisa foi desenhada para enxergar o iceberg como um todo, muito além da sua parte visível.

Os objetivos centrais da pesquisa são: (1) Estimar o percentual de gaúchos com anticorpos para o vírus SARS-CoV-2; (2) Avaliar a velocidade de expansão da infecção ao longo do tempo; (3) Determinar o percentual de infecções assintomáticas ou subclínicas; (4) Fornecer indicadores precisos para cálculos da letalidade.

Quatro etapas

O estudo no Rio Grande do Sul é dividido em quatro fases. Em cada fase serão entrevistados e testados cerca de 4500 participantes, em nove cidades sentinelas, representando todas as regiões do Estado. As datas de cada fase são: fase 1 (11-13 de abril de 2020), fase 2 (25-27 de abril de 2020), fase 3 (09-11 de maio de 2020) e fase 4 (23-25 de maio de 2020). Os dados aqui apresentados referem-se a primeira fase, cuja coleta de dados foi encerrada menos de 48 horas atrás.

População

O Rio Grande do Sul tem uma população de 11,3 milhões de habitantes. As nove cidades sentinela do estudo representam 31% da população do Estado. As cidades estudadas são Porto Alegre, Canoas, Pelotas, Caxias do Sul, Santa Cruz do Sul, Santa Maria, Passo Fundo, Ijuí e Uruguaiana.

Primeira fase

Nessa primeira fase do estudo foram realizadas 4189 entrevistas e testes (93% do previsto). Importante destacar que o teste utilizado foi o WONDFO SARS-CoV-2 Antibody Test. Esse teste já foi submetido a três estudos de validação. O primeiro, conduzido pelo próprio fabricante com mais de 500 pessoas, encontrou uma sensibilidade (probabilidade de um teste positivo entre os sabidamente doentes) de 86% e uma especificidade (probabilidade de um teste negativo entre os sabidamente não doentes) de 99%. O segundo estudo, realizado com 95 pessoas, pelo INCQS no Brasil, encontrou sensibilidade de 100% e especificidade de 99%. O estudo que conduzimos no Rio Grande do Sul, com 195 pessoas, encontrou sensibilidade de 78% e especificidade de 100%.

Número de testes

Dos 4189 testes que realizamos, dois (0,05%) tiveram resultado positivo. Esse número sugere que existe uma pessoa com anticorpos para cada 2000 pessoas no Estado, e a estimativa de casos no Rio Grande do Sul é de 5650 pessoas. No entanto, é sempre prudente lembrar que, embora a margem de erro geral da pesquisa seja baixa (0,5 pontos percentuais), prevalências pequenas, como a observada nessa primeira fase do estudo, devem ser interpretadas com cautela.

Os dados do Rio Grande do Sul nesse estágio da pandemia são similares aos coletados em outros países. Estudo populacional realizado na Áustria (primeiro caso relatado no dia 25 de fevereiro) encontrou uma prevalência de 0,33%, num estudo cuja coleta de dados ocorreu de 01 a 06 de abril. Estudo realizado na Islândia, cujo primeiro caso foi confirmado no dia 28/02, encontrou prevalência de 0,8%. Na Coréia do Sul, com dados de voluntários coletados até o dia de ontem, 2,1% dos testados tiveram resultado positivo. No vilarejo de Vo na Itália, 3% dos testados tiveram resultado positivo. A prevalência mais alta relatada na literatura (14%) foi encontrada na cidade de Gangelt na Alemanha, um dos epicentros da pandemia no país. 

Casos

Em resumo, para cada 1 milhão de habitantes no Rio Grande do Sul, estima-se que existam 500 casos reais de COVID-19, apenas 65 casos notificados e 1,2 mortes. Analisando-se especificamente as nove cidades utilizadas na pesquisa, para cada caso notificado, existem ao redor de quatro casos não notificados.

Distanciamento social

Em relação ao distanciamento social, 20,6% dos respondentes relataram que seguem saindo de casa diariamente, 58,3% relataram sair apenas para atividades essenciais (ir ao supermercado, farmácia, etc) e 21,1% relataram ficar em casa o tempo todo. As mulheres (26,0%) apresentaram maior percentual de ficarem em casa o tempo todo em comparação aos homens (14,3%). Entre os idosos de 60 anos ou mais, 35,9% relataram ficar em casa o tempo todo.

Principais conclusões

As principais conclusões dessa primeira fase são: (1) a pesquisa começou na hora certa, quando a pandemia está em estágios muito iniciais no Estado, de forma que esse primeiro resultado servirá de linha de base para comparações futuras; (2) a tendência é que os números aumentem nas próximas fases, mas a velocidade desse aumento depende das medidas de distanciamento social a serem implementadas. Com base nas melhores evidências científicas disponíveis, é recomendado que as medidas de distanciamento social vigentes no Estado devem ser mantidas.

Em breve, a coordenação da pesquisa divulgará uma análise mais detalhada da primeira fase da pesquisa, com uma descrição da amostra e mais características sobre distanciamento social e sintomas relatados pelos entrevistados.

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Cultura e entretenimento

Napoleão, o filme, é belo de ver, mas tem montagem confusa. Por Déborah Schmidt

Com duas horas e meia, já foi anunciado um corte do diretor com 4 horas de duração que será exibido no streaming, o que explica os cortes na edição

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Napoleão passa por diferentes décadas da vida de Napoleão Bonaparte (Joaquin Phoenix), na turbulenta França após o fim da monarquia. Sua rápida e implacável ascensão a imperador é vista através de seu conturbado relacionamento com Josephine (Vanessa Kirby), sua esposa e verdadeiro amor.

Vindo do nada como um oficial de artilharia do exército francês durante a Revolução Francesa, o filme retrata sua jornada, até ser derrotado e exilado na ilha de Santa Helena. O longa retrata diversos momentos históricos, como a decapitação de Maria Antonieta até a invasão do Egito, quando permitiu que seus exércitos utilizassem as pirâmides de Giza como alvo para treino de pontaria.

Dirigido por Ridley Scott, responsável por produções inesquecíveis ao longo de quase 50 anos de carreira como Alien – O 8° Passageiro (1979), Blade Runner: O Caçador de Androides (1982), um dos meus filmes favoritos, Thelma & Louise (1991), Gladiador (2000), O Gângster (2007), Perdido em Marte (2015), O Último Duelo (2021) e muitos outros. O diretor constrói épicos como poucos, com grandiosas e impressionantes cenas de batalha. Em Napoleão, a ascensão e queda de Bonaparte nos altos escalões do governo francês é intercalada por importantes conflitos como o cerco de Toulon, as invasões à Rússia e a investida contra os ingleses em Waterloo.

O roteiro de David Scarpa traz um protagonista nostálgico, constantemente avaliador da própria vida, narrador de cartas sentimentais e dependente emocionalmente da esposa. Tecnicamente excelente, a fotografia de Dariusz Wolski aposta em sequências que enfatizam paisagens belíssimas e no vermelho-sangue das batalhas. Porém, o filme dilui as competentes cenas de ação em uma montagem confusa, que apresenta a vida de Napoleão de forma apressada e sem o devido contexto.

Com duas horas e meia, já foi anunciado um corte do diretor com 4 horas de duração que será exibido no streaming, o que explica os cortes na edição. Aliás, a trama foi bastante criticada no que diz respeito aos dados históricos retratados no filme, no entanto, a precisão histórica não pareceu uma preocupação para Ridley Scott. Prefiro deixar essa questão para os historiadores, meu assunto aqui é apenas o cinema.

Entre glória e fracasso, Joaquin Phoenix apresenta um homem falho e humano, que, entre estratégias brilhantes contra britânicos e russos, encontrou na esposa o relacionamento que assombrou sua vida. Afinal, o fato de Josephine não conseguir lhe dar um filho, um símbolo da continuidade de um império, desempenhou um papel fundamental na relação entre os dois. A química entre Phoenix e Vanessa Kirby é perfeita, com a atriz roubando a cena e sendo um dos grandes destaques da produção.

“França, exército e Josephine”, foram as últimas palavras proferidas por Napoleão Bonaparte antes de morrer. Possivelmente, as únicas três coisas que amou na vida. O filme faz questão de trazer essa passagem ao término de Napoleão, resumindo a produção nessas três palavras.

Em cartaz, Napoleão retrata o líder e estrategista militar com um olhar nostálgico e humanizado e, portanto, com falhas. Um épico que merece ser visto, preferencialmente, no cinema.

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Opinião

Decisão surpreendente a da prefeita!

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Foi surpreendente, e até chocante, ver a prefeita Paula Mascarenhas tentando na prática dar um terreno valioso do Município para a Associação Rural. Ela quer dar de mão beijada uma área da prefeitura do tamanho de 25 campos de futebol profissional (25 hectares), para que seja comercializada. Quer ceder a terceiros uma gleba pública, e daquelas dimensões, como se fosse propriedade sua.

O juiz Bento Barros não concordou com a transação. Mandou parar tudo e, em seu despacho, ainda mandou uns recados indiretos à prefeita. Mencionou a crise financeira da prefeitura e relembrou a ela da possibilidade legal de que venda (por licitação) o terreno que a Rural pretende comercializar, o que, no caso em questão, seria o lógico e esperado de um gestor atento ao interesse público.

A área toda da Rural foi doada pelo Município à Associação em 1959. Mas a lei de doação contém uma cláusula de salvaguarda.

O juiz Bento explica:

“A legislação estabelece que a sociedade beneficiária (Associação Rural) não poderia alienar o imóvel ou parte dele em nenhum momento, sob pena de caducidade da doação e retorno do imóvel, juntamente com todas as benfeitorias existentes, ao patrimônio do Município de Pelotas. Portanto, até o momento, o direito de dispor e reaver o imóvel é do Município de Pelotas, integrando o seu patrimônio.”

O terreno, em valor estimado ao redor de R$ 100 milhões, teria por finalidade um vultoso empreendimento imobiliário na Rural — não um fim social, como o originalmente previsto na cessão da área. Trata-se de um negócio que, se consumado, seria típico do Brasil, possível graças à mão caridosa e amiga do Estado. Pior é que o projeto de lei do Executivo autorizando a transação já tinha passado numa comissão da Câmara. Vereadores, que no papel são fiscais do interesse público, estão apoiando.

SABE LÁ DO QUE SE TRATA ISSO?

Há milhões de motivos para preocupações.

Ainda falta muito para o Brasil ser uns Estados Unidos, onde o empreendedorismo é tão admirado pelos nossos liberais. Se é que seria possível uma empreitada semelhante.

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