“Meu cérebro quer me destruir”, diz o menino Calvin depois de uma aventura impulsiva, numa das melhores histórias em quadrinhos desse personagem divertido. É verdade que o cérebro “gosta” de emoções, tanto que nossa memória só retém os fatos bons ou ruins, nunca os “neutros”, só lembramos do que nos causou prazer ou dor.
Seu cérebro adora emoções, mas o sistema imunológico detesta, tanto que estresse ou depressão inibem nossas defesas, então não é só nossa mente que é contraditória, nosso próprio organismo “não se entende”, umas partes querem uma coisa, outras querem outra.
Sabe porque as mídias estão cheias de notícias escandalosas, tristes ou revoltantes, negativas? Porque dá Ibope, sem audiência elas fecham. A culpa não é da mídia, é do nosso cérebro mesmo, tanto que as pessoas que protestam contra a mídia o fazem com a mesma negatividade que acusam a mídia de ter. Você já viu alguma crítica afetiva ou bem humorada? Bem raro, né? Tente montar um “jornal das boas notícias”, vai ser difícil conseguir audiência.
Raiva, medo, alegria, tristeza, excitação, tudo isso é motivador para o cérebro humano prestar atenção em algo, seja nos filmes ou na vida real. Enquanto seu sistema imunológico só quer paz para trabalhar, pois sob intensas emoções o trabalho dele pode ser prejudicado, já está provado que estresse e depressão afetam as nossas defesas. O sistema cardiovascular é outro que, apesar de se beneficiar com exercícios físicos – quando o sangue circula mais rápido e o corpo gasta energia – pode se prejudicar com estresse ou depressão, que são como “lutas internas” do corpo.
Você acha o mundo um lugar cheio de conflitos? Bem-vindo ao seu organismo, seu próprio corpo é assim, parece ser da nossa natureza o contraditório. O desafio da sabedoria, então, é aprender a lidar com isso da melhor forma, conhecendo a nossa natureza, usá-la a nosso favor. Nosso cérebro pode ser “condicionado” a se comportar dentro de certos limites, como reza a sabedoria, para não afetar nosso equilíbrio corporal.
Uma estratégia antiga era o “jogo do contente” baseado numa história da personagem Poliana, que consistia em procurar “o lado bom” das coisas ruins, por piores que fossem. Essa estratégia ainda funciona parcialmente, dá pra ver pelo número de mensagens de whatsapp dizendo que “sairemos melhor” da crise do coronavírus. Mas para “funcionar” o jogo do contente você tem de acreditar nisso – e nem sempre parecem muito verdadeiras essas interpretações benignas, que parecem “forçar a barra” muitas vezes, algo utópico, irreal, fantasioso. Outra tese antiga, mas mais realista, é que toda frustração é uma experiência, o que faz muitas pessoas dizerem que já tem “experiência demais”, só querem ser felizes. O verdadeiro sentido não é ter experiências, mas aprender com elas. Só a experiência, afinal, pode “educar” o cérebro e seus impulsos primitivos.
Napoleão passa por diferentes décadas da vida de Napoleão Bonaparte (Joaquin Phoenix), na turbulenta França após o fim da monarquia. Sua rápida e implacável ascensão a imperador é vista através de seu conturbado relacionamento com Josephine (Vanessa Kirby), sua esposa e verdadeiro amor.
Vindo do nada como um oficial de artilharia do exército francês durante a Revolução Francesa, o filme retrata sua jornada, até ser derrotado e exilado na ilha de Santa Helena. O longa retrata diversos momentos históricos, como a decapitação de Maria Antonieta até a invasão do Egito, quando permitiu que seus exércitos utilizassem as pirâmides de Giza como alvo para treino de pontaria.
Dirigido por Ridley Scott, responsável por produções inesquecíveis ao longo de quase 50 anos de carreira como Alien – O 8° Passageiro (1979), Blade Runner: O Caçador de Androides (1982), um dos meus filmes favoritos, Thelma & Louise (1991), Gladiador (2000), O Gângster (2007), Perdido em Marte (2015), O Último Duelo (2021) e muitos outros. O diretor constrói épicos como poucos, com grandiosas e impressionantes cenas de batalha. Em Napoleão, a ascensão e queda de Bonaparte nos altos escalões do governo francês é intercalada por importantes conflitos como o cerco de Toulon, as invasões à Rússia e a investida contra os ingleses em Waterloo.
O roteiro de David Scarpa traz um protagonista nostálgico, constantemente avaliador da própria vida, narrador de cartas sentimentais e dependente emocionalmente da esposa. Tecnicamente excelente, a fotografia de Dariusz Wolski aposta em sequências que enfatizam paisagens belíssimas e no vermelho-sangue das batalhas. Porém, o filme dilui as competentes cenas de ação em uma montagem confusa, que apresenta a vida de Napoleão de forma apressada e sem o devido contexto.
Com duas horas e meia, já foi anunciado um corte do diretor com 4 horas de duração que será exibido no streaming, o que explica os cortes na edição. Aliás, a trama foi bastante criticada no que diz respeito aos dados históricos retratados no filme, no entanto, a precisão histórica não pareceu uma preocupação para Ridley Scott. Prefiro deixar essa questão para os historiadores, meu assunto aqui é apenas o cinema.
Entre glória e fracasso, Joaquin Phoenix apresenta um homem falho e humano, que, entre estratégias brilhantes contra britânicos e russos, encontrou na esposa o relacionamento que assombrou sua vida. Afinal, o fato de Josephine não conseguir lhe dar um filho, um símbolo da continuidade de um império, desempenhou um papel fundamental na relação entre os dois. A química entre Phoenix e Vanessa Kirby é perfeita, com a atriz roubando a cena e sendo um dos grandes destaques da produção.
“França, exército e Josephine”, foram as últimas palavras proferidas por Napoleão Bonaparte antes de morrer. Possivelmente, as únicas três coisas que amou na vida. O filme faz questão de trazer essa passagem ao término de Napoleão, resumindo a produção nessas três palavras.
Em cartaz, Napoleão retrata o líder e estrategista militar com um olhar nostálgico e humanizado e, portanto, com falhas. Um épico que merece ser visto, preferencialmente, no cinema.
Foi surpreendente, e até chocante, ver a prefeita Paula Mascarenhas tentando na prática dar um terreno valioso do Município para a Associação Rural. Ela quer dar de mão beijada uma área da prefeitura do tamanho de 25 campos de futebol profissional (25 hectares), para que seja comercializada. Quer ceder a terceiros uma gleba pública, e daquelas dimensões, como se fosse propriedade sua.
O juiz Bento Barros não concordou com a transação. Mandou parar tudo e, em seu despacho, ainda mandou uns recados indiretos à prefeita. Mencionou a crise financeira da prefeitura e relembrou a ela da possibilidade legal de que venda (por licitação) o terreno que a Rural pretende comercializar, o que, no caso em questão, seria o lógico e esperado de um gestor atento ao interesse público.
A área toda da Rural foi doada pelo Município à Associação em 1959. Mas a lei de doação contém uma cláusula de salvaguarda.
O juiz Bento explica:
“A legislação estabelece que a sociedade beneficiária (Associação Rural) não poderia alienar o imóvel ou parte dele em nenhum momento, sob pena de caducidade da doação e retorno do imóvel, juntamente com todas as benfeitorias existentes, ao patrimônio do Município de Pelotas. Portanto, até o momento, o direito de dispor e reaver o imóvel é do Município de Pelotas, integrando o seu patrimônio.”
O terreno, em valor estimado ao redor de R$ 100 milhões, teria por finalidade um vultoso empreendimento imobiliário na Rural — não um fim social, como o originalmente previsto na cessão da área. Trata-se de um negócio que, se consumado, seria típico do Brasil, possível graças à mão caridosa e amiga do Estado. Pior é que o projeto de lei do Executivo autorizando a transação já tinha passado numa comissão da Câmara. Vereadores, que no papel são fiscais do interesse público, estão apoiando.
SABE LÁ DO QUE SE TRATA ISSO?
Há milhões de motivos para preocupações.
Ainda falta muito para o Brasil ser uns Estados Unidos, onde o empreendedorismo é tão admirado pelos nossos liberais. Se é que seria possível uma empreitada semelhante.