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Opinião

Covid em Pelotas: talvez seja hora de maior transparência

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A luta com a covid-19 não chegou à metade e estamos todos cansados. O massacre físico pode ser medido; o psicológico, não. Infelizmente, era mais complicado do que um resfriadinho.

Mais de 40 mil mortos até agora. E ainda teremos meses de luta pela frente, além da incerteza quanto ao futuro econômico.

Pelotas registrou 147 contaminados até aqui. Não é muito. Com a interiorização do vírus, porém, a tendência é de que o número de positivos aumente bastante. Mais de 80% dos municípios brasileiros registram casos. Em dois dias seguidos, Pelotas detectou números diários de contaminados superiores ao que vinha verificando.

Na véspera do feriado, 16 novos infectados, um recorde em 24 horas, entraram nos registros. No feriado, outros oito. Assim como na quarta-feira, outra vez a maioria dos contaminados é jovem e de meia-idade, pessoas do mercado de trabalho, não idosos, não aposentados. É possível deduzir isso porque o governo, além de informar o gênero e se a pessoa é sintomática ou não, divulga as idades.

O governo, contudo, não divulga dados como as profissões dos pacientes, se pegam ônibus, seus hábitos. Talvez trabalhe com essas informações no enfrentamento da epidemia. Se o faz, não é possível saber.

A prefeitura alega proteção à privacidade dos pacientes para não os informar. Questionei-a sobre isso. A resposta foi: “O pessoal da Vigilância é muito cuidadoso com a preservação das identidades. Consideram que não devemos publicizar esses detalhes”.

Até certo ponto é compreensível. De fato, não é necessário identificar pacientes. Mas saber qual a profissão deles, seus hábitos ao circular, permitiria à população saber, por exemplo, se há concentração do contágio em algumas atividades profissionais ou não, até mesmo em alguns locais, viajariam de ônibus? Permitiria também saber se o governo vem levando essas informações em conta no combate à doença.

Os contaminados são profissionais de Saúde? Trabalham no comércio? Na indústria? São motoboys de delivery? Locomovem-se em coletivos? São dados igualmente importantes, até mais do que idade, gênero e se apresentam sintomas.

Os indicadores científicos da UFPel, que conduz uma pesquisa estadual e outra nacional, demonstram que a taxa de letalidade no Rio Grande do Sul é de 0,5%. Ou seja, a cada 200 contaminados, um morre. Com 147 casos até aqui, súbita progressão e estimativa de que a cada caso há outros seis não notificados, a situação em Pelotas se torna inquietante.

Em parte, o aumento do número de casos decorre da maior testagem, mas talvez haja outros motivos.

A Secretaria de Saúde testou menos de 5% da população, pouco ainda. Como os laboratórios particulares só reportam casos positivos, não se tem ideia do volume de pessoas que se submeteram a testes nesses laboratórios.

A população não tem tido acesso a várias informações, restando-nos confiar no poder público.

Talvez fosse hora de transparência maior.

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Jornalista. Editor do Amigos. Ex-funcionário do Senado Federal, do Ministério da Educação e do jornal Correio Braziliense. Prêmio Esso Regional Sul de Jornalismo. Top Blog. Autor do livro Drops de Menta. Fã de livros e filmes.

2 Comments

2 Comments

  1. Reny

    13/06/20 at 02:05

    Não estão tendo total controle sobre infectados em Pelotas, minha filha apresentou sintomas e o 136 mandou ficar em casa isolada e ligar para o 192 se apresentasse falta de ar…sem teste, simplesmente torcer para que não seja ou torcer para que não agrave os sintomas… difícil enfrentar tudo isso, sem termos o amparo necessário…tenho 70 anos, uma neta com 5 anos e a filha com 42, com sintomas, tentando mantermos isoladas, com todos os cuidados possíveis, o emocional diante desta situação está complicado…entendo que é muita gente, que nem todos cooperam com os cuidados mas me sinto desamparada, sem saber o que será de todos nós!!!

  2. Luis Henrique Dias

    12/06/20 at 20:13

    Concordo. Realmente não é hora de omitir informações de VITAL relevância como as levantadas neste texto. Que possam os agentes políticos da nossa cidade de fato inovarem, e pensar nas vidas humanas, especialmente a dos mais pobres, primeiro!

Cultura e entretenimento

Anatomia de uma queda, o vencedor da Palma de Ouro. Por Déborah Schmidt

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 Samuel (Samuel Theis) é encontrado morto na neve do lado de fora do chalé isolado onde morava com sua esposa Sandra (Sandra Hüller), uma escritora alemã, e seu filho Daniel (Milo Machado Graner), de 11 anos, com deficiência visual. A investigação conclui se tratar de uma “morte suspeita”, pois é impossível saber ao certo se ele tirou a própria vida ou se foi assassinado. Sandra é indiciada e acompanhamos seu julgamento que expõe o relacionamento do casal. Entre o julgamento e a vida familiar, as dúvidas pesam sobre a relação da mãe com seu filho.

Com um começo instigante, Anatomia de uma Queda coloca dúvidas na cabeça do espectador: Samuel caiu acidentalmente do chalé ou cometeu suicídio? Ou será que foi empurrado por Sandra? Ao longo de 2h e meia, o filme desenvolve sua narrativa sem pressa e de forma complexa, focada nos diálogos. A primeira parte explora a investigação e a reconstituição da morte de Samuel, enquanto que na segunda temos o julgamento, com Sandra suspeita e acusada do assassinato do marido, tendo que provar sua inocência com ajuda de Maître Vincent Renzi (Swann Arlaud).

A diretora Justine Triet acerta em cheio ao trabalhar com diferentes versões, sem nunca apresentar uma verdade definitiva e nem respostas prontas. O roteiro de Triet e Arthur Harari, seu marido na vida real, foi uma colaboração perfeita ao explorar a intimidade do casal e a relação, muitas vezes abusiva, entre eles.

Em uma das grandes atuações do ano, Sandra Hüller tem uma performance poderosa. Falando em inglês, com dificuldade em francês e sem poder falar em sua língua materna, ela passa por todas as nuances de sua personagem e, ao lado do jovem Milo Machado Graner, conferem à narrativa uma profundidade impressionante.

Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes e forte candidato ao Oscar, Anatomia de uma Queda é um angustiante estudo de personagens que desvenda as complexidades das relações humanas.

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Opinião

Sistema público está anárquico

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O sistema público brasileiro está anárquico. Exemplos próximos confirmam isso. No último dia de outubro passado, a prefeita Paula Mascarenhas avisou, na véspera do pagamento dos salários aos servidores, que iria atrasá-lo, por falta de recursos em caixa. Ela pretendia pagar o salário de outubro a 28% dos funcionários em dois momentos: no final de novembro a uma parte deles e, no final de dezembro, à outra parte.

A justiça reagiu com liminar, determinando o pagamento em 72 horas e a prefeita acabou pagando, usando para isso – como socorro – dinheiro do Sanep e do fundo previdenciário dos servidores, o Prevpel, e agora conta com o pagamento de IPTU para saldar os salários de novembro, dezembro e 13º. Por lei ela precisa fechar o ano tendo devolvido o que pegou do Sanep e do Prevpel, outra dificuldade.

Além disso, só neste novembro a prefeita foi revelar que fechará o exercício de 2023 com um déficit no ano de R$ 110 milhões, um déficit acumulado desde o começo do ano, mas que estranhamente ficou oculto, sem que um Plano de Contingência tivesse sido elaborado lá atrás para enfrentar a crise.

Mais: a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), enviada há pouco pelo Executivo para votação na Câmara, prevê um déficit de R$ 282 milhões no orçamento de 2024 do município, quase o triplo do verificado neste ano.

A prefeitura está quebrada.

Já Eduardo Leite, governador do RS, disse nesta semana que pretende aumentar o ICMS de 17% para 19,5%, uma paulada no custo de vida, já que a elevação do imposto resulta no aumento dos preços das mercadorias. Foi uma desagradável surpresa, já que, na campanha eleitoral, Leite avisou: “Pode confiar, não aumentaremos impostos”.

Por sua vez, ontem, o deputado federal Daniel Trzeciak anunciou que obteve meio milhão em emendas para custear uma festa de Reveillón no Laranjal. A legislação não permite redirecionar verbas carimbadas de um setor para atender prioridades em outro setor, uma situação, porém, que leva a pensar, pelo quadro relatado, que precisaria ser repensada.

Ainda assim, creio que é questionável a destinação daquela alta quantia para o fim que terá: pagar um show da banda de pagode carioca Revelação e a estrutura de apoio à festa. R$ 500 mil que, em grande parte nem ficará em Pelotas, será levado pela banda carioca.

Entre outras possibilidades, poderiam ter decidido gastar aquele meio milhão para promover, por exemplo, mais de um festival anual de teatro escolar, com prêmios, envolvendo alunos e professores. Seria algo bom para as escolas. Quantos talentos não poderiam surgir? Mesmo que não surgissem, os festivais integrariam a comunidade, os alunos, seus pais, as famílias, como ocorre com o Jepel, os jogos esportivos municipais, que aglutinam a comunidade e são um aprendizado para os estudantes, que ganham, perdem, vivem emoções.

Com aquela verba, seria possível fimanciar alguns festivais anuais de teatro ou de música, algo verdadeiramente útil, em vez torrar aquele dinheiro num show de duas horas, meio milhão literalmente posto fora, sem trazer ganhos culturais duradouros à sociedade.

Os fatos reunidos neste artigo mostram que, além de um descontrole financeiro nas contas públicas, está faltando planejamento e foco nas prioridades. Será que as pessoas estão mesmo interessadas em festa de Reveillón? Não estarão com a cabeça em outro lugar, em outras prioridades? As pessoas devem ficar baratinadas com a falta de coordenação dos nossos representantes.

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