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Opinião

A interiorização do vírus

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Tenho evitado, mas hoje à tarde precisei sair. As ruas centrais me pareceram ainda mais vazias.

A progressão do número de casos e as primeiras mortes certamente tiveram impacto na movimentação da cidade. Depois lembrei: também é fim de mês. As pessoas estão sem dinheiro.

As lojas estavam vazias, inclusive lotéricas, esses redutos de esperança para quem sonha, um dia, ficar rico.

Os especialistas e a mídia dizem que o vírus está em processo de interiorização. É uma interiorização dentro de outra, feita de isolamento e introspecção.

Como todos, eu acredito que tudo passará, e, quando ocorrer, será nossa maior loteria. Mas o desolamento da rua, ainda mais em um dia cinzento, me fez pensar numa antecipação do fim da vida, aquele cheiro doce insuportável.

Pensamentos mórbidos são comuns em tempos de peste. Por exemplo, no livro Morte em Veneza, ela é o pano de fundo da história. Em meio à peste, o protagonista se desintegra psicologicamente, assaltado por pulsões reprimidas.

Creio que todos, em maior ou menor grau, experimentamos a mesma sensação íntima de infortúnio e limitação. Adoeceremos? Teremos vivido a nossa vida em plenitude ou estamos devendo dimensões a nós mesmos? Nossa vida faz alguma diferença? Ainda há tempo de virar o jogo?

Cada um reage de uma forma. Eu, por exemplo, pensei muito no meu filho, que mora longe. Postei um vídeo de música, Father and Son, do Cat Stevens. Lembrei da juventude dele, da vida pela frente, e da cidade em que vive, Brasília, no planalto, onde o inverno é quente.

Rubens Amador. Jornalista. Editor do Amigos de Pelotas. Ex funcionário do Senado Federal, MEC e Correio Braziliense. Pai do Vitor. Fã de livros, de cinema. E de Liberdade.

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Brasil e mundo

Felicidade de “segunda”, não dá mais

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Concordo com Alexandre de Moraes: antes das redes sociais, nós éramos felizes e não sabíamos. Mas éramos felizes no sentido de que uma pessoa ignorante podia ser. Hoje a farsa não convence tão fácil. As vozes se tornaram muito mais plurais, o que é positivo para a sociedade.

A tecnologia levou a percepção de felicidade a um patamar mais elevado. Aumentou a exigência. Ninguém mais se contenta com meias verdades.

Voltar no tempo é impossível, apesar dos esforços nesse sentido. O próprio Lula não entendeu isso, por isso está perdendo popularidade. Perdeu poder de persuasão. Ele e qualquer outro governante.

A própria velha imprensa perdeu poder de persuasão. Está todo mundo vendo o rei nu. Vendo e avisando a este da nudez, em voz alta. A corte toda, que inclui a velha imprensa, está nua. Ouvindo que está nua, mas se fingindo de surda.

A tecnologia muda os comportamentos. Os avanços tecnológicos provocam essas destruições criativas. Assim como foi o canhão que permitiu Napoleão, a internet e as redes sociais estão forjando um cidadão menos distraído, mais atento e engajado. Uma democracia muito mais participativa.

O mundo mudou.

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Opinião

De fato, Pelotas “mudou”

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Às vezes encontro com pessoas que estão voltando a morar em Pelotas. É comum comentarem isso: “Pelotas mudou. Havia uma vibração visível. Tinha uma intelectualidade… hoje não tem mais. O Sete de Abril, mesmo, está fechado… há 14, 13 anos… é isso mesmo?”.

Aqui vão sete coisas que parecem ter mudado a vida em Pelotas. Nem pra pior nem pra melhor. Apenas a vida mudou.

1. Condomínios fechados: as pessoas se preocupam mais com o condomínio do que com o passeio público. Com sua vida em seus espaços fechados ou, se abertos, integrados, como o Parque Una.

2. Alunos da UFPel vêm de fora por causa do Enem. Vão embora nas férias e no fim do curso. Não são daqui. Não chegam a formar um elo emocional forte com a cidade.

3. Professores da UFPel vêm de fora.

4. A cidade se espalhou.

5. A população está envelhecendo.

6. Digitalização da vida, com trabalho remoto.

7. Globalização, compras pela internet, streaming.

O mundo mudou.

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