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Pelotas e RS

Comitê UFPel: “Lockdown de final de semana tem pouquíssimo efeito e desgasta a população”

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Nota técnica

Efeitos do lockdown no combate à epidemia

Pelotas, 05 de junho de 2021

O Comitê UFPel Covid-19 vem, por meio de nota técnica, apresentar a experiência de países que implementaram lockdown na redução dos casos de COVID-19 e da vigilância epidemiológica na obtenção do controle da epidemia.

Como a principal via de transmissão da COVID-19 ocorre de pessoa para pessoa, por meio de gotículas do nariz ou de saliva que se espalham quando alguém doente tosse ou espirra, o distanciamento físico interrompe a cadeia de transmissão do vírus, contribuindo para a redução dos casos de COVID-19 na população. Quanto mais rígida e duradoura a medida de distanciamento, sendo o lockdown a medida mais restritiva, maior será a capacidade de interromper a transmissão.

Portugal implementou lockdown em 22 de janeiro de 2021. Neste dia, o país registrou 11.523 casos e 197 óbitos por COVID-19. Um mês após a implementação do lockdown, 1.573 casos e 87 óbitos foram registrados (redução de 86% no número de casos diários e 56% no número de óbitos diários comparado com o primeiro dia de lockdown). No dia
15/03/2021, com 579 casos e 18 óbitos diários confirmados e com 4% da população vacinada com duas doses, o país iniciou a reabertura das atividades comerciais e escolares em fases. Até o dia 31/05/2021, os números de casos e óbitos diários se mantiveram estabilizados abaixo de 600 e 3, respectivamente. Nesta data, 52 pessoas estavam
internadas em UTI e aproximadamente 18% da população vacinada com duas doses. As medidas tomadas pelo governo português incluíram restrição de circulação de pessoas, fechamento do comércio não essencial, aulas remotas e controle rigoroso de fronteiras.

Desde abril de 2021, o país iniciou um plano de massificação da testagem para detecção do vírus.

O Reino Unido também adotou o lockdown como medida para combater a COVID19 em 4 de janeiro de 2021. Neste dia, foram registrados 54.990 casos e 618 óbitos confirmados. Um mês após a implementação do lockdown, 21.322 casos foram registrados (redução de 61% no número de casos em comparação ao primeiro dia de lockdown). O
número de óbitos continuou em aumento por 20 dias após o lockdown, mas em 04/03/2021, com apenas 1,5% da população vacinada com duas doses, sofreu redução de 57% (263 óbitos). Até 29/05/2021, aproximadamente 38% da população do Reino Unido havia sido vacinada com duas doses. As medidas tomadas pelo Reino Unido foram semelhantes às adotadas por Portugal, com destaque para campanha massiva de vacinação. O governo também forneceu auxílio salarial, que será estendido até setembro de 2021, para 10 milhões de trabalhadores.

O número de casos diários de COVID-19 para Portugal, Reino Unido e Brasil estão no Gráfico 1. A interpretação deste gráfico deve ser em relação ao aumento e queda dos casos, pois o tamanho da população de cada país não permite comparar diretamente o número de casos diários.

Gráfico 1 – Número de novos casos de COVID-19 para Portugal, Reino Unido e Brasil no período de 8 de
abril de 2020 a 3 de junho de 2021 (Fonte: https://ourworldindata.org/coronavirus/country)

Reino Unido.

Outros países controlaram com sucesso a epidemia de COVID-19. A Austrália, por exemplo, investiu na resposta rápida ao registro de novos casos, fechando fronteiras, fazendo lockdown e reforçando a vigilância epidemiológica para acompanhamento de casos e contatos. Desde outubro de 2020, o país não registra mais de 20 casos diários e
segue sem óbitos registrados.

O Brasil também tem exemplos de lockdown bem sucedido. O município de Araraquara (SP) implementou lockdown de 21 de fevereiro a 2 março de 2021. Após 50 dias do início do lockdown, o número de casos confirmados reduziu 66%. Durante o período de lockdown, todas as atividades comerciais foram proibidas, incluindo postos de combustível, supermercados e a circulação do transporte coletivo. Como estratégia para manter a redução de casos obtida pelo lockdown e realizar o controle efetivo da epidemia, a cidade reforçou estratégias de vigilância epidemiológica, incluindo testagem massiva da população para identificar e isolar focos de transmissão.

O próprio Rio Grande do Sul implementou medidas restritivas que resultaram na inflexão da curva de casos e óbitos. O Gráfico 2 mostra que a bandeira preta e a suspensão da cogestão adotadas em 25/02/2021 possibilitaram a interrupção do aumento do número de casos novos no estado 15 dias após sua implementação. Entretanto, a retomada da cogestão em 22/03 e adoção da bandeira vermelha ocorreu de modo muito precoce, ainda
em situação de alta transmissão. O resultado foi que o número de casos novos caiu por mais 12 dias, ainda como reflexo das maiores restrições e em seguida se estabilizou em patamares muito altos.

Gráfico 2 – Número de novos casos de COVID-19 e média móvel para o estado do Rio Grande do Sul no
período de 1 de janeiro de 2021 a 31 de maio de 2021

As evidências acima indicam efeito positivo do lockdown no controle da epidemia, porém ele deve ser feito de maneira otimizada. A realização de lockdown de final de semana, por exemplo, tem pouquíssimo efeito na mitigação da epidemia e ainda leva a um forte desgaste da população. O fechamento parcial com manutenção de tele-entregas e
drive thrus, promove o deslocamento de trabalhadores, em grande parte em transporte coletivo e amplia a iniquidade, porque expõe mais as populações mais vulnerabilizadas.

A implementação de medidas restritivas pelo período de quatro dias é insuficiente para que o município de Pelotas saia da situação de alta transmissão e mal compensa o aumento de circulação que ocorre imediatamente antes e depois do fechamento.

A tentativa de enfrentamento da epidemia com enfoque na capacidade hospitalar provoca ações muito tardias, considerando as altíssimas taxas de letalidade entre casos de COVID-19 que necessitam internação. Em Pelotas, em 2021, dos menores de 60 anos, que internaram em enfermaria por COVID-19, 33% foram a óbito e dos que passaram pela UTI, 59% foram a óbito. Entre os maiores de 60 anos, que internaram em enfermaria por COVID19, 60% foram a óbito e dos que passaram pela UTI, 81% foram a óbito. Segundo o portal da transparência do registro civil, em 2021, em cada três óbitos ocorridos em Pelotas um é por caso suspeito ou confirmado de COVID-19.

Ao não fazer o adequado enfrentamento do problema o município prolonga a situação de descontrole da epidemia. As medidas restritivas não devem ser interrompidas quando se percebe qualquer redução do número de casos ou óbitos. Pelo contrário, as medidas devem permanecer até que o número de casos seja condizente com a capacidade da vigilância epidemiológica. A obtenção do controle da epidemia é fundamental para evitar o expressivo número de óbitos que vem ocorrendo e a única estratégia para preservar a saúde e possibilitar a retomada das atividades econômicas e de educação com segurança.

4 Comments

4 Comments

  1. Paulo Viegas

    08/06/21 at 15:36

    O povo não suporta mais tanta restrição, perda de emprego, fome e aí vem o tal comitê sujerir mais restrição? qual sentido disso? acabar com o povo que já não consegue mais se sustentar? rebentar com a cidade? ou este comitê acha que o governo federal vai conseguir manter as cidades no azul enviando verba que não está sendo usada totalmente no combate ao vírus ou seja preparando profissionais e aumentando o número de leitos de UTI, será que os gestores públicos não se dão conta de que os cofres municipais precisam arrecadar através das contribuições das empresas que são de fato quem gera recursos para o poder público usar e que geram capacidade de consumo através dos empregos criados? Fazer lockdown com bons salários garantidos na conta todo mês é fácil mas até quando vai ser possível? chega, o que a prefeitura tem que fazer de fato é gerir bem e de forma responsável os recursos da saúde e deixar o povo trabalhar isso sim.

    • Alarico

      09/06/21 at 20:15

      Prezado Viegas.
      Essa questão da fome é fácil de resolver.
      Se cada professor da UFPEL doar 10% do seu salário para um fundo destinado a alimentar os milhares de famintos que surgiram na cidade após o fechamento da economia, é possível distribuir cerca de 25 mil refeições por dia. Se cada um dos 1.500 professores contribuir com mil reais (cerca de 10% do seu salário), pode-se arrecadar cerca de um milhão e meio por mês; e como a UFPEL entrega aos seus alunos (incluindo os da classe média) uma refeição de qualidade por R$2,00, é perfeitamente possível entregar 750 mil refeições/mês aos novos famintos que surgiram com o “fique em casa”. Problema resolvido.

  2. Alarico

    07/06/21 at 18:35

    A recomendação de um lockdown “otimizado” é no mínimo curiosa. Otimizado em que sentido? Na redução do número de ônibus? Na redução da “comida circulante”? Na redução das festas estudantis? Ou transferindo recursos da UFPel para as hordas de famintos que surgiram em função das restrições? Recomendar lockdown para “os outros” cumprir é fácil, mas contribuir para minorar o sofrimento social causado pela recomendação é complicado. Quem sabe “otimizamos” uma parte do orçamento da universidade para os desassistidos de Pelotas, para que este também possam ficar em casa, como fazem os membros do seleto comitê?

    • claudio461

      08/06/21 at 08:57

      Por esses raciocínios torpes que o país ficará muito tempo ainda atolado na pandemia.

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Brasil e mundo

Leite posta encontro com o Papa

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Atual governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite foi recebido pelo Papa Francisco nesta quarta-feira (14). Aproveitando o espaço na agenda do Pontífice, levou à Sua Santidade uma réplica das ruínas das Missões e uma caixa com camisas do Grêmio, do Inter e do Xavante, pra ficar de bem com todas as torcidas.

Aproveitando, convidou o Papa a visitar o Rio Grande do Sul em 2026, como parte das comemorações dos 400 anos das missões jesuíticas no estado — por coincidência ano da próxima eleição presidencial, sonho que Leite persegue.

No X, Leite postou: “Foi uma conversa muito gentil e muito amável do Papa, que lembrou ter ido muitas vezes à cidade de Pelotas, onde um tio dele (Victor José Bergoglio) morou”.

Leite acrescentou: “A sua mensagem de hoje (do Papa) é muito oportuna. O Papa Francisco falou sobre temperança e pediu aos fiéis que exercitem o equilíbrio. É uma mensagem que serve para as relações nas redes sociais, pessoais, profissionais e políticas nesse mundo tão dividido”. Com essas palavras, Leite, que tem discursado contra a polarização na política, parece confirmar uma impressão. Ele é conhecido nos bastidores como “Governador Casio”. Tudo calculado, nada é espontâneo, com vistas ao pleito de 2026”.

Na última semana, Leite gravou vídeo de apoio a Matteus, participante gaúcho da final do BBB, aproveitando a onda da audiência do programa. Matteus perdeu, contudo, e o comentário é de que “perdeu por causa do apoio de Leite”. Era o comentário hoje na aula do Pilates.

Terá sido a derrota de Matteus um mau agouro para Fernando Estima, de quem se fala que poderá ser candidato dos tucanos a prefeito de Pelotas?

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Cultura e entretenimento

UnaMúsica inicia temporada com show da Gafieira do Clube

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O projeto UnaMúsica inicia sua temporada 2024 com show da Gafieira do Clube nesta quinta-feira, dia 18, às 18h. A apresentação será ao ar livre, no Anfiteatro do Parque Una e coincide com a abertura da Semana Nacional do Choro em Pelotas.

O evento, que ocorrerá de 18 a 27 de abril, celebra o  10º aniversário do Clube do Choro de Pelotas e o reconhecimento pelo Iphan do Choro como Patrimônio Cultural do Brasil. Durante o período, diversas atividades acontecerão em diferentes locais da cidade.

UnaMúsica

O UnaMúsica surgiu em 2020 com a intenção de valorizar a produção musical local ao promover shows de diferentes estilos no Anfiteatro do Parque Una. Porém, devido à pandemia de Covid-19, o projeto foi reestruturado e, dos cinco shows selecionados para aquela temporada, quatro foram realizados de forma virtual. Em 2022, o plano original foi retomado e a última apresentação foi realizada presencialmente.

Tendo o espaço público do Parque Una como cenário, o projeto retorna em 2024, buscando  levar boa música aos moradores e visitantes do bairro.

Gafieira do Clube

O projeto Gafieira do Clube reúne instrumentistas participantes do Clube do Choro e foi concebido com base nas tradicionais bandas de gafieiras do Rio de Janeiro que se destacavam em casas noturnas renomadas, como as estudantinas, oferecendo um repertório especialmente elaborado para a dança, com arranjos de músicas populares e composições instrumentais.

Apresentando uma formação moderna que combina os instrumentos do choro com nuances jazzísticas, incluindo contrabaixo, bateria e instrumentos de sopro, a Gafieira do Clube surge com o propósito de proporcionar uma experiência musical instrumental mais vibrante e envolvente, mesclando os ritmos do choro, maxixe, samba e outros, para o deleite dos apreciadores da música brasileira.

Participam do projeto: Rafael Velloso (sax), Rui Madruga (violão 7 cordas), Fabrício Moura (violão de 6 cordas/cavaquinho), Pedro Nogueira (cavaquinho solo), Paulinho Martins (bandolim), Gil Soares (flauta), Paulo Lima(contrabaixo) e Everton Maciel (percussão).

O QUÊ: Projeto UnaMùsica 2024 – Show Gafieira do Clube

QUANDO: Dia 18 de abril, às 18 horas

ONDE: Anfiteatro do Parque Una

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