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Brasil e mundo

Leite e a não-questão de ‘ser gay’, da qual continua a falar

Por que o pelotense só foi revelar que é gay quando decidiu disputar as prévias tucanas rumo ao Planalto? Há teorias

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Quando se anunciou gay no Programa do Bial, na Globo, no começo de julho deste ano, abrindo pela primeira vez sua intimidade sexual, Eduardo Leite o fez sem que Bial tivesse perguntado. Falou à audiência nacional que sua sexualidade era uma “não-questão”. Para “não-questão”, falou bastante sobre ela, enquanto o outro erguia as sobrancelhas de poeta meloso, simulava surpresa, engordava os olhos e balançava verticalmente a cabeça.

“Eu sou gay. Eu sou gay”, começou Leite o seu depoimento, gravado num hotel. A partir daí falou praticamente só desse tema. De quando se descobriu gay, do comunicado à família, do namorado Thalis, de seu amor pelo médico pediatra capixaba, morador de São Paulo. Falou um monte da “não-questão” para a audiência global.

“Sou por inteiro”

Desde então, transcorridos 120 dias, jornalistas não perdem a chance de voltar a perguntar sobre a “não-questão”, e ele a falar sobre ela, com desenvoltura e a mesma resposta: “Sou por inteiro, não tenho nada a esconder.”

Nos anos anteriores, nas eleições de vereador, prefeito e governador do Rio Grande do Sul, onde a macheza supostamente segue um valor arraigado, a “não-questão” permaneceu como tal, fora de questão, daí a revelação neste ano não ter deixado de ser uma surpresa nos pagos da Revolução Farroupilha, que, afinal, não foram merecedores da mesma transparência verificada diante do brother Bial.

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Teoria para a revelação Sou gay

Por que Leite só foi revelar que é gay quando decidiu disputar as prévias tucanas rumo ao Planalto? Há teorias. Uma diz que um graúdo do PSDB teria dito a ele: “Olha, falam que és gay. Para te apoiar, precisas esclarecer isso. Do contrário, vai ser difícil conseguir apoio do pessoal da Faria Lima. Como sabes, eles não gostam de surpresas.”

Mesmo que não seja verdade, uma pergunta fica no ar. Por que a sexualidade foi uma “não-questão” de fato nas eleições anteriores e, nesta, passou a ser uma “não-questão” a ser finalmente enfrentada?

Há outros políticos gays. Mas até agora, afora Jean Wyllys, que sempre fez da causa LGBTQI+ uma bandeira, nenhum alardeara sua condição sexual nacionalmente, muito menos na tevê, nem o simpático senador Fabiano Contarato, do Espírito Santo.

Depois que Leite deixou o armário Jacarandá, Contarato saiu inteiro do Imbuia Itatiaia, do qual só faltava retirar o dedo mindinho, já que, nele, ser gay não carecia de maiores explicações. Sua sexualidade ficou totalmente clara, para quem tivesse curiosidade, apenas quando, sentindo-se moralmente ferido, passou o comovente sabão no depoente da CPI que fizera uma piada homofóbica com ele nas redes sociais.

Pretender presidir a República talvez exija maiores esclarecimentos, nunca saberemos ao certo, a menos que um dia um historiador conte o que passou.

Nesta semana foi a vez de Veja trazer de volta a “não-questão” em uma entrevista com o pré-candidato tucano, em seu canal no YouTube, cujo título faz pensar: Eduardo Leite: Comentários homofóbicos de Bolsonaro indicam “alguma incerteza”.

“Bolsonaro, gay? Precisa ver essa cuestão aí.”

Articulando argumentos com impostação autoconfiante, o pelotense contou, outra vez, como foi que “saiu do armário”, expressão dele mesmo, popular, tornando ao mantra: “Eu sou por inteiro, não tenho nada a esconder”, emendando: “Outros têm o que esconder, coisas como rachadinha, petrolão, superfaturamento de vacina etc.”

Foi então que, aproveitando a deixa, e pondo mais achas de lenha na fogueira, o gaúcho sugeriu que Bolsonaro, por debochar tanto de gays, possa ser gay enrustido, homem de outra época. “Antigo irrealizado x Novo realizado?” Será? O fato é que a “não-questão” continua a ser abordada, e, assim, começa a se tornar corriqueira, naturalizada pela repetição e por elegantes respostas ancoradas no mesmo mantra citado.

“O que é pior: gay ou rachadinha?”

Leite e Thalis: namorados fisicamente parecidos

Muito macho

Como parte da chamada grande mídia não consegue disfarçar que vê em Leite uma boa aposta, por razões que vão além da política convencional, a insistência na “não-questão” pode, talvez, ter alguma utilidade que escapa ao grande público. Após a revelação, vez ou outra Leite posta imagens de si com o namorado. Num vídeo, aparece em viagem de Porto Alegre até a casa de Thalis, em São Paulo. No apartamento deste, Leite doa a Thalis dois cãezinhos, filhotes de Chica e Bento, que fazem companhia a ele no Piratini.

“Vai cuidar deles com todo o amor?”

“Vou.”

O vídeo parece comunicar: “Sim, sou gay. Mas sou família, viu?!”

A mensagem subliminar: Se sou capaz de submeter-me sem medo ao sufrágio dos preconceitos, pode estar certo de que sou diferente de todos os que vieram antes de mim e até depois. Vai colar? Só isso bastará?

De qualquer forma, não se pode negar a coragem e a determinação. Como na história do Veríssimo: um homem entrou em um bolicho de machões em Bagé vestindo calça balão, echarpe no pescoço, camisa amarrada na cintura, pediu uma fanta uva, bebeu-a com mindinho levantado e ninguém deu um pio. Explicação para o silêncio: para entrar ali daquele jeito tinha de ser muito macho.

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Impressões

Gosto de pedir impressões de amigos para confrontar com as minhas. No caso, sobre a revelação de Leite. Um, na faixa dos 50 anos, disse: “O brasileiro em geral, sobretudo dos rincões, é conservador. Admitir a sexualidade foi um tiro no pé!”

Outro amigo, também na casa dos 50, opinou: “Quando mostraram o nó górdio a Alexandre, o Grande, para que desatasse, ele pegou a espada e cortou os nós. Antes dele todo mundo tentava desatar o nó górdio com as mãos e não conseguia. Então tudo é possível, desde que se pense fora da caixa. Dito de outra forma: Leite tem que fazer o eleitor pensar fora da caixa. Fazer o eleitor pensar em Bolsonaro e Lula como ultrapassados, como ele já fez o eleitor pensar a respeito das lideranças políticas em Pelotas.”

Ouvi também um amigo de 90 anos. Ele disse: “Quando é que a gente ia imaginar que um político fosse dizer em rede nacional eu sou gay e quero ser presidente do Brasil. Eu, nunca imaginei. Pelo visto, o mundo mudou.”

Ainda não cheguei a uma conclusão. É tudo meio vertiginoso. Às vezes penso que Leite, 20 anos mais jovem do que eu, sabe de algo que eu não sei, algum sentimento dos novos tempos que me escapa. Às vezes, quando canso de matutar, me vem o seguinte: O brasileiro já elegeu tanto filho da puta pensando que era boa gente. Talvez agora decida variar, apostando em um homem sincero. De repente, sem nada a esconder.

Rubens Amador. Jornalista. Editor do Amigos de Pelotas. Ex funcionário do Senado Federal, MEC e Correio Braziliense. Pai do Vitor. Fã de livros, de cinema. E de Liberdade.

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Felicidade de “segunda”, não dá mais

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Concordo com Alexandre de Moraes: antes das redes sociais, nós éramos felizes e não sabíamos. Mas éramos felizes no sentido de que uma pessoa ignorante podia ser. Hoje a farsa não convence tão fácil. As vozes se tornaram muito mais plurais, o que é positivo para a sociedade.

A tecnologia levou a percepção de felicidade a um patamar mais elevado. Aumentou a exigência. Ninguém mais se contenta com meias verdades.

Voltar no tempo é impossível, apesar dos esforços nesse sentido. O próprio Lula não entendeu isso, por isso está perdendo popularidade. Perdeu poder de persuasão. Ele e qualquer outro governante.

A própria velha imprensa perdeu poder de persuasão. Está todo mundo vendo o rei nu. Vendo e avisando a este da nudez, em voz alta. A corte toda, que inclui a velha imprensa, está nua. Ouvindo que está nua, mas se fingindo de surda.

A tecnologia muda os comportamentos. Os avanços tecnológicos provocam essas destruições criativas. Assim como foi o canhão que permitiu Napoleão, a internet e as redes sociais estão forjando um cidadão menos distraído, mais atento e engajado. Uma democracia muito mais participativa.

O mundo mudou.

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Leite posta encontro com o Papa

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Atual governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite foi recebido pelo Papa Francisco nesta quarta-feira (14). Aproveitando o espaço na agenda do Pontífice, levou à Sua Santidade uma réplica das ruínas das Missões e uma caixa com camisas do Grêmio, do Inter e do Xavante, pra ficar de bem com todas as torcidas.

Aproveitando, convidou o Papa a visitar o Rio Grande do Sul em 2026, como parte das comemorações dos 400 anos das missões jesuíticas no estado — por coincidência ano da próxima eleição presidencial, sonho que Leite persegue.

No X, Leite postou: “Foi uma conversa muito gentil e muito amável do Papa, que lembrou ter ido muitas vezes à cidade de Pelotas, onde um tio dele (Victor José Bergoglio) morou”.

Leite acrescentou: “A sua mensagem de hoje (do Papa) é muito oportuna. O Papa Francisco falou sobre temperança e pediu aos fiéis que exercitem o equilíbrio. É uma mensagem que serve para as relações nas redes sociais, pessoais, profissionais e políticas nesse mundo tão dividido”. Com essas palavras, Leite, que tem discursado contra a polarização na política, parece confirmar uma impressão. Ele é conhecido nos bastidores como “Governador Casio”. Tudo calculado, nada é espontâneo, com vistas ao pleito de 2026”.

Na última semana, Leite gravou vídeo de apoio a Matteus, participante gaúcho da final do BBB, aproveitando a onda da audiência do programa. Matteus perdeu, contudo, e o comentário é de que “perdeu por causa do apoio de Leite”. Era o comentário hoje na aula do Pilates.

Terá sido a derrota de Matteus um mau agouro para Fernando Estima, de quem se fala que poderá ser candidato dos tucanos a prefeito de Pelotas?

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