Opinião
Pelotas, terra de contrastes (por Luiz Carlos Marques Pinheiro)
Publicado
10 meses atráson
Por
Da Redação
Conheci Luiz Carlos Marques Pinheiro há uns 10 anos. Ele me disse que escrevia crônicas sobre Pelotas, memórias do tempo em que viveu aqui. Na época, já há quase 50 anos morando em São Paulo capital, ele não esquecia Pelotas, para aqui sempre viajava para rever parentes e mergulhar na atmosfera da cidade. Amava sua terra Natal. Nesta semana, um primo dele, Francisco de Paula Marques Rodrigues, me contou que Luiz havia falecido e deixara um acervo de crônicas sobre a cidade – que ele, Francisco, considerava que merecia ser mais amplamente divulgado. Interessei-me em publicar, o que, com autorização de Francisco e das filhas de Luiz, farei semanalmente, uma crônica por vez. (RSA)

Por Luiz Carlos Marques Pinheiro (*) Publicado originalmente pelo autor em janeiro de 2021, no blog Crônicas Existenciais.
Eu vou tentar demonstrar que Pelotas é uma terra de contrastes. Vou me valer de fatos e acontecimentos, mas principalmente da memória, porque estou longe de Pelotas há muitos anos.
Me perdoem se a memória me trair em alguns momentos.
Diz o site da Secretária de Turismo do Estado do Rio Grande do Sul: “Elegância, sofisticação, requinte, bom gosto, opulência, cultura – são conceitos que estão sempre à disposição do turista, toda a vez que ele se propõe a compartilhar, por alguns momentos, as tradições de Pelotas.
É que o passado de Pelotas foi tão rico, foi tão pródigo, que transmitiu naturalmente aos seus restaurantes, às suas confeitarias, aos seus cafés, às suas livrarias, às suas casas de vinho, às suas antigas charqueadas, aos seus antiquários, aos seus museus, um bocado de charme….”
Pelotas era uma cidade requintada, que valorizava o luxo, a cultura, a beleza.
Pelotas era a cidade mais rica do Rio Grande do Sul, depois de Porto Alegre. Cresceu e se desenvolveu acompanhando o desenvolvimento do Estado, à exceção da fase das charqueadas (século XIX), quando Pelotas cresceu mais que o RGSul. Isto até mais ou menos cinquenta anos atrás, quando parou de crescer. Digo e provo. Hoje Pelotas é a oitava colocada no ranking das cidades no RGSul, atrás de cidades como Canoas e Gravataí, cidades que Pelotas não tomava o menor conhecimento antigamente (piorou, hoje .
Já aqui surge o primeiro contraste. A Pelotas que foi e a Pelotas de hoje.
Eu não sei a quem atribuir. Por exclusão, eu responsabilizo os Prefeitos e a maioria
dos Vereadores que ocuparam um espaço, nestes últimos cinquenta anos.
Porque são eles que estabelecem a direção que as cidades vão tomar. São eles que criam as modernidades. São eles que dizem para que lado vai a Economia e que geram os incentivos para que as coisas ocorram.
Nada ocorre sem que haja uma decisão deles. O vereador tem como função primordial representar os interesses da população perante o poder público.
Açúcar vinha do Nordeste
Os navios que levavam o charque não voltavam vazios. Traziam mantimentos, livros, revistas de moda, móveis, louças da Europa, e açúcar do Nordeste, consolidando a tradição do doce em Pelotas. “Embora aqui não se plantasse cana-de-açúcar, os doces de Pelotas chegaram a ser rivais dos do Nordeste, região açucareira por excelência.”
Aqui surge um segundo contraste. Uma cidade que não plantava açúcar se transformou na “Capital Nacional do Doce”, com fama internacional. Há uma doceria em cada canto da cidade.
Esses doces são resultado da deliciosa herança que os imigrantes portugueses deixaram. São maravilhosos os fios de ovos, babas-de-moça, camafeus, papos-de-anjos, quindins e queijadinhas.
A fama ultrapassou as fronteiras do Estado e até mesmo do País.
Tradicionalismo sadio
Pelotas sempre foi uma cidade tradicionalista. Um tradicionalismo sadio, conservador. Quando se fala de Pelotas fora do Brasil, a palavra que vem na mente das pessoas é “casarões”. Os casarões antigos de Pelotas são uma preciosidade a ser conservada. E contrastam com a Pelotas moderna.
Pelotas soube conservar o seu patrimônio histórico com muito carinho. Graças a isso o conjunto histórico de Pelotas tornou-se Patrimônio Cultural Brasileiro, por votação do Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em Brasília.
Demonstração inequívoca desse carinho é a existência, ainda hoje, do Teatro Sete de Abril (1834), tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional em 1972. Foi a primeira casa de espetáculos a abrir suas portas às artes cênicas na província de São Pedro do Rio Grande do Sul (que isso fique registrado) e a quarta no Brasil.
Fato que demonstra inequivocamente como era a cabeça dos pelotenses na época. Mais um contraste se revela aqui. A despeito de toda a modernidade, Pelotas soube conservar as suas tradições.
Porém, a modernidade tem seu preço, e às vezes é caro.
Algumas coisas valiosas se perdem.
Mesas de granito para peixes
No Mercado Municipal havia uma peixaria na ala dos fundos, já fora do Mercado, mas coberta por uma marquise, com umas mesas de granito maravilhosas, esculpidas à mão, e que se perderam.
Diariamente os peixes, frescos, eram jogados displicentemente sobre essas mesas, onde ficavam expostos aos compradores.
Infelizmente não existem mais e ninguém sabe dizer que fim tiveram.

Palavras só nossas
Como eu estou fora de Pelotas há muitos anos, quando volto para visitar a família e os amigos eu me surpreendo ao ouvir certas palavras que eu já tinha esquecido, porque não são usadas em São Paulo, onde eu moro.
De repente me deu a curiosidade de relacionar essas palavras, só para ver o que ia acontecer. Comecei a forçar a memória, buscando palavras que eu ouvia quando era guri, em Pelotas. Passei muito tempo colecionando essas palavras. Cheguei a colecionar 180 palavras.
Eu desconfiava que essas palavras só eram usadas em Pelotas e, para tanto, me estabeleci algumas regras. A mais importante delas era que a palavra só fosse usada em Pelotas. Para me assegurar disto estabeleci também que a palavra não constasse em nenhum dicionário.
No meu raciocínio, se nenhum dicionarista havia registrado a palavra, esta não deveria ser conhecida fora de Pelotas. Eu pensava assim: fora de Pelotas quem sabe o que é “mandinho”?
O produto final foi um arquivo com 180 palavras sem registro em nenhum dicionário, faladas exclusivamente em Pelotas. Dei a esse arquivo o nome de “Vocabulário Peculiar de Pelotas” e coloquei na Internet.
Aqui eu vejo mais um contraste. A língua falada em Pelotas não é a mesma falada no resto do Brasil, e nem a registrada pelos dicionaristas.
Também não conheço nenhuma cidade no Brasil que tenha uma linguagem própria.
São coisas de Pelotas!
Alfaiates ainda na ativa
Pelotas oferece ainda mais um contraste. Os alfaiates. É uma das raras cidades brasileiras em que ainda há um número considerável de alfaiates.
Segundo a Wikipédia, “Alfaiate (em francês: Tailleur) é o profissional especializado
que exerce o ofício da Alfaiataria, uma arte que consiste na criação de roupas masculinas (terno, costume, calça, colete etc.) de forma artesanal e sob medida, ou seja, exclusivamente de acordo com as medidas e preferências de cada pessoa, sem o uso padronizado de numeração preexistente”.
Ainda hoje é possível dar-se ao luxo, principalmente os homens, de vestir um terno sob medida, inclusive com colete, o que os ternos prontos não oferecem, porque não se usa mais.
Renalto Palombo, com 104 anos de idade, é o alfaiate mais antigo da cidade (hoje falecido). É considerado o “cliente mais antigo do Café Aquários”, o mais tradicional reduto pelotense de debates e de boemia.
A Internet oferece uma relação dos dez melhores alfaiates de Pelotas, numa demonstração da quantidade de alfaiates que ainda existem em Pelotas.
A profissão de alfaiate contrasta com a vida moderna, em que as roupas são compradas prontas. Hoje em dia só se ouve falar em “prêt-à-porter”.
Mas os alfaiates resistem…
Canalete no capricho
Por último, mas não menos importante, em pleno século XXI Pelotas mantém um esgoto correndo a céu aberto no centro da cidade, contrastando com todos os investimentos feitos na melhoria do sistema de saneamento básico.

A rua é a Gal. Argolo. A rua General Argolo possuía na primeira planta urbana um alinhamento irregular, que contrastava com as demais ruas. Por este fator a via foi realinhada e totalmente modificada na década de 1920.
Por conter cruzamentos com bueiros em função da sanga que corria em direção ao Arroio Pepino, foi construído, em 1928, um canalete, conhecido como “Canalete da Argolo”.
Originalmente o canalete – de 1,60 metros de altura por 2,10 metros de largura – começava na rua Mal. Deodoro esquina Pe. Felício e se estendia ao sul até a Gen. Argolo onde, em um ângulo de 90°, mudava em direção leste indo até o canal do Pepino. Na década de 1970 o trecho da rua Mal. Deodoro e parte da Argolo foram cobertos.
O arroio Pepino, é um antigo escoadouro de detritos de curtumes outrora estabelecidos naquela zona. Ainda não foi totalmente canalizado. Em dias de muita chuva causa enchentes nas bocas de rua que fecham com ele, também um atentado contra a higiene pelos detritos nele depositados.
O capricho era tamanho na construção do Canalete que foram colocadas floreiras
retangulares no ponto em que o Canalete arremata com a calçada.
O espírito conservacionista de Pelotas, que conservou aqueles belos casarões, conservou também o Canalete da Argolo, que se mantém até hoje.
O canalete continua aberto, o que permite o escoamento da água da chuva e de todos os detritos jogados em seu interior.
Eu não me arriscaria em afirmar que não tem também esgoto correndo no canalete.

(*) Luiz Carlos Marques Pinheiro nasceu em Pelotas, em 12/01/1940, onde estudou nos colégios São Francisco e Pelotense. Em 1961, foi trabalhar em São Paulo, onde se casou alguns anos depois com Suzana do Couto Rosa Pinheiro, tendo duas filhas: Beatriz e Izabel (na foto, com o pai). Formou-se em Direito na Faculdade São Francisco, desempenhando atividades profissionais em várias empresas, destacando-se o Banco Bandeirantes, onde foi diretor de marketing. Faleceu em São Paulo, em 16/12/2021. Embora morando há 60 anos fora, ele adorava Pelotas e tinha um blog sobre a cidade.
Informações veiculadas pela equipe.


Foi surpreendente, e até chocante, ver a prefeita Paula Mascarenhas tentando na prática dar um terreno valioso do Município para a Associação Rural. Ela quer dar de mão beijada uma área da prefeitura do tamanho de 25 campos de futebol profissional (25 hectares), para que seja comercializada. Quer ceder a terceiros uma gleba pública, e daquelas dimensões, como se fosse propriedade sua.
O juiz Bento Barros não concordou com a transação. Mandou parar tudo e, em seu despacho, ainda mandou uns recados indiretos à prefeita. Mencionou a crise financeira da prefeitura e relembrou a ela da possibilidade legal de que venda (por licitação) o terreno que a Rural pretende comercializar, o que, no caso em questão, seria o lógico e esperado de um gestor atento ao interesse público.
O terreno, em valor estimado ao redor de R$ 100 milhões, teria por finalidade um vultoso empreendimento imobiliário na Rural — não um fim social, como o originalmente previsto na cessão da área. Um negócio que, se consumado, seria típico do Brasil, possível graças à mão caridosa e amiga do Estado. Pior é que o projeto de lei do Executivo autorizando a transação já tinha passado numa comissão da Câmara. Vereadores, que no papel são fiscais do interesse público, estão apoiando…
SABE LÁ DO QUE SE TRATA ISSO?
Há milhões de motivos para preocupações.
Ainda falta muito para o Brasil ser uns Estados Unidos, onde o empreendedorismo é tão admirado pelos nossos liberais. Se é que seria possível uma empreitada semelhante.
Cultura e entretenimento
Anatomia de uma queda, o vencedor da Palma de Ouro. Por Déborah Schmidt
Publicado
1 semana atráson
25/11/23Por
Déborah Schmidt
Samuel (Samuel Theis) é encontrado morto na neve do lado de fora do chalé isolado onde morava com sua esposa Sandra (Sandra Hüller), uma escritora alemã, e seu filho Daniel (Milo Machado Graner), de 11 anos, com deficiência visual. A investigação conclui se tratar de uma “morte suspeita”, pois é impossível saber ao certo se ele tirou a própria vida ou se foi assassinado. Sandra é indiciada e acompanhamos seu julgamento que expõe o relacionamento do casal. Entre o julgamento e a vida familiar, as dúvidas pesam sobre a relação da mãe com seu filho.
Com um começo instigante, Anatomia de uma Queda coloca dúvidas na cabeça do espectador: Samuel caiu acidentalmente do chalé ou cometeu suicídio? Ou será que foi empurrado por Sandra? Ao longo de 2h e meia, o filme desenvolve sua narrativa sem pressa e de forma complexa, focada nos diálogos. A primeira parte explora a investigação e a reconstituição da morte de Samuel, enquanto que na segunda temos o julgamento, com Sandra suspeita e acusada do assassinato do marido, tendo que provar sua inocência com ajuda de Maître Vincent Renzi (Swann Arlaud).
A diretora Justine Triet acerta em cheio ao trabalhar com diferentes versões, sem nunca apresentar uma verdade definitiva e nem respostas prontas. O roteiro de Triet e Arthur Harari, seu marido na vida real, foi uma colaboração perfeita ao explorar a intimidade do casal e a relação, muitas vezes abusiva, entre eles.
Em uma das grandes atuações do ano, Sandra Hüller tem uma performance poderosa. Falando em inglês, com dificuldade em francês e sem poder falar em sua língua materna, ela passa por todas as nuances de sua personagem e, ao lado do jovem Milo Machado Graner, conferem à narrativa uma profundidade impressionante.
Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes e forte candidato ao Oscar, Anatomia de uma Queda é um angustiante estudo de personagens que desvenda as complexidades das relações humanas.

Motivos que podem fazer Daniel Trzeciak não concorrer a prefeito

Prefeita insiste e vai recorrer contra decisão judicial que suspende projeto de lei que autoriza Associação Rural a construir empreendimento imobiliário

Famílias do Pontal da Barra estão sem acesso à água potável

Decisão surpreendente a da prefeita!

Juiz proíbe Paula de dar terreno à Associação Rural e diz que negócio “favorece uma elite econômica em detrimento dos mais necessitados”

Justiça barra projeto da prefeita de doar terreno gigante para a Associação Rural

Luiz Carlos Freitas lança novo romance: Confissões de um cadáver adiado

Anatomia de uma queda, o vencedor da Palma de Ouro. Por Déborah Schmidt

Nova estapa da obra na ponte do Laranjal levará 10 dias, se não chover

Entrevista: “Prefeitura está fazendo gestão temerária”, diz Paulo Gastal, presidente do PP

O assassino, novo filme de David Fincher

Sistema público está anárquico

Entrevista: “Prefeitura está fazendo gestão temerária”, diz Paulo Gastal, presidente do PP

Anatomia de uma queda, o vencedor da Palma de Ouro. Por Déborah Schmidt

Justiça barra projeto da prefeita de doar terreno gigante para a Associação Rural

Motivos que podem fazer Daniel Trzeciak não concorrer a prefeito

Luiz Carlos Freitas lança novo romance: Confissões de um cadáver adiado

Juiz proíbe Paula de dar terreno à Associação Rural e diz que negócio “favorece uma elite econômica em detrimento dos mais necessitados”

Nova estapa da obra na ponte do Laranjal levará 10 dias, se não chover

Prefeita insiste e vai recorrer contra decisão judicial que suspende projeto de lei que autoriza Associação Rural a construir empreendimento imobiliário

Anatomia de uma queda, o vencedor da Palma de Ouro. Por Déborah Schmidt

Deputado Rodrigo Lorenzoni: “Revoltante, Leite quer aumentar ICMS no RS. Não seja cínico”

Na campanha Leite prometeu: “Você pode confiar que não vai aumentar impostos no próximo governo”

Tire um tempo e vá assistir Assassinos da Lua das Flores. Vale a pena!

A incrível história de Henry Sugar e outras histórias. Por Déborah Schmidt

O conde. Por Déborah Schmidt

A pior pessoa do mundo. Por Déborah Schmidt

Vídeo: Casal flagrado fazendo sexo em avião

Viver, uma refilmagem de Akira Kurosawa

Fale comigo. Por Déborah Schmidt

Martha Aulete Hirsch
10/02/23 at 21:55
Boa literatura. Alta cultura. Educação de 1ª. É o que o Brasil necessita. E estímulo de qualidade: Música instrumental. É de que mais precisamos no Brasil atual. Alta literatura, para todos. E música erudita. Nos rádios etc.
E a educação, hem? No Brasil. Brega e cafona.
A educação no Brasil é brega. E devido ao petismo.
O Brasil está em sua educação falido. Afinal o estilo do PT é barango.
PT, estilão brega de ser:
Que nivela a educação por baixo, sempre. A pior de toda américa.
Portanto, esperemos que não seja do mesmo espectro mental… Digno de espanto, se bem que vulgaríssimo, e tão doloroso quanto impressionante, é ver milhões de homens a servir, miseravelmente curvados ao peso do jugo, esmagados não por uma força muito grande, hercúlea, mas aparentemente dominados e encantados apenas pelo nome de um só homem [lula] cujo poder não deveria assustá-los, visto que é um só (lula –, o vigarista aPedeuTa). O PT é cafona. O que é sustentável para o Brasil: educação de alto nível. Cultura científica.