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Pelotas e RS

Palavras exclusivamente de Pelotas (1) Por Luiz Carlos Marques Pinheiro

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Conheci Luiz Carlos Marques Pinheiro há uns 10 anos. Ele me disse que escrevia crônicas sobre Pelotas, memórias do tempo em que viveu aqui. Na época, já há quase 50 anos morando em São Paulo capital, ele não esquecia Pelotas, para aqui sempre viajava para rever parentes e mergulhar na atmosfera da cidade. Amava sua terra Natal. Nesta semana, um primo dele, Francisco de Paula Marques Rodrigues, me contou que Luiz havia falecido e deixara um acervo de crônicas sobre a cidade – que ele, Francisco, considerava que merecia ser mais amplamente divulgado. Interessei-me em publicar, o que, com autorização de Francisco e das filhas de Luiz, pouco a pouco. (RSA)

Luiz Carlos e esposa,
Luiz Carlos e a esposa, Suzana

Luiz Carlos Marques Pinheiro (*)

Indiscutivelmente, Pelotas fala uma linguagem própria, singular. São palavras de uso
corrente, que não constam nos melhores dicionários brasileiros. Constituem um belo desafio para a área de Linguística das universidades pelotenses.

Nota da redação: Abaixo, 25 da mais de uma centena de palavras identificadas por Luiz Carlos. Pouco a pouco, postaremos outros lotes de palavras até totalizá-las.

Segue Luiz Carlos:

Ó = Olá! (cumprimento de passagem)

Em Pelotas, uma menina cruza com outra na rua e não fala “Olá!”; ela diz simplesmente “Ó!” A resposta é idêntica “Ó”!

Merece = forma de resposta a um agradecimento

A palavra “merece” é repetida em Pelotas dezenas de vezes por dia; é a palavra de despedida de todos os empregados do comércio.

“Meu amigo, obrigado por tudo o que você fez”. Resposta: “Merece!”

Querida = simpática

No sentido de simpática, só em Pelotas.

“Eu acho aquela guria tão querida; ela está sempre sorrindo”.

Periga = corre o risco

“Se a gente não chegar cedo nas arquibancadas, periga não encontrar mais lugar”.

Invaretado = nervoso, irritado

Fresteiro = o que olha pelas frestas

Em Pelotas, nas décadas de ‟40 e ‟50, era comum no alto verão as casas deixarem frestas nas janelas da frente para ventilar. Os fresteiros aproveitavam para olhar para dentro dos quartos à noite. Eram poucos e conhecidos, e apontados na rua.

“Se eu pego um fresteiro olhando pra dentro da minha casa à noite eu dou uma marretada na testa dele. Vai ter uma bela dor-de-cabeça!”

Coquear = carregar sacos na cabeça

Até a década de ‟60 o descarregamento de um navio (estiva) em Pelotas era manual. É dessa época o jargão local ‘coquear saco’. Os produtos eram importados em sacarias e não restava outra alternativa aos estivadores a não ser carregar os sacos na cabeça.

“Ora, vá se danar! Vai coquear saco na estiva!”

Pirica = sujeito que vive explorando os outros

“Sai de perto desse sujeito que ele é um pirica de marca maior. Já, já ele te pede alguma coisa”.

Ligada = com muita sorte

“Como é ligada aquela guria! Ganhou num concurso da rádio uma viagem para o Rio de Janeiro, com passagem e estadia”.

Baratilho = liquidação

Do espanhol “baratillo”. (Conjunto de cosas de poco precio, que están de venta en lugar público. Tienda o puesto en que se venden).

“Vamos aproveitar o baratilho das Casas Pernambucanas, que é só 1 semana”.

Se tapar = cobrir-se com coberta

“Com esse frio que está fazendo a gente tem que usar dois cobertores do Uruguai e se tapar até às orelhas”.

Ir aos pés = evacuar

Expressão muito antiga, provavelmente da época em que as privadas eram muito precárias, e poucas, e se ia no mato, agachado.

“Eu não fui aos pés nem ontem, nem hoje. Vou ter que tomar um laxante forte”.

Cacetinho = pão francês

Até o fim do século XIX, o pão mais comum no Brasil era completamente diferente, com miolo e casca escuros. Na época, era bastante popular em Paris um pão curto com miolo branco e casca dourada – espécie de precursor da baguete, atual predileção dos franceses. Os viajantes de famílias que voltavam de lá descreviam o produto a seus cozinheiros, que tentavam então reproduzir a receita pela aparência. O resultado foi a invenção do pão francês brasileiro. Em algumas regiões do país ele se difere de sua fonte de inspiração européia, por poder levar um pouco de açúcar e gordura em sua composição. Com o tempo, o novo pão foi ganhando apelidos locais diferentes, como cacetinho (Rio Grande do Sul), pão careca (Pará), média, filão, pão jacó (Sergipe), pão de sal, ou pão carioquinha (Ceará) em diferentes cidades do Brasil (Wikipédia).

Balaqueiro = que canta vantagens

Ao que tudo indica, a origem está na palavra “balaca”, que, segundo o Caldas Aulete, significa Bazófia, fanfarronice (Gír.).

“A gente não pode acreditar nas coisas que esse cara diz. Só canta vantagem. Ele é o maioral. Ele é um bruta balaqueiro”.

Soleira = blusa feminina, decotada e sem alças

“É uma blusa que expõe os ombros nus ao sol”.

“Tia Branca: Com esse sol que está fazendo, só saindo de soleira”.

Dar de si = ceder, afrouxar

Um dos lemas oficiais do “Rotary International” é “Dar de Si Antes de Pensar em Si”. O sentido está muito longe de “afrouxar”.

“O elástico da minha calcinha deu de si e agora ela está muito folgada”.

Tercelim = trancinha de algodão, passamanaria

“Tercelim” para oficial dourado é um colar de metal dourado (trancelim), constituído por uma corrente que sustenta uma placa em forma de meia-lua, tendo, ao centro, o distintivo da Unidade de Infantaria de Guarda em alto relevo, tudo em metal dourado.

“Aquela mulher é tão caprichosa que ela coloca tercelim como arremate até nos panos de prato”.

Churrio = desarranjo intestinal

“Hoje eu não posso sair de casa. Meu intestino virou um churrio só; é água pura”.

Joquear =a dministrar uma dificuldade

Joquear é uma arte. Do cavalo até o jóquei é uma ciência, é uma arte. Quer dizer, a gente tem de estudar todos os cavalos que estão correndo, lembrar de como normalmente eles correm, quem são os jóqueis, como eles lidam com os cavalos e saber como mexer com tudo isso de uma só vez.” O jóquei LUIZ GONZALEZ nasceu no Chile, em 1909 e faleceu em São Paulo, em 1990 (Wikipédia).

“Eu preciso fazer uma cirurgia, mas eu tou joqueando. Quero ver se empurro para o ano que vem”.

Putiar = xingar

“Eu tive que putiar aquele guri estouvado; trouxe as compras da venda e deixou cair tudo no chão”.

Recheada= sanduíche

O termo faz todo o sentido. Originalmente, a recheada em Pelotas era feita com duas fatias de pão-de-forma, com um recheio de manteiga, presunto e queijo entre elas.

“Eu prefiro a recheada de cacetinho, com manteiga, presunto e queijo.”

Nata batida= creme chantilly

O creme chantili (do francês chantilly) é um tipo de creme fresco de leite (nata) fortemente emulsionado, ligeiramente açucarado e com leve aroma de baunilha. A receita original, do século XVII, é atribuída a François Vatel.

“A sobremesa que eu mais gosto é a de morangos com nata batida”.

Fervo = onde “ferve” a animação

“Essas gurias são impossíveis. Elas querem sair de noite pro Carnaval. Mas não é pra olhar; o que elas querem é ir pro meio do fervo da rua XV”.

Casa de cômodos = pensão familiar

A Casa Ferreira de Azevedo é um prédio histórico de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, localizado à rua Riachuelo 645. A primeira menção a este prédio é encontrada no Arquivo Municipal, onde consta como de propriedade de Firmina Ignácia Soeiro a partir de 1893 até 1899. Entretanto, por suas características estruturais e arquitetônicas, deve ser de construção bem anterior. Em 1946 foi instalada ali uma casa de cômodos de aluguel. (Wikipédia)

“Eu não tenho dinheiro pra pagar o aluguel de uma casa; tenho que me conformar em morar com a família numa casa de cômodos”.

Meia-hora = meio-dia e meio ou meia noite e meia

“O almoço será servido à meia hora, em ponto!”

Lote 1

(*) Luiz Carlos Marques Pinheiro nasceu em Pelotas, em 12/01/1940, onde estudou nos colégios São Francisco e Pelotense. Em 1961, foi trabalhar em São Paulo, onde se casou alguns anos depois com Suzana do Couto Rosa Pinheiro, tendo duas filhas: Beatriz e Izabel (na foto, com o pai). Formou-se em Direito na Faculdade São Francisco, desempenhando atividades profissionais em várias empresas, destacando-se o Banco Bandeirantes, onde foi diretor de marketing. Faleceu em São Paulo, em 16/12/2021. Embora morando há 60 anos fora, ele adorava Pelotas e tinha um blog sobre a cidade.

Pelotas e RS

Desembargador mantém suspensão de projeto de lei da prefeita Paula que autorizava Associação Rural a construir loteamento em área doada pelo Município

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Concordando com decisão liminar do juiz Bento Barros, o desembargador Voltaire de Lima Moraes, do Tribunal de Justiça do Ro Grande do Sul, manteve suspensa a tramitação na Câmara de projeto de lei de iniciativa da prefeita Paula Mascarenhas que autorizava a Associação Rural a erguer um empreendimento imobiliário em uma área de 25 hectares, equivalente a 25 campos de futebol profissional.

O caso vai agora à segunda instância.

O terreno ocupado pela Rural foi doado pelo Município em 1959, para uso não comercial. Por isso, foi surpreendente a iniciativa da prefeita.

Na lei da doação de 1959, um artigo estabelece que o terreno não pode ser alienado, no caso, para ser comercializado. O prefeito da época incluiu a cláusula pensando no bem do Município, na lisura da relação entre os entes público e privado e, por óbvio, na própria reputação – para que não recaísse sobre si a suspeita de intermediação e favorecimento.

Se todo beneficiário de doação de terrenos do Estado tivesse autorização deste para comercializar glebas ganhas dos governantes, e resolvesse fazê-lo, seria um escândalo, não? Pegaria mal para todos os envolvidos. Sendo assim, a decisão liminar do juiz Bento Barros, suspendendo o trâmite da Lei de Paula, reconfirmada pelo desembargador Voltaire, faz sentido lógico. Está respeitando o que diz a legislação, de significado moral perene.

Sobre o caso do terreno na Rural, além do dito até aqui, em várias matérias, vale acrescentar: se grande parte da área doada à Associação está ociosa (ao ponto de considerarem erguer um empreendimento imobiliário nela), o correto não seria devolvê-la ao Município, para que este dê destinação social à área ou para que a venda, por licitação, para investidores interessados, pelo melhor preço? Parece, igualmente, ser o lógico.

A doação, como se depreende, foi desmedida.

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Pelotas e RS

Artigo que proíbe venda de terreno doado à Rural buscou preservar o interesse público e a reputação do governante

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A intenção da prefeita Paula Mascarenhas de autorizar na prática, por lei, a Associação Rural a erguer um empreendimento imobiliário num pedaço da área que esta ocupa, por doação do Município, tem um impeditivo legal.

Na lei da doação, de 1959, um artigo estabelece que o terreno não pode ser alienado, no caso, para ser comercializado. O prefeito da época incluiu o artigo pensando no bem do Município, na lisura da relação entre os entes público e privado e, por óbvio, na própria reputação – para que não recaísse sobre si a suspeita de intermediação e favorecimento.

Se todo beneficiário de doação de terrenos do Estado tivesse autorização do governante para comercializá-los, e resolvesse fazê-lo, seria um escândalo, não? Pegaria mal para todos os envolvidos. Sendo assim, a decisão liminar do juiz Bento Barros, suspendendo o trâmite da Lei de Paula, faz sentido lógico. Está respeitando o que diz a legislação, de significado moral perene.

Diz o artigo: “A legislação (da doação de 1959) estabeleceu que a sociedade beneficiária (Rural) não poderia alienar o imóvel ou parte dele em nenhum momento, sob pena de caducidade da doação e retorno do imóvel, juntamente com todas as benfeitorias existentes, ao patrimônio do Município de Pelotas. Portanto, até o momento, o direito de dispor e reaver o imóvel é do Município de Pelotas, integrando o seu patrimônio.”

Entre os defensores da Lei de Paula, há quem sustente que o artigo impeditivo caducou no tempo. Supondo que caducou, então que caduque também a doação de 1959 de toda a área da Rural, já que a cláusula faz parte da mesma lei. Quando argumentam que o “artigo caducou”, desviam do essencial: a preservação do patrimônio público e de sua função social (que não tem coloração ideológica) e o mal que faz a insegurança jurídica vigente no País.

Por que a prefeitura deveria abrir mão de uma área que ela própria pode vender, por licitação, da qual poderiam participar inclusive vários players. Poderia inclusive, por exemplo, reservar a área para um conjunto do Minha Casa, Minha Vida

Estima-se que o terreno pensado para aquele empreendimento imobiliário (25 hectares, equivalente a 25 campos de futebol profissional somados) valha cerca de R$ 100 milhões. Mesmo que valha a metade ou ainda menos, é uma montanha de dinheiro. Por que entregar patrimônio assim, se a solução – a favor do Município – poderia ser outra, interessante ao interesse público?

Por que a prefeitura deveria abrir mão de uma área que ela própria pode vender, por meio de licitação, da qual poderiam participar inclusive vários players, como os empresários gostam de se referir a si mesmos. Poderia inclusive, por exemplo, reservar a área para um conjunto do Minha Casa, Minha Vida, com a vantagem de estar integrada à malha urbana e não distante, como habitualmente.

Sobre o caso do terreno na Rural, além do dito até aqui, vale acrescentar: se grande parte da área doada à Associação está ociosa, o correto não seria devolvê-la ao Município, para que este dê destinação social a ela? Ou a venda por licitação a investidores interessados, pelo melhor preço? Parece, igualmente, o lógico. A doação, pelo que se depreende, foi desmedida.

Não fosse pela razão legal e de lisura com o trato da coisa pública, a prefeitura vive hoje um déficit de caixa grave. O déficit em 2023 alcançará em dezembro R$ 110 milhões e, em 2024, segundo a Lei de Diretrizes Orçamentárias, será de R$ 282 milhões. Mesmo que não estivesse deficitária, abrir mão da área, à luz da moralidade e do interesse público, é questionável.

Note ainda: o projeto de lei foi enviado pela prefeita à Câmara sem que a matéria fosse trazida a público para debate, ou comunicada no site da prefeitura. Por que? Além disso, o projeto foi à Câmara no final do ano, época em que a sociedade, pensando nas festas e nas férias, se desmobiliza. No final do governo. Tais fatores denotam consciência da dificuldade da empreitada.

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