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Pelotas e RS

“Praia do Laranjal é um lugar onde se tem a consciência do que é um ser vivo”. Por Luiz Carlos Marques Pinheiro

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Conheci Luiz Carlos Marques Pinheiro mais ou menos há 10 anos. Ele me contou que escrevia crônicas sobre Pelotas, memórias do tempo que viveu aqui. Já há quase 50 anos morando em São Paulo, não esquecia Pelotas. Viajava sempre para cá. Um primo de Luiz, Francisco de Paula Marques Rodrigues, me contou que ele havia falecido e deixara um acervo de crônicas sobre a cidade que, na opinião dele, merecia ser mais amplamente divulgado. Interessei-me em publicar na forma original, conforme as memórias dele, memórias de décadas passadas (RSA)

Outros textos de Luiz Carlos Marques Pinheiro

Luiz Carlos e esposa,
Luiz Carlos e a esposa, Suzana

Por Luiz Carlos Marques Pinheiro (*), crônica publicada originalmente há 11 anos

Foto: de Rogério Elste

Ano 2012. A Praia do Laranjal é uma praia única no mundo. Se consideradas todas as suas peculiaridades, todas as variáveis, não encontra similar em nenhum lugar do mundo. Acontece que a Praia do Laranjal não é só uma praia… É um conceito!

Só o fato de estar localizada às margens da Lagoa dos Patos, considerada a maior lagoa do mundo, já a torna única; já é um presente dos céus. É claro que existem outras praias na Lagoa dos Patos, mas nenhuma com um charme tão especial e com tanta personalidade. Sem contar a infraestrutura de que dispõe.

A Lagoa dos Patos deve ser a única lagoa no Mundo em que não se enxerga a outra margem, porque ela emenda com o oceano. O que, de novo, faz do Laranjal uma praia única. Curioso é que os pelotenses não valorizam esse fato… nem fazem referência.

Maior lagoa do mundo

Era de se esperar que o Laranjal ostentasse enormes placas com os dizeres “A MAIOR LAGOA DO MUNDO’’. E os cardápios de todos os restaurantes da praia mostrassem em letras garrafais “A MAIOR LAGOA DO MUNDO’’. E que todos os cartazes de propaganda e folhetos distribuídos na praia dissessem no cabeçalho, em letras garrafais, “A MAIOR LAGOA DO MUNDO’’.

Realmente, a Lagoa não tem recebido o reconhecimento que merece!

Até mais ou menos quarenta anos atrás, a praia era considerada apenas um local de lazer, de final de semana (fora, é claro, a temporada). Em consequência, as casas eram bem simples, sem maiores pretensões: casa de final-de-semana; bastava que oferecesse um certo conforto. Havia um número muito grande de chalés de madeira.

Embora oficialmente compreenda os balneários Santo Antônio, Valverde e Balneário dos Prazeres, para os frequentadores a praia do Laranjal é uma praia só. Afinal, a praia tem só 2 km de extensão.

O loteamento do Laranjal, entendido como tal o Balneário Sto. Antônio, é relativamente muito novo. Os primeiros passos foram dados somente a partir de 1952; portanto, há cinquenta anos atrás o loteamento tinha apenas dez anos.

O tempo passou e os conceitos mudaram. O pelotense viu que tinha uma possibilidade de fugir de uma cidade que estava ficando muita agitada e conseguir ter uma qualidade de vida muito melhor, se fosse morar no Laranjal.

O padrão das casas mudou radicalmente e hoje se encontram verdadeiras mansões no Laranjal. Todas casas de muito bom gosto. Uma vitrine de estilos arquitetônicos (acredito que haja, até, uma certa competição).

Eu moro em São Paulo há mais de cinquenta anos, mas todos os anos venho passar o verão no Laranjal. Chego a ficar na praia os três meses do verão, nem vou à cidade.

Não vou dizer que é a praia mais linda do Brasil. Copacabana é a mais linda de todas. E há outras respeitáveis, como Ipanema, o Guarujá, as praias do Nordeste… Não se trata disso. Mas para quem conhece o Laranjal, essa é a praia. Não há igual. Porque a Lagoa proporciona, para os frequentadores do Laranjal, condições inigualáveis.

Basta dizer que quem mora em Pelotas pode se dar ao luxo de morar na cidade e ter uma casa maravilhosa na praia, a apenas dez minutos de distância. Só 12 quilômetros separam a cidade da praia. É um caso único. Para Pelotas, é uma dádiva. É só tirar o carro da garagem… e, pronto, já chegamos.

A água da lagoa é chamada de água doce. Porém, quando o nível da lagoa baixa, na época das secas, a água do oceano Atlântico invade a lagoa e a água fica salobra. A água salobra, quimicamente, é aquela que tem mais sais dissolvidos que a água doce, e menos que a água do mar. Ela é a resultante da mistura da água do mar com a água doce.

Eu posso assegurar que se a Lagoa fosse de água salgada, o Laranjal não seria, hoje, a praia que é.

Com a entrada da água do oceano na lagoa, vêm junto os camarões, que vão se desenvolver na lagoa, para festa da colônia de pescadores do Laranjal. Numa das extremidades da praia existe uma colônia de pescadores, que moram em casas de pau-a-pique, na maior pobreza, e vivem da exploração da pesca na lagoa.

A pesca no Laranjal é artesanal, feita através de botes, e realizada por esses pescadores locais da Colônia Z-3.

À noite, no verão, são dezenas de luzinhas brilhando ao longe, na lagoa. São os pescadores ganhando o seu pão.

Tranquilidade

A tranquilidade das águas da lagoa é um convite à prática de alguns esportes náuticos, como a prancha a vela, o esqui aquático e a vela. A meu ver, ainda pouco praticados. O horizonte visto da praia pelos banhistas poderia ficar muito mais bonito, mais festivo, enfeitado pelo colorido das velas das pranchas.

O windsurfe é praticado em Pelotas desde 1981. A praia é um ótimo lugar para velejar, porque tem ventos o ano inteiro. A rapaziada vibra!

No período de agosto a março os ventos sopram com muita intensidade. Quando o vento é nordeste, levanta marolas que se prestam para alguns estilos. Quando o vento é oeste/sudoeste, que predominam de abril a julho, favorece outros estilos.

Durante o ano são realizadas várias regatas válidas pelo Campeonato Gaúcho e Regional, e, no mês de outubro, a tradicional Regata Translagoa, que vai de Pelotas a Rio Grande, num percurso de 50 km.

Uma particularidade rara de encontrar em outra praia: Como a declividade do fundo da lagoa é muito suave, os banhistas entram na lagoa e andam mais de cem metros para que a água atinja a altura da cintura. As crianças tiram proveito e brincam à vontade, sem qualquer risco. As mães soltam as crianças, sem nenhuma preocupação com o “mar”, que, na realidade, é um grande piscinão, calmo e convidativo. As mães se dão ao luxo de ficar sentadas na areia e somente acompanhar com os olhos os filhos brincando na água. Imagine! Da areia elas podem controlar as crianças na água. É tudo o que uma mãe quer. Só no Laranjal!

O Laranjal é uma praia tão diferente, tão única, que o banho da tarde tem mais frequência que o da manhã, contrariando todas as outras praias do mundo. Agora, não pretenda que a água seja cristalina. Você não pode ter tudo! O paraíso não existe!

Areia grossa

A areia grossa da praia, se por um lado pode ser um desconforto para o banhista, tem uma grande vantagem, não gruda no corpo. É aquela que você passa a mão no corpo e já está sem areia. Para se sentir mais confortável, basta trazer uma esteira, uma toalha de praia… e curtir a vida, ao sol do Laranjal, que é o mesmíssimo sol que banha Torres ou Búzios; não há nenhuma perda, só ganhos.

No Laranjal se pode comer um sanduíche na beira da praia sem que seja com areia, como no Cassino. Não é à toa que os rio-grandinos são chamados de “papa areia”.

Uma outra característica marcante do Laranjal é ser uma praia frequentada quase exclusivamente por moradores. Os banhistas de outros balneários de Pelotas não invadem o Laranjal. Cada um tem o seu canto e fica no seu canto.

Com isso, o Laranjal se transforma em uma praia quase particular, frequentada exclusivamente por moradores. O calçadão. Os urbanistas, de forma inteligente, projetaram um calçadão, para conforto dos frequentadores do Laranjal, que acompanha os 2 km.de praia, limitando a extensão da areia da praia.

Calçadão merecia pedras portuguesas

A lamentar: a falta de sensibilidade cultural dos governantes. Ao invés de pavimentar o calçadão com pedras portuguesas, que são tão bonitas e que permitem belos desenhos, pavimentaram com bloquetes de concreto, que é mais fácil… Não se deram conta de que o calçadão não é só mais um elemento na paisagem, mas um elemento visual que estimula e enriquece a sensação de bem-estar e de bom gosto.

Uma faixa de terra de mais ou menos cem metros de largura separa o calçadão da Lagoa. Garante aos veranistas espaço suficiente para instalar o seu guarda-sol ou estender uma toalha, sem estar participando da conversa do vizinho. É como se tivesse uma praia só para si, com a vantagem de não haver solidão.

Figueiras anãs

Árvores foram plantadas em toda a extensão do calçadão, já há muitos anos. Coqueiros e figueiras anãs proporcionam muita sombra para os bancos que também foram colocados em toda a sua extensão.

Os frequentadores cuidam com muito cuidado da praia, da sua praia. Não se vê depredação, tão comum nas praias públicas. Os cuidados com a limpeza também são bastante evidentes, tanto da orla quanto das ruas internas.

Se você está lendo um livro, venha ler à sombra das figueiras do Laranjal, no calçadão da praia, ou mesmo na areia. Aquelas figueiras-anãs, com galhos longos que se estendem sobre a calçada e sobre a areia. Em que outro lugar você encontra isso? Eu, pessoalmente, prefiro colocar uma cadeirinha de praia na areia, na sombra de uma figueira e perto do calçadão. Ao mesmo tempo em que você lê à sombra, você está vendo o desfile de gente bonita no calçadão.

Como diz o Sady Homrich, baterista do Nenhum de Nós, “eu não sei se eu escolhi a praia do Laranjal ou se ela me escolheu”. Eu digo o mesmo. O calçadão é um permanente convite a uma boa caminhada, pela manhã e no final da tarde. Proporciona uma atividade física necessária e saudável. São dezenas de frequentadores caminhando – e correndo – no calçadão todos os dias, botando para fora as toxinas e respirando ar puro. Nada mais saudável!

À noite, na temporada, a sensação que se tem é que toda a cidade está na praia. Todos os bares estão lotados, todos os restaurantes, todas as mesinhas na rua. O calçadão vira a passarela dos frequentadores. Famílias inteiras saem a passear. E os bancos do calçadão ficam lotados com o pessoal que se distrai somente vendo o passeio dos outros. Os carros ocupam todas as vagas disponíveis à beira do calçadão, em toda a sua extensão. A turma mais jovem senta do capô dos carros, estacionados “de bico” (como se diz aqui) no calçadão. A cerveja corre solta.

Lua cheia

O nascimento da Lua Cheia na Praia do Laranjal é um espetáculo à parte. A Lua parece nascer do seio da Lagoa e vai subindo lentamente ao céu. Um enorme disco prateado, refletindo a sua luz esbranquiçada nas águas calmas da Lagoa. Um espetáculo indescritível. Uma festa para os amantes da fotografia…. e de quem tem sensibilidade. Como a infraestrutura de apoio é muito boa, com vários bares e lanchonetes junto ao calçadão, não é preciso ir em casa para jantar; para não perder tempo, pode comer por ali mesmo.

Se quiser um nível melhor de lanchonete ou de restaurante, é só atravessar para o outro lado da avenida e escolher, que há muitos bons restaurantes. Se eu tivesse que fazer um convite a uma amiga eu diria: Venha andar de pés descalços nas nossas ruas de terra. Aliás, todas as ruas internas são de terra (Graças a Deus!). Nós acreditamos que o contato direto da sola dos pés com a terra descarrega as tensões e os maus pensamentos. Calçamento, só na praia.

É verdade que se paga um preço pelas ruas de terra. A poeira fininha que a brisa às vezes levanta cobre o chão das nossas casas, mas ninguém reclama. É barato. Não há nada que um pano úmido não tire, e não é todos os dias.

Caminhar na areia

A compensação? Poder andar de bicicleta nas ruas de terra como se estivesse deslizando; passear, devagarinho, podendo olhar as árvores, ouvir o cantar dos pássaros, sentir uma leve brisa no seu rosto. Não há nada que se compare ao chiado das rodas da bicicleta nas ruas de terra. É simplesmente repousante. Só quem já passou por isso, sabe! Você se dá conta que é um ser vivo, sensível, com emoções. Quanta diferença da vida na cidade!

Quem não mora na avenida da praia, mas nas chamadas “ruas de dentro”, de areia, prefere deixar o carro em casa e andar pelo chão de terra, arrastando os chinelos de dedo até à praia. Descarrega a tensão do dia-a-dia.

Não é por outra razão que o Laranjal é considerado uma Praia Conceito. Conceito de modo de vida e de qualidade de vida.

No Laranjal não se derruba árvore, pelo contrário, muitas árvores são plantadas. Há um estímulo para a manutenção de jardins bem cuidados nas casas. Enfim, o Laranjal oferece muito verde graças aos seus moradores.

Na esquina da praia, na avenida, em frente ao Calçadão, existe um Shopping Center, para conforto dos frequentadores. Um restaurante, uma padaria, uma farmácia, uma sorveteria, lojinhas de roupa esportiva e de banho, mesinhas na calçada, são o suficiente para uma satisfação imediata.

Para os veranistas, a cidade é tão próxima que alguns vão à cidade quase todos os dias. Um supermercado, a meio caminho da cidade, é o suficiente para abastecer os veranistas. Dois postos de gasolina e um fornecedor de botijões de gás se encarregam do abastecimento. A praia ainda não tem gás encanado.

Ninguém buzina

Venha passear de carro na Avenida da praia, à noite, a 20 km por hora. Entre o calçadão da praia e a calçada do outro lado da rua, fizeram duas pistas de rolamento, com um canteiro central. À noite, tudo iluminado, é a praia dos veranistas. Todos os carros vêm para a avenida, e fazem quase um corso de Carnaval, andando bem devagarinho, para melhor curtir o momento. Aviso que a marcha lenta tem que estar muito bem regulada. Um carro atrás do outro; ninguém ultrapassa ninguém. É comum um carro emparelhar com o outro e os ocupantes conversarem. E atentem! Ninguém buzina.

Muita gente da cidade vem passear no Laranjal à noite, porque sabe que a curtição vale a pena.

Em pleno verão, à noite, você encontra lugar em qualquer barzinho da praia ou nos restaurantes, não tem aquelas esperas intermináveis que você conhece. Você vai dizer: assim não tem graça! Não tem agito! Eu lhe direi: se você quer agito vá pra Torres! Aqui você tem paz, curte o prazer de conviver com os amigos, de um bom papo ao ar livre.

Tem a consciência de que é um “ser vivo”.

(*) Luiz Carlos Marques Pinheiro nasceu em Pelotas, em 12/01/1940, onde estudou nos colégios São Francisco e Pelotense. Em 1961, foi trabalhar em São Paulo, onde se casou alguns anos depois com Suzana do Couto Rosa Pinheiro, tendo duas filhas: Beatriz e Izabel (na foto, com o pai). Formou-se em Direito na Faculdade São Francisco, desempenhando atividades profissionais em várias empresas, destacando-se o Banco Bandeirantes, onde foi diretor de marketing. Faleceu em São Paulo, em 16/12/2021. Embora morando há 60 anos fora, ele adorava Pelotas e tinha um blog sobre a cidade.

Eleições 2024

Motivos que podem fazer Daniel Trzeciak não concorrer a prefeito

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Está longe, mas, como as especulações eleitorais começaram, não é descabido considerar que o deputado federal Daniel Trzeciak, do PSDB, possa não concorrer a prefeito de Pelotas em 2014.

Pelos seguintes motivos:

1. Os eleitores não gostam de políticos que abandonam mandatos no meio. Além disso, a região perderia seu único representante no parlamento, logo ele, responsável por trazer grande quantidade de verbas de emendas para hospitais, obras etc.

2. O salário de deputado é de R$ 41,6 mil. O de prefeito, R$ 15 mil.

3. Prefeitura está com déficit grave nas contas públicas. Somados o déficit de 2023 e o previsto em lei para 2024, dá um acumulado de R$ 400 milhões, um quinto do orçamento público anual da cidade, de R$ 2 bilhões.

4. O clima de Brasília, seco, segundo orientações de saúde, é mais favorável à filha do deputado, de um ano de idade, do que o úmido clima pelotense.

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Pelotas e RS

Prefeita insiste e vai recorrer contra decisão judicial que suspende projeto de lei que autoriza Associação Rural a construir empreendimento imobiliário

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A pedido da prefeita Paula Mascarenhas, a Procuradoria do Município vai recorrer judicialmente para manter em curso na Câmara um projeto de lei do Executivo que autoriza a Associação Rural de Pelotas a construir um empreendimento imobiliário sobre um terreno de 25 hectares (igual ao tamanho de 25 campos de futebol profissional).

A Procuradoria vai alegar que, pela Lei 948, de 1959, o terreno está doado pelo Município à entidade. É verdade. Porém, com base na mesma lei citada, o juiz Bento Barros suspendeu nesta semana o trâmite do projeto de lei. Ele se assenta no seguinte argumento presente na mesma Lei 948:

Decisão surpreendente a da prefeita!

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