Depois de acompanhar por anos os fatos pelotenses como jornalista, eu diria que hoje o debate e a investigação dos temas parecem, menos que mornos, mortos.
Acredito que em parte o desinteresse pelos fatos tem a ver com o desencanto da população, não só com a política, mas com tudo: uma desilusão com a natureza imutável das coisas, apesar do que vende (e compra) a propaganda oficial com seus anúncios pagos com dinheiro dos impostos.
Pelo Brasil despejam rios de dinheiro nos veículos para acomodar verdades. Velhos filmes vistos e revistos. Fórmulas cujos segredos foram conhecidos. De vez em quando os fatos saem de controle e o jogo se complica, mas logo se reacomodam, voltam à inércia. Os velhacos são reabilitados e voltam à cena.
Nessa altura todo mundo já viu que no Brasil a velha imprensa vive do silêncio sobre as verdades e da seleção de algumas delas, conforme a conveniência, em benefício de se viabilizar comercialmente. De viabilizar a sobrevivência.
Existe uma diferença entre comunicação e jornalismo. O que conhecemos no Brasil é a primeira, a que faz concessões à verdade para se viabilizar como negócio. É um show.
Já o jornalismo é uma coisa que, no Brasil, país colonial que se acostumou a agradar o rei por favores deste, não vingou. É uma atividade que nem chega a ser degradante porque nunca chegou a ser jornalismo, embora às vezes pareça. Já nasceu degradada.
Nos Estados Unidos, jornalismo existe porque não tiveram rei. A imprensa lá sempre foi algo sagrado, como a liberdade. Ao contrário de nós, nada esperam do governo. O mesmo ou parecido acontece em outros países democráticos mais ricos, menos dependentes do governo.
No Brasil, tudo é pior em cidades não tão grandes, onde a economia, com exceções negociais, é precária e, por isso, a imprensa é ainda mais dependente financeiramente não só do governo, também de um número reduzido de anunciantes privados.
Além disso, em cidades não tão grandes tudo fica batido rápido. Mas não é só aqui. No país inteiro, minha impressão é de que tem sido uma ladeira só, uma ladeira pior porque foi ensebada, como aqueles paus de fita.
Só não é pior porque inventaram a internet e as redes sociais. Depois da chegada delas, a liberdade de informação aumentou, sobretudo em países puxa-sacos de rei, como o Brasil, daí o governo federal vir tentando censurar a liberdade de expressão na internet e nas redes sociais. Não estão acostumados com liberdade. Não gostam dela porque querem contunar a controlar o jogo, como sempre.
Há outro aspecto. O chamado cidadão, em grandes porções pobre e deseducado, é tão vulnerável que o respeito da imprensa por ele é proporcional à deseducação deste. Por ele ser deseducado, e por ter fidelidade volúvel, é tratado como um consumidor de segunda classe, a quem tudo se empurra porque tudo engole.
Esse show, porém, tem ficado evidente mesmo entre esses deseducados porque, pela maior liberdade de imprensa na internet, o monopólio da informação acabou.
Talvez um dia o Brasil mude. Os modos de produção e os mecanismos de pressão social mudaram tanto (vem mudando rapidamente) que o modelo de negócio atual vem desmoronando, obrigado a se adaptar para não morrer de vez, como alguns vêm morrendo. Quem sabe? Pesadelos não duram para sempre. Vale a pena sonhar.