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Sobre Anniele e o tal ‘racismo’ no termo buraco negro

A ministra da Igualdade Racial, Anniele Franco, considera Buraco Negro um termo racista. Se vivo, e sabendo, o físico John Wheeler, autor do termo, levaria a mão ao bolso para impedir a queda dos butiás. Nos anos 70 ele concluiu que há uma região do espaço-tempo cuja força gravitacional é tão intensa que nem a luz escapa de ser tragada. O buraco não poderia ter outra cor que não a que se vê na ausência de luz.

Não há como negar o mal do racismo e o ressentimento decorrente, do qual a ministra, com o que disse, dá uma ideia da absurda extensão que pode atingir.

Já aconteceu comigo de ser vítima de julgamentos apressados por questões raciais. Ainda que incômodo, teve lá a sua graça.

Numa audiência com dirigentes da Universidade Federal de Pelotas (que acabara de eleger a atual reitora), pensei que estava sendo simpático ao dizer: “Falam mal das mulheres louras, mas temos agora duas no comando das mais importantes instituições locais, a prefeitura e a UFPel”. Porém, um jovem negro, creio que professor da Universidade, não gostou.

“Não se deve fazer comentários assim sobre gênero”, repreendeu.

Embora a vontade na hora fosse outra, minha reação foi civilizada:

“Talvez eu não tenha sido bem compreendido.”

Eu estava elogiando, ainda mais que as mulheres, as louras, que de burras nada teriam, como ainda se diz que têm, provavelmente pelo estereótipo criado pelo cinema americano – Marilyn Monroe, seus modos, e suas sucessoras. Estava, na verdade, indiretamente me solidarizando com todas as vítimas de preconceitos, de toda cor e raça. Não sei se o rapaz acabou entendendo. Presumo que não.

Com tantas mágoas à disposição, o tempo todo há rancores emergindo, úteis como uma esponja de bombril, com mil e uma utilidades.

Mesmo que a vida fosse justa (nunca é), estou certo de que, ainda assim, haveria mágoas e rancores entre nós. Algo na substância humana sempre reclama, ofende e perturba o Universo. Sempre uma Gaza no caminho, redes subterrâneas, muros de lamentações. O incrível, o realmente espantoso, é perceber o quanto podemos fazer do problema um modo de sobrevivência. Na política, é um clichê.

Quando se reclama de algo, algo em tese deve ser reparado. A busca de reparação pode dar “sentido” a uma vida, justificar um emprego, um salário, uma promoção, uma cátedra, voos fúteis pagos pelo contribuinte, verdadeiras bombas no ar. Sendo assim, para os guerreiros, é melhor que nunca ocorra o reparo e sim que se criem novos problemas, mesmo quando não há razão lógica para tal, a não ser – claro – a de conduzir a novos reparos, o que sempre dá um certo trabalho ao indignado, conhecido como “ativista social”.

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