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Opinião

Queria saber como era a política? Espie o facebook

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Todo mundo, acredito, teve vontade de abandonar o facebook, e abandonou, depois voltou. Conheço quem nunca usou. Eu acabei voltando.

É impossível ignorar o facebook. Ele existe, e é uma arena. Queria saber como é o ambiente da política? Não precisa entrar, espie o facebook. Democraticamente, ele reflete, em forma de drama, a política, cuja arte – dizem – é harmonizar os contrários em torno de consensos. Estava pensando que era moleza?

Sabe aqueles espelhos de circo, em que rimos de nós mesmos enquanto eles nos deformam a imagem? O facebook é um leiaute da multiplicidade vital, inclusive da disposição deliberada para mentir, como fazem os produtores especializados em fake news.

Por preconceito e ignorância momentânea ou definitiva, mentimos nós também, sem querer, procurando ser sinceros. Compreendo, acho…

A pior coisa que pode ocorrer a uma pessoa é perder a autoconfiança, porque ela nos dá a certeza de que estamos evoluindo para um lugar melhor, mesmo que seja ao precipício de uma catarata, onde a beleza da caminhada por um sentido permanece.

O que noto no facebook é que nos exprimimos nos espremendo. A vida deve ser algo maior do que isso, não é possível!

Acho bárbaras todas as batalhas, mas a sensação que prevalece é de dissenso. Pelos conteúdos publicados, creio ser pacífico o fato de que sempre vivemos uma espécie de guerra subterrânea, com trégua na superfície.

Exposta como um nervo, essa guerra foi um avanço, pois diminuiu a hipocrisia. Mas o avanço só se confirmará se a pulsão social provocar reações oficiais.

O facebook, que em tradução radical poderia ser descrito como “Livro da Nossa Cara”, confirma algo difícil de aceitar: que a paz é um evento impossível na natureza.

Alguém disse que “tirando a morte, tudo numa guerra é bom”. Talvez porque nesses momentos os homens belisquem o sonho da irmandade, materializada em “sobreviver”, único objetivo comum que a rigor nos une.

Às vezes me ocorre que a guerra é o que dá valor à vida, apesar dos efeitos nocivos. No sentido de que a paz plena nunca aconteceu porque deve ser uma coisa tão tediosa quanto são as cerimônias do Prêmio Nobel. Vc sabe!

Quando pisa naquele tapete real, o sujeito já anda meio morto por retiro e elevação, no quilômetro final antes do desconhecido, o maior de todos os precipícios. Já a maioria de nós segue habitando a planície, tentando encontrar o sol entre as montanhas.

Ultimamente, acompanhando os acontecimentos no Brasil e no mundo, homens-bomba, países-bomba, pessoas bombando no face, essas coisas, constato com assombro o que sempre foi evidente, que as pulsões são ferozes, crescentes e incontornáveis, daí o sucesso online da correspondência, mesmo que mude a plataforma.

Às vezes penso que o mundo era melhor sem as redes sociais. Não era. Penso isso porque sinto que necessitamos em parte da ilusão do outro, algo que o facebook destrói.

Afinal, é natural supor as melhores expectativas nos semelhantes e suscitar neles boas impressões, imaginar que somos todos capazes de compreensões acima da linha terrena, bruta. Nem sempre isso é possível.

No fundo, é uma questão estética. Acredito que a contenção dos sentidos, ao menos o esforço de racionalidade na hora de se exprimir, é edificante, enquanto a dispersão dissolve a vida. Posso estar errado, mas, agora que a Caixa de Pandora foi aberta, só nos resta comprar lentes novas e aumentar a vigilância dos filtros.

Não que a verdadeira face individual seja ruim de ver. É que as reações parecem confirmar que somos mais capazes de nos afastar pela diferença do que de nos unir pela semelhança. Vivemos um tempo estranho, em que a guerra se deslocou para o mundo virtual, sem a mesma solidariedade verificada em um campo de batalha presencial.

A serventia maior do facebook vem quando é analisado à luz de outro tédio, a ciência. Uma de suas conclusões: quando nos expressamos de forma digna (com sinceridade), rompemos a magia da ilusão que os outros alimentam em nós. Mas, como na ciência, só temos certeza de que demos um passo adiante quando analisamos os fatos como eles realmente são.

O caso é que, aparentemente por medo, em vez de avançar, ficamos presos na distração das guerras.

Rubens Amador. Jornalista. Editor do Amigos de Pelotas. Ex funcionário do Senado Federal, MEC e Correio Braziliense. Pai do Vitor. Fã de livros, de cinema. E de Liberdade.

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Cultura e entretenimento

Guerra civil, o grande filme do ano até agora. Por Déborah Schmidt

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Guerra Civil mostra a fotojornalista Lee Smith (Kirsten Dunst) e o redator Joel (Wagner Moura) em meio a uma guerra civil que dividiu os Estados Unidos em diversas facções políticas. A dupla pretende conseguir uma entrevista com o presidente, mas para isso, precisa atravessar um país dividido e enfrentar uma sociedade em guerra consigo mesma. A dupla é acompanhada por Jessie (Cailee Spaeny), uma jovem fotógrafa, e Sammy (Stephen McKinley Henderson), um repórter veterano.

Dirigido e roteirizado pelo premiado Alex Garland, o filme explora uma trama ambientada em um futuro distópico, porém não tão distante e nem tão improvável. Conhecido por filmes como Ex Machina (2014) e Aniquilação (2018) e pelos roteiros de Extermínio (2002), de Danny Boyle e Não Me Abandone Jamais (2010), de Mark Romanek, Garland apresenta uma mistura de ação e suspense ao apresentar a viagem de carro do quarteto de Nova York até Washington. Durante o trajeto, registram a situação e a dimensão da violência que tomou conta das ruas, envolvendo toda a nação e eles mesmos, quando se tornam alvos de uma facção rebelde.

Como a dupla de protagonistas, os sempre ótimos Kirsten Dunst e Wagner Moura criam um contraponto perfeito. Enquanto Lee já está entorpecida e demonstra frieza com relação ao caos, Joel é mais relaxado e conquista o público através do carisma. A serenidade do grupo pertence a Sammy, em um personagem que é impossível não simpatizar, ainda mais com a excelente atuação de  Stephen McKinley Henderson. Cailee Spaeny, que já havia se destacado em Priscilla (2023), repete a qualidade com Jessie, uma jovem tímida, mas ousada, e que está seduzida pela adrenalina da cobertura de uma guerra. Ainda no elenco, Nick Offerman vive o presidente dos EUA, e Jesse Plemons faz uma participação curta, porém intensa, na cena mais perturbadora do longa.

Com a qualidade técnica já conhecida dos filmes da A24, a produção mescla a todo o momento sons de tiros ensurdecedores a um silêncio que fala ainda mais alto, em uma verdadeira aula de edição e mixagem de som. A fotografia de Rob Hardy (parceiro de Garland desde Ex Machina) flerta com o documentário e a trilha sonora de Geoff Barrow e Ben Salisbury (também parceiros de longa data do diretor) é discreta, mas extremamente competente ao servir como alívio de momentos mais tensos.

É instigante acompanhar a jornada desses jornalistas e o filme definitivamente se beneficia deste fato. Através de frames com fotos realistas, em preto e branco, que surgem em meio às cenas mais duras, o filme aposta na fotografia para contar sua narrativa. Mesmo que acostumados com a violência, os jornalistas são os melhores personagens para retratarem essa história e, por mais que tenham seu posicionamento frente ao conflito, o trabalho deles é apenas registrar o que está acontecendo, deixando que o público tire as suas próprias conclusões. Guerra Civil é uma bela homenagem ao papel desses profissionais em momentos de crise.

Em cartaz nos cinemas, Guerra Civil é o grande filme do ano até o momento. Um olhar crítico e sensível, ainda que essencial, sobre a nossa própria realidade.

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Comentário em vídeo: Liberdade de expressão

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