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Cultura e entretenimento

Noite de charlas, tertúlias e milongas literárias com especialistas em Simões Lopes Neto. Por Geraldo Hasse

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Geraldo Hasse (republicado do )

Quem gosta de charlas, tertúlias e milongas literárias sobre a cultura gaúcha e, particularmente, sobre a vida e a obra do escritor João Simões Lopes Neto, tem uma rara chance de forrar o poncho na quinta-feira 18 de
abril, a partir das 18h30m, na Livraria Paralelo 30, rua Vieira de Castro, 48, bairro Farroupilha, em Porto Alegre.

No centro da mesa, estará o advogado e professor Carlos Francisco Sica Diniz, autor da mais completa biografia do criador do vaqueano Blau Nunes, personagem que se confunde com 1001 peões do Pampa. A seu lado, sempre pronto a trovar com os presentes, o professor Luis Augusto Fischer, da UFRGS, e o juiz aposentado Fausto Domingues, bibliófilo juramentado que colecionou livros e amigos na ex-Princesa do Sul, onde morou por muitos anos.

Da esq pra direita: Fausto Domingues, Carlos Francisco Sica Diniz e Luis Augusto Fischer no lançamento (dia 14/3 em Pelotas) do livro “João Simões Lopes Neto — uma biografia”, a ser lançado dia 18/4 na livraria paralelo 30 em POA / Foto: Divulgação

É um lançamento de luxo emoldurado por uma centenária coincidência:  faz um século que João Simões Lopes Neto (1865-1916) recebeu o primeiro
elogio público do crítico João Pinto da Silva, autor da “História Literária do Rio Grande do Sul”, livro de 1924 em que o contista pelotense mereceu meia dúzia de páginas ao lado de famosos como Alcides Maia, Apolinário Porto Alegre e Marcelo Gama, entre outros.

Já a nova biografia do hoje consagrado escritor pampeano, tema da noitada da próxima quinta-feira, dia 18 de abril, tem mais de 400 páginas e abrange pela primeira vez um levantamento minucioso dos 51 anos de vida do neto que morreu pobre apesar de ter nascido numa das famílias mais ricas da província, na época. Por ser o mais recente de uma extensa lista de obras sobre JSLN, o livro de Sica Diniz é mais do que uma biografia: ele avalia, comenta, interpreta, contextualiza e repassa toda a vida e a obra do sujeito franzino e vesgo por todos conhecido na terra natal como Joca Simões.

Com seu modo diplomático de escrever, Diniz encara e disseca os aspectos polêmicos da vida do seu personagem, que ressurge quase como figura de
romance. Fora a introdução, os dois prefácios (dos professores Ligia Chiappini e L.A. Fischer) e o posfácio (de Fausto Domingues, que recorda os encontros de amigos em torno de livros em Pelotas), o trabalho de
Diniz se desdobra ao longo de 16 capítulos. Destes, o único de travessia mais difícil é o primeiro, com 14 páginas sobre a genealogia da família Simões Lopes, cujo pioneiro originário de Portugal ganhou da Coroa
muitas léguas de campo na região de Pelotas no final do século XVIII.

O primeiro João Simões Lopes teve 22 filhos. A figura mais folclórica desta parte familiar é Catão Bonifácio Lopes, pai do futuro escritor. É um gauchão largado, quase um capitão Rodrigo Cambará, dado a proezas
muito faladas. Certa vez teria invadido a cavalo o Teatro Sete de Abril para desfeitear a plateia por ter vaiado artistas brasileiros…

Neto do patriarca de mesmo nome, Joca Simões viveu 25 anos no Império e outro tanto na República. Dividiu-se entre a escrita e negócios de duvidoso sucesso. Embora não tenha estudado além do ensino médio, era culto, bem relacionado nos meios literários e se envolveu em atividades tão variadas como o despacho portuário, a manufatura de tabaco, o ciclismo, o culto ao patriotismo, o tradicionalismo, o teatro, o jornalismo e o magistério. O mais famoso de seus empreendimentos foi uma indústria caseira de cigarros da marca Diavolus (Diabo) virou sinônimo de coisa ruim e indício de sua desavença com o catolicismo e de sua afeição à maçonaria. Amigo de intelectuais do Rio, onde viveu alguns anos na juventude, só foi reconhecido a partir do momento em que morreu inesperadamente de uma úlcera duodenal supurada. Seu enterro “parou a cidade”.

Apenas quatro anos antes havia publicado — em brochuras de baixa tiragem por favor de um parente — os livros que lhe dariam fama: Contos Gauchescos e Lendas do Sul, que teriam servido de inspiração para o mineiro João Guimarães Rosa escrever suas histórias sertanejas. Sim ou não, são eles os maiores joões da literatura brasileira.

Tudo isso está esmiuçado no primoroso livro agora publicado pela Editora Coragem — na realidade, uma reedição revista e ampliada da primeira edição (300 páginas) editada em 2003 pela AGE em parceria com a UCPel e que ganhou um prêmio Açorianos em 2004. Não se pode dizer que este seja “o melhor” livro sobre Simões: entre tantos publicados desde 1949, cada um com seu viés literário ou enfoque biográfico, este tem a vantagem de ser o mais atual, tendo seu autor percorrido de ponta a ponta toda a trajetória de vida do mais notável escritor sulino até o aparecimento de Erico Verissimo. Foram anos de pesquisa por conta própria. Além de ler tudo que Simões escreveu, sobretudo na imprensa, Sica Diniz foi ao Rio para tirar a limpo a lenda de que o jovem pelotense teria estudado medicina na capital do Império.

Nascido em 1941, Carlos Francisco Sica Diniz trabalhou por um ano (1960) como repórter do Diário Popular de Pelotas antes de se dedicar ao Direito. Com a morte do pai, em 1967, coube-lhe tocar o escritório de advocacia paterno.

Aos 82 anos, preside o Instituto João Simões Lopes Neto, fundado há 25 anos e que funciona numa das casas em que morou Joca Simões com a esposa Francisca e a filha adotiva Firmina. Nesse casarão, o livro teve seu primeiro lançamento no último dia 14 de março, com as presenças dos três estudiosos citados no início deste texto.

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Cultura e entretenimento

O charme do outono. Por Geraldo Hasse

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Esse tempo chuvoso me transportou automaticamente para a salinha do teletipo nos fundos da redação do Diário Popular. Eu cursava o terceiro ano noturno de jornalismo e ganhava um salário vespertino para traduzir telegramas que chegavam em espanhol via Agência France Presse (AFP). Também pela mesma máquina vinham notícias da Agência JB, mas essas não era preciso traduzir, vinham em português de boa qualidade (na época, o Jornal do Brasil era um modelo de jornalismo, atividade hoje subalterna ao marketing).

O teletipo foi a atração daquele ano no jornal, que se considerava portador de uma revolução redentora dos costumes da região. Às vezes um dirigente da empresa aparecia na salinha rebocando um visitante supostamente interessado em conhecer o aparelho mágico. Eu, mero coadjuvante, nem sempre chegava a ser apresentado. Era um mero acessório da máquina, o zé ninguém da redação. Mas quem municiava o jornal com o noticiário nacional e internacional? Era eu e ninguém mais.

O teletipo passou o ano inteiro cuspindo principalmente reportagens sobre a guerra do Vietnã; certo dia, trouxe a notícia da morte em estranho acidente aéreo no Ceará do marechal Castello Branco, o primeiro chefão do governo militar; semanas depois, morria fuzilado na selva boliviana o revolucionário argentino Che Guevara. E eu ali na solidão da salinha 3 x 4 vivendo e aprendendo sobre a marcha da civilização.

Nos intervalos daquele matraquear incessante, eu lia os grandes poetas brasileiros editados pela Editora do Autor e me animava a escrever versos que nunca foram publicados mas ainda não desapareceram da minha memória (lá vai):

“Eu te ofereço meus ternos versos,

são o presente mais puro que te dou:

são beijos em minha boca imersos,

sobras do banquete que acabou”.

O que deveria ser um soneto não passou de uma quadrinha. Faltava não apenas inspiração, mas tempo para ir além do trivial. Fora o tactac do noticiário, havia as distrações do ambiente. O céu cinzento, a umidade impregnando paredes e os telhados gotejando a chuva intermitente me desviavam para cenas inesperadas.

Lembro que através da vidraça da janela eu via numa árvore já sem folhas — um cinamomo, provavelmente — algumas pombas encolhidas sob a chuva: pareciam “corvos de cinema” (estávamos ainda sob o impacto do filme Os Pássaros, no qual a pobrezinha da Tippi Hedren, indefesa, era atacada sem motivo aparente por bandos de aves negras amestradas pelo terrorista Alfredo Hitchcook).

Por tudo isso, senhoras e senhores, o outono, mesmo com chuva, continua encantador. Em Pelotas e em outras latitudes.

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Brasil e mundo

Madonna homenageou Che Guevara

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Madonna continua dando o que falar. Em seu show no Rio, a que compareceu grande público LGBT, ela exibiu no palco imagens de ícones culturais, entre eles Che Guevara e Frida Kallo.

Os livros contam que o regime cubano, do qual Che fez parte, perseguia homossexuais, pois considerava-os hedonistas, inaptos para o trabalho, de natureza subversiva ao regime de exceção. Chegando a ser, por isso, fuzilados. Vai entender…

Já Frida foi amante de Trotsky. E, depois deste ser assassinado no exílio a mando de Stálin, teve a pachorra de pintar o rosto de Stálin.

Madonna levou R$ 17 milhões do sistema capitalista. E sem esforço, vivendo da imagem que criou. Representou, fingindo que cantava. Playback.

Dizem que os artistas são “ingovernáveis”. Há artistas e artistas.

Madonna é dessas que a gente não sabe o que pensa. Tente lembrar de alguma fala dela? Não lembramos, porque vive de imagem. Vende uma imagem que, no fundo, talvez nem corresponda ao que ela é de verdade.

No fim da vida, depois da vida ganha, artistas como ela costumam surpreender, mostrando sua verdadeira face. Pelo desconforto de sair do mundo com uma máscara mortuária falsa.

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