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Opinião

Antônio Brod conta como lhe ‘passaram a perna no PDT’

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Antônio Carlos Barum Brod ou o “Brod”, como todos o conhecem, encontrou comigo para uma entrevista. É o senhor mais jovial que conheço.

Brod foi reitor do IFSUL (Instituto Federal de Educação). Fez uma carreira sólida na educação. É um educador e um gestor, não um político clássico.

Há tempos eu vinha insistindo para ele me contar melhor o episódio em que foi impedido de concorrer a prefeito pelo PDT em 2016, por força do tapetão.

Candidato mais viável

Se Brod tivesse concorrido a prefeito pelo PDT, correligionários acreditam que poderia ter havido segundo turno na eleição de 2016, porque ele e Paula Mascarenhas (PSDB) possuem perfis parecidos profissionalmente, professores da academia e ideologicamente próximos.

Como se sabe, a eleição daquele ano foi vencida no primeiro turno por Paula. Com Brod na pista, as coisas poderiam ter sido em tese diferentes.

Se Brod tivesse concorrido (e não o colega pedetista Anselmo Rodrigues, como ocorreu), o passeio talvez não tivesse sido tão fácil como foi para a tucana.

Como não havia um candidato da chamada “direita” (PP, DEM etc.), todos os votos à direita fluíram para Paula, que se posicionou no centro, com o ponteiro apontando para a esquerda.

Brod, assim como Paula, se define politicamente como de “centro-esquerda”. Daí se ter filiado ao PDT, criado pelo nacionalista Leonel Brizola, com a vantagem sobre Paula, naquele instante, da reputação de gestor já testada e maior do que ela possuía até então.

[ “Eu me filiei ao PDT, SOBRETUDO, porque o partido tem uma história fortemente ligada à Educação” ].

Resultado imprevisível

Ninguém pode saber ao certo qual seria o desempenho eleitoral que Brod teria se tivesse concorrido. Mas ainda hoje prevalece a impressão de que ele teria muito mais chances na eleição do que Anselmo, que anda sumido da cena pública, aparentemente de vez, já que anunciou a aposentadoria assim que foi derrotado no último pleito.

Anselmo foi prefeito por dois mandatos, vereador por um.

Em 2016, era improvável que conseguisse um terceiro mandato de prefeito, porque já não era o mesmo Anselmo de outros tempos. Sua imagem estava desgastada o bastante, ao menos para tentar ser prefeito.

Na ocasião supunha-se que Anselmo teria lugar garantido para um novo mandato na Câmara de Vereadores se tentasse a reeleição.

Subitamente, porém, aos 45 minutos no segundo tempo, Anselmo se apresentou para disputar a vaga de candidato à prefeito na convenção do PDT.

Brod e seus apoiadores se surpreenderam, sobretudo Brod, que tinha aceitado o convite lá atrás para ser candidato ao Paço com uma condição: que não houvesse opositores dentro do PDT, que todos se mantivessem unidos em torno do nome dele.

Brod queria a segurança necessária para dar os passos seguintes na construção da candidatura, algo que exige tempo, trabalho e dedicação.

Perto da data da convenção oficial do PDT para homologação da candidatura de Brod, repentinamente surgiu Anselmo para disputar com Brod a preferência dos pedetistas.

Anselmo Rodrigues ficou com a vaga que estava assegurada a Brod

Jogo ensaiado

A súbita aparição de Anselmo até hoje é entendida, nos bastidores, como uma jogada política armada para “favorecer Paula Mascarenhas”. Nunca se saberá a verdade, claro.

Os que veem na aparição uma jogada pensam quem Anselmo concorreu apenas para tirar Brod do páreo e facilitar as coisas para Paula.

Teria sido, assim, um candidato que concorreu para perder, o que parece estranho a uma pessoa aceitar, a não ser que tivesse motivos de sobra para colecionar uma derrota em sua vida.

De fato, Anselmo não fez uma campanha para ganhar. Propaganda amadora, estrutura precária e ele em dissintonia com o novo tempo, uma reprise populista do passado.

Outra surpresa

O nome do vice de Anselmo também foi uma surpresa.

Rafael Amaral, do PP, que, como Anselmo, tb desistiu de concorrer a uma reeleição tida como certa para vereador, apareceu como vice do pedetista da noite para o dia, literalmente.

Na noite anterior ao anúncio de seu nome como vice, ele esteve em um jantar de apoio à candidata Paula, dizendo, diante de uma enorme plateia, que seguiria formalmente até o fim ao lado da tucana, e erguendo o braço dela em sinal de vitória.

Rafael Amaral, vice de Anselmo em 2016: tb repentino

Brod fora

Na convenção do PDT, que deveria homologar Brod, mas que teve Anselmo como concorrente súbito, mesmo assim, Brod venceu o colega na eleição para escolha do candidato do PDT.

Venceu por 26 a 23 votos.

Ato contínuo, o grupo de Anselmo se reuniu numa sala fechada com a presidência do Diretório e decidiu anular três votos dados a Brod, deixando a eleição por empatada.

“Eles se fecharam numa sala, não me convidaram, fiquei de fora. Passados alguns minutos, retornaram com o seguinte veredito burocrático: decidiram que três votos dados não valiam. . Alegaram que não valiam porque, no começo dos trabalhos, o presidente da sessão, Pompeu de Mattos, e Marcus Cunha, não teriam dito que filiados de alguns segmentos votariam. E que eles só poderiam ter votado se tivessem apresentado documentação para participar da eleição. Uma coisa sem fundamento”.

Os três votos anulados eram de pessoas que apoiavam Brod, integrantes da Juventude Socialista, Ação da Mulher Trabalhista e Movimento Negro.

O resultado final ficou 23 a 23. Mas a vaga de candidato ficou com Anselmo, porque o estatuto do partido diz que, quando há empate, leva o candidato que nasceu antes.

Relembra Brod:

“Dias antes da convenção, começaram boatos de que haveria outro pré-candidato do partido, Anselmo. Aquilo me desgostou, bem como a um grande número de partidários e filiados, principalmente a juventude, de quem eu tinha apoio quase incondicional. Mesmo assim, não retirei meu nome, por entender que meus propósitos estavam fortemente firmados. Então ocorreu o que eu te disse, a reunião na sala a portas fechadas e a posterior anulação dos votos que me tiraram a oportunidade de representar o partido”.

Uma lição do episódio

Segue Brod:

“Naquele dia, eu compreendi, sentindo na pele, por que muitas pessoas sentem ódio, desprezo e nojo pela política. Os fatos ocorridos ali foram bizarros, em total discordância com a minha forma de pensar, agir e fazer política”.

“Imediatamente após a divulgação do resultado com a minha vitória por 26 a 23, teve início uma quase batalha campal para inverter o resultado; por pouco não houve vias de fato entre os simpatizantes de Anselmo e da Mesa Coordenadora, que presidia os trabalhos”.

“Fiquei abismado com o que presenciei. Naquele momento, fui tomado por um sentimento de repugnância que me desmotivou por muito tempo”.

Passada a eleição, me desfiliei

“Finda a convenção, me retirei. Não fiz pronunciamento. Agradeci às pessoas, pedi desculpas a conhecidos meus. Não retornei mais ao partido, exceto na eleição de 2018, a convite do Jairo Jorge, que tinha sido ministro da Educação na mesma época em que eu dirigia o Cefet/Pelotas, hoje IFSul, e que nos ajudou muito. Ele me pediu que estivesse junto com ele”.

“Passada a eleição do ano passado, me desfilei do PDT”.

“Eu acredito que se tivessem mantido minha candidatura, eu seria um postulante que rivalizaria com a então candidata Paula em perfil e no plano das ideias, semelhantes. Por esse motivo, acredito, sem vaidade, que, com minha presença, teria segundo turno.

“Muitos segmentos representativos estavam alinhados comigo, servidores do CPERS, professores, estudantes, profissionais liberais, enfim. Eu faria um debate qualificado, ancorado em dados consistentes e na experiência de gestão que acumulei ao longo de mais de 40 anos. Infelizmente, não pude debater”.

“O coronelismo, ainda comum na política local, é prova da má politica, do empoderamento de algumas poucas pessoas que se adonam dos partidos, não permitem a ascensão de novas lideranças. Esses se associam indiscriminadamente, sem olhar matiz ideológico, cor, desde que o resultado político a ser alcançado satisfaça ao grupo estabelecido no poder, que dele não quer largar”.

© Rubens Spanier Amador é jornalista.

Facebook do autor | E-mail: rubens.amador@yahoo.com.br

Rubens Amador. Jornalista. Editor do Amigos de Pelotas. Ex funcionário do Senado Federal, MEC e Correio Braziliense. Pai do Vitor. Fã de livros, de cinema. E de Liberdade.

2 Comments

2 Comments

  1. Roberto

    01/03/19 at 00:33

    Aposto no brod…nova chance vira e mostrara seu valor e competência

  2. Fortino Reyes

    28/02/19 at 18:02

    É isso aí Brod, quem deita com cães acorda com pulgas.

Cultura e entretenimento

Guerra civil, o grande filme do ano até agora. Por Déborah Schmidt

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Guerra Civil mostra a fotojornalista Lee Smith (Kirsten Dunst) e o redator Joel (Wagner Moura) em meio a uma guerra civil que dividiu os Estados Unidos em diversas facções políticas. A dupla pretende conseguir uma entrevista com o presidente, mas para isso, precisa atravessar um país dividido e enfrentar uma sociedade em guerra consigo mesma. A dupla é acompanhada por Jessie (Cailee Spaeny), uma jovem fotógrafa, e Sammy (Stephen McKinley Henderson), um repórter veterano.

Dirigido e roteirizado pelo premiado Alex Garland, o filme explora uma trama ambientada em um futuro distópico, porém não tão distante e nem tão improvável. Conhecido por filmes como Ex Machina (2014) e Aniquilação (2018) e pelos roteiros de Extermínio (2002), de Danny Boyle e Não Me Abandone Jamais (2010), de Mark Romanek, Garland apresenta uma mistura de ação e suspense ao apresentar a viagem de carro do quarteto de Nova York até Washington. Durante o trajeto, registram a situação e a dimensão da violência que tomou conta das ruas, envolvendo toda a nação e eles mesmos, quando se tornam alvos de uma facção rebelde.

Como a dupla de protagonistas, os sempre ótimos Kirsten Dunst e Wagner Moura criam um contraponto perfeito. Enquanto Lee já está entorpecida e demonstra frieza com relação ao caos, Joel é mais relaxado e conquista o público através do carisma. A serenidade do grupo pertence a Sammy, em um personagem que é impossível não simpatizar, ainda mais com a excelente atuação de  Stephen McKinley Henderson. Cailee Spaeny, que já havia se destacado em Priscilla (2023), repete a qualidade com Jessie, uma jovem tímida, mas ousada, e que está seduzida pela adrenalina da cobertura de uma guerra. Ainda no elenco, Nick Offerman vive o presidente dos EUA, e Jesse Plemons faz uma participação curta, porém intensa, na cena mais perturbadora do longa.

Com a qualidade técnica já conhecida dos filmes da A24, a produção mescla a todo o momento sons de tiros ensurdecedores a um silêncio que fala ainda mais alto, em uma verdadeira aula de edição e mixagem de som. A fotografia de Rob Hardy (parceiro de Garland desde Ex Machina) flerta com o documentário e a trilha sonora de Geoff Barrow e Ben Salisbury (também parceiros de longa data do diretor) é discreta, mas extremamente competente ao servir como alívio de momentos mais tensos.

É instigante acompanhar a jornada desses jornalistas e o filme definitivamente se beneficia deste fato. Através de frames com fotos realistas, em preto e branco, que surgem em meio às cenas mais duras, o filme aposta na fotografia para contar sua narrativa. Mesmo que acostumados com a violência, os jornalistas são os melhores personagens para retratarem essa história e, por mais que tenham seu posicionamento frente ao conflito, o trabalho deles é apenas registrar o que está acontecendo, deixando que o público tire as suas próprias conclusões. Guerra Civil é uma bela homenagem ao papel desses profissionais em momentos de crise.

Em cartaz nos cinemas, Guerra Civil é o grande filme do ano até o momento. Um olhar crítico e sensível, ainda que essencial, sobre a nossa própria realidade.

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Brasil e mundo

Comentário em vídeo: Liberdade de expressão

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