Após receber o Prêmio Especial do Júri e a Menção de Honra no Latino & Native American Film Festival (LANAFF), este ano, nos Estados Unidos da América (EUA), pela sensibilidade de sua história e qualidade das atuações do elenco, o filme gaúcho “A Última Morada de João Simões Lopes Neto” acaba de ser selecionado a dois festivais de cinema relacionados a importantes estúdios e profissionais do mercado cinematográfico internacional.
Apesar de nunca ter sido selecionado pelos comitês e curadorias dos festivais de cinema do Rio Grande do Sul (RS), este filme tem chamado a atenção, sido premiado e reconhecido em importantes festivais no Brasil e no exterior.
Neste sentido, dando continuidade ao seu sucesso internacional, a obra de ficção que traz o escritor João Simões Lopes Neto como protagonista, foi selecionada para o Lift-Off Sessions Film Festival.
A primeira etapa deste festival ocorre ao longo do mês de julho de 2022, por meio de suas plataformas online. Posteriormente, haverão sessões presenciais, em simultâneo, no Pinewood Studios, no Reino Unido, onde está a base do festival e no Raleigh Studios, em Hollywood.
O Lift-Off Sessions (@liftoffglobalnetwork) é uma vitrine online, dedicada a trazer novas audiências para o mercado de filmes indie, terminando com a exibição anual ao vivo. Cada filme será exibido por 2 semanas, via Vimeo On Demand, podendo receber votos e comentários do público em geral, que contribuirão para a divulgação posterior deles.
Desse modo, o filme protagonizado pelo ator Vagner Vargas que personifica o famoso escritor pelotense, ao ser incluído no seleto grupo de produções cinematográficas internacionais deste festival, passa a transitar pelos profissionais de importantes estúdios de cinema do Reino Unido e de Hollywood.
Publicidade
Com certeza, este é um feito raro às produções cinematográficas de nossa região, especialmente, por se tratar de um filme independente, feito sem apoio e fomento de nenhuma instituição pública ou privada. Isto reflete a dificuldade que produções independentes têm em acessar às fontes de fomento artístico. Mas, por outro lado, ressalta que o talento dos artistas gaúchos e a qualidade do seu trabalho podem chamar a atenção de importantes profissionais do mercado cinematográfico internacional. Este fato ressalta a necessidade de que o acesso às fontes de fomento cultural no RS seja cada vez mais democrático e com regras que não privilegiem profissionais ligados às estruturas de algumas instituições, para possibilitar que os artistas em geral possam dispor de mais condições financeiras para desenvolverem seus projetos, terem dignidade enquanto categoria profissional e potencializar o alcance de seus trabalhos.
O exemplo do filme “A Última Morada de João Simões Lopes Neto” e os esforços hercúlicos que seus feitos têm alcançado ao redor do mundo se destacam pela qualidade dos artistas envolvidos nesta produção. Entretanto, devemos estar atentos que, se este filme tivesse tido investimentos financeiros, maior estrutura técnica e apoio para sua realização, suas conquistas seriam ainda maiores, levando sempre não apenas os nomes dos profissionais envolvidos, mas um pouco da história e da cultura de Pelotas e do RS.
Além disso, “A Última Morada de João Simões Lopes Neto” também foi selecionado para a terceira edição do Paus Premieres Festival 2022 Official Selection (@paus.tv), a ser realizado por meio de sua plataforma de internet e Apps, criadas para viabilizar a reprodução de conteúdos audiovisuais on-demand ou exibições de filmes independentes e/ou indie. Este festival ocorrerá ao longo do outono e inverno na Europa, uma vez que sua sede física está localizada na cidade de Manchester, Inglaterra.
As primeiras edições deste festival atingiram mais de 30 mil espectadores em cada uma delas, o que revela o grande impacto deste festival não apenas no Reino Unido, mas em todo o Globo, já que a visualização dos filmes pode ser feita em qualquer país. Este fato ressalta a importante possibilidade de a obra filmada em Pelotas ser assistida por um número expressivo de pessoas ao redor do mundo. Isto também significa que, em certa instância, por meio deste filme, um pouco da história e cultura gaúcha chegarão a públicos geograficamente distantes.
O Paus Premieres Festival já exibiu filmes que apresentaram estrelas como Sir Ian McKellen, David Tennant, Kate Heron, Sophia Di Martino, Russell Tovey e Conleth Hill (para citar alguns); trabalhos de vencedores do prêmio BAFTA e diretores indicados ao Oscar, além de receber cobertura da imprensa do Screen Daily, Business Insider, IBC Daily e muitos outros. Os filmes que fazem parte deste festival passam a ser oferecidos à apreciação dos profissionais dos grandes estúdios de cinema da Europa e Estados Unidos, assim como aos curadores das maiores plataformas de streamings atuais. Com isso, este filme pelotense passa a ter a possibilidade de atingir um público internacional maior ainda do que vem alcançando ao longo dos festivais de cinema que vem participando pelo mundo. Além disso, a obra sobre o escritor João Simões Lopes Neto, produzida por artistas gaúchos, passa a figurar entre importantes trabalhos do mercado cinematográfico mundial.
Com roteiro de Manoel Magalhães e dirigido por Márcio Kinzeski, este filme já esteve em diversos festivais de cinema no ano de 2021, tais como: RIMA (Rio International Monthly Awards), Make Art Not Fear Film Festival, Horror Unleashed Short Film Festival (Portugal), Festival de Cinema de Alter do Chão, 6º Santos Film Festival – Festival Internacional de Cinema de Santos, FELITE – Festival Literatura em Tela, Mostra Junho Fantástico/Mostra [Em]Curtas, MICINE ON – Mostra Independente de Cinema do Nordeste, Festival de Cinema Se Mostra/SP. A produção pelotense já começou o ano de 2022, com as participações no Kalakari Film Festival (Índia) e premiação no LANAFF (EUA).
Além disso, “A Última Morada de João Simões Lopes Neto” também recebeu indicações e premiações em outros festivais de cinema, como por exemplo, no Horror Unleashed Short Film Festival, em que foi semifinalista ao Prêmio de Melhor Filme. Já no RIMA 2021 (@rimawards) recebeu os seguintes destaques: Prêmio de Melhor Ator (Vagner Vargas), Prêmio de Melhor Roteiro (Manoel Magalhães), Prêmio de Melhor Figurino (Gê Fonseca e Andrea Terra). Além das seguintes indicações aos prêmios de: Melhor Filme, Melhor Cartaz, Melhor Direção (Márcio Kinzeski), Melhor Maquiagem e Caracterização (Gutto Pereira). Além destes prêmios, o ator Vagner Vargas e o roteirista Manoel Magalhães também foram indicados aos prêmios Best of the Year, do RIMA 2021, em suas respectivas categorias.
O sucesso internacional deste filme também é garantido pelo seu elenco, que conta com Vagner Vargas, Roberta Pires Rangel, Hakeen Mhucale e Clemente Viscaino, dando vida a importantes personagens que propõem reflexões e traçam relações com as obras de João Simões Lopes Neto. Como dito acima, mesmo sendo premiado e muito elogiado em outras regiões de nosso país e no exterior, este filme ainda não mereceu atenção das comissões de seleção dos festivais de cinema realizados no Sul do Brasil.
Publicidade
Talvez, o que chame a atenção destes curadores dos festivais de cinema locais, não vá ao encontro do que os profissionais do mercado cinematográfico internacional têm identificado no trabalho dos artistas gaúchos envolvidos neste filme. Desse modo, o filme sobre o importante escritor gaúcho ganha o mundo, mas ainda não pode ser visto pelo público em geral do seu Estado de origem. Coincidências ou não, também podemos refletir sobre este tipo de situação ao assistirmos à história contada em “A Última Morada de João Simões Lopes Neto”, verificando como este artista pelotense foi tratado pela sociedade a seu tempo e como hoje em dia trata seus artistas locais.
Em cartaz nos cinemas, O Telefone Preto é ambientado em 1978, quando uma série de sequestros de crianças está aterrorizando a cidade de Denver. Finney Shaw (Mason Thames) é um garoto de 13 anos, tímido e inteligente, que é sequestrado por um sádico assassino (Ethan Hawke) que o enclausura em um porão à prova de som, onde gritar não vai resolver nada. Quando um telefone preto desligado começa a tocar, Finney descobre que consegue ouvir as vozes das vítimas anteriores do sequestrador. E elas estão decididas a assegurar que o que lhes aconteceu não aconteça com Finney.
Baseado em um conto escrito por Joe Hill, filho do autor Stephen King (reparem na referência para It – A Coisa), o longa é comandado por Scott Derrickson, um dos melhores nomes do cinema de terror da atualidade, com O Exorcismo de Emily Rose (2005) e A Entidade (2012) em sua filmografia. Mais recentemente, o diretor deixou o gênero de lado para fazer parte do Universo Cinematográfico Marvel, onde dirigiu Doutor Estranho (2016). O cineasta sabe como poucos prender a atenção do público, e em O Telefone Preto, ele retoma sua parceria com a Blumhouse, produtora conhecida pelo foco em filmes de terror de baixo orçamento.
Com o roteiro de Derrickson em parceria com C. Robert Cargill, o filme é um suspense eficaz preocupado em criar medo pelo clima de tensão e claustrofobia, aliado ao desenvolvimento de seus personagens. Isso fica evidente logo no início, ao focar no relacionamento de Finney com a irmã Gwen (a carismática Madeleine McGraw). Com isso, traumas da infância são explorados pela trama, com Finney enfrentando bullying na escola e os irmãos sofrendo com o pai alcoólatra e abusivo. Entendemos, então, a realidade e o poderoso vínculo de apoio e afeto criado por eles diante desses problemas, em uma relação fundamental para a eficiência da narrativa.
No papel do misterioso e cruel sequestrador, Ethan Hawke rouba a cena. Uma atuação poderosa e que consegue aterrorizar o espectador mesmo usando uma máscara sinistra durante quase todo o filme. Aliás, um dos elementos mais interessantes do longa é o fato de o vilão esconder seu rosto atrás de uma máscara, que em diversos momentos altera a forma e a expressão, refletindo a instabilidade emocional do personagem conforme os acontecimentos e o mantendo ainda mais intrigante.
Com uma história simples e bem contada, O Telefone Preto é um terror psicológico e sobrenatural que prende a atenção até o final.
Filme original mais caro da história da Netflix, Agente Oculto acompanha um ex-presidiário que, com o codinome de Sierra Seis (Ryan Gosling), é colocado a serviço da CIA em troca de sua liberdade.
Consagrado como um dos mais eficientes agentes de campo, ele se envolve em uma conspiração criminosa dentro da própria agência, pouco tempo depois da aposentadoria de seu mentor, Donald Fitzroy (Billy Bob Thornton). Caçado pelo psicótico Lloyd Hansen (Chris Evans) e outros mercenários do mundo todo, Seis contará com a ajuda da espiã Dani Miranda (Ana de Armas) para se salvar.
Adaptação do livro homônimo de Mark Greaney, o filme é dirigido pelos irmãos Anthony e Joe Russo, conhecidos pela direção de vários filmes da Marvel, como os do Capitão América, Soldado Invernal e Guerra Civil e dos Vingadores, Guerra Infinita e Ultimato. Se ação está garantida, a produção peca nos clichês, a começar pelo trio de protagonistas, que apresenta um anti-herói calado e violento, mas de bom coração, sua parceira durona e um vilão excêntrico.
O roteiro escrito por Joe Russo, Christopher Markus e Stephen McFeely é um tanto quanto genérico, com o frequente arco central de corrupção e traições comuns no gênero de espionagem. A personagem da Ana de Armas, por exemplo, ganha boas cenas de ação, porém fica a sensação de que falta para a personagem uma história própria. A ameaça interna da CIA, que deveria ser um possível risco para Seis, na imagem de Carmichael (Regé-Jean Page), é outro personagem superficial e mal construído, sem uma motivação definida.
Com o orçamento gigantesco, a produção conta com locações em diversos países, como Áustria, Croácia, Bangkok e Alemanha, além de excelentes efeitos visuais. O resultado são sequências de ação visualmente impressionantes, porém teatrais e exageradas, seja sob luzes fluorescentes, fumaças coloridas e fogos de artifício.
Com um elenco cheio de estrelas de Hollywood, Ryan Gosling e Ana de Armas ditam o tom do filme, enquanto que Chris Evans diverte no papel do vilão psicopata. Ainda no elenco, Regé-Jean Page, Jessica Henwick, Billy Bob Thornton, Wagner Moura (infelizmente com uma pequena participação), Julia Butters, Dhanush, estrela do cinema indiano, e a veterana Alfre Woodard.
Publicidade
Entretenimento descartável, Agente Oculto representa a zona de conforto dos irmãos Russo e fica devendo um roteiro à altura de seu ótimo elenco.
Cada povo tem suas características, os orientais são disciplinados, os italianos expansivos e falantes, os alemães são organizados (inclusive os descendentes, em Gramado), qual seria uma característica que podemos chamar de “brasileira”? Eu diria que é ser mais emotivo do que racional, analisar menos, fantasiar mais.
Cada povo tem suas características, os orientais são disciplinados, os italianos expansivos e falantes, os alemães são organizados (inclusive os descendentes, em Gramado), qual seria uma característica que podemos chamar de “brasileira”? Eu diria que é ser mais emotivo do que racional, analisar menos, fantasiar mais.
Nos relacionamentos se enxerga muita dessa passionalidade, como ocorre nos casos de “idas e vindas”, casais que se separam e voltam, cheios de ciúmes e saudades. Também acontece com as pessoas que transferem toda essa paixão e fantasias para um novo relacionamento, tem quem se envolva em uma paixão irracional “de deixar de pagar as contas”.
Esse espírito emotivo aparece nas paixões brasileiras pela música (a idolatria dos fãs pela celebridades cantantes), pelo seu time de futebol e mais recentemente pelo modo passional de ver a política, também. Tudo isso se mistura, por exemplo, no jingle de candidatos, que às vezes decide uma eleição, como já aconteceu pelo menos uma vez no Rio Grande do Sul na década de 2000 com o candidato Rigotto e em Porto Alegre mais recentemente (em 2016) com a eleição do Marchezan, dono do melhor jingle daquele ano.
Jingle pode influenciar até na eleição para presidente do país, em 2002 por exemplo foi envolvente o Lula lá, onde o apelo para a emotividade era quase uma confissão de infantilizar o povo com o envolvimento emocional, pois dizia na própria letra “Lula lá, o Brasil criança na alegria de se abraçar”. O mesmo acontece agora com o jingle do Bolsonaro, que começa falando em “Capitão do povo”, título emotivo que desconsidera que ele foi reformado do Exército, ou no trecho a favor da família desconsiderando que está no terceiro casamento. Não são os fatos que importam, o que importa é a capacidade de emocionar, de envolver, através da música.
Nada indica que nesse ano de 2022 teremos algo diferente, racional. Não teremos debates entre os favoritos, não veremos confronto de ideias de gestão, ou como fazer a economia voltar a crescer, ou mesmo como controlar o preço da gasolina e como manter a bolsa de auxílio aos mais pobres após a eleição. O que vamos assistir é uma “guerra de jingles” entre um candidato apoiado pela Anitta (que tem mais de 60 milhões de seguidores no Instagram) e outro pelos sertanejos Mateus e Cristiano, autores do jingle. A música e a emotividade, no ambiente das paixões brasileiras, podem influir mais que a realidade ou a racionalidade.
Manoel Soares Magalhães
01/07/22 at 09:58
Grato pela publicação da matéria sobre o filme A Última Morada de João Simões Lopes Neto. Abraço.