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Pelotas e RS

Entrevista com a aluna agredida: “Tem doutrinação ideológica na UFPel, mas não vou aceitar ser perseguida e maltratada”

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O Amigos conversou com Vitória Calistro, a estudante de Ciências Sociais da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) constrangida por colegas dentro da Universidade, ao ponto de ser ofendida com uma cusparada, a ancestral forma de desprezo sem palavras. A cuspada foi lançada em direção ao chão, ostensivamente dirigida a ela, perto o bastante para que um pouco da saliva da estudante que cuspiu lhe atingisse o ombro.

Na foto, Vitória, o marido Patrick e as filhas

Casada, mãe de duas meninas de colo, Vitória contou que vinha se sentindo constrangida há algum tempo em sala de aula e demais instalações da Universidade. “No começo, eram manifestações discretas, até pensei que poderia ser algo pessoal, mas ao longo do tempo fui percebendo que era uma perseguição política”.

Quando foi que começou a sentir isso?

Eu comecei a notar que, quando falava em sala de aula, alguns colegas riam de mim. Risadinhas de deboche. Ouvi alguém dizer que ‘a Bolsonarista vai desistir, não vai aguentar’. Como eu nunca tinha me declarado politicamente em sala de aula, ficava na minha, quieta. Em certo momento, comecei a sentir dificuldades para conseguir entrar em grupos de trabalho. Senti que começaram a me isolar, como se eu fosse diferente.

Ocorreu mais algum episódio parecido?

Numa aula, eu defendi o homeschooling (possibilidade de ensinar em casa), uma proposta do governo Bolsonaro. Falei que eu entendia que o governo não queria fechar escolas, mas sim oferecer essa opção a quem optasse. Estranharam o que eu disse. Eu nunca falei abertamente ‘sou eleitora de Bolsonaro, nunca fiz campanha para ele’. Mas as risadinhas e as dificuldades continuaram. Comecei a me sentir muito mal por estar num espaço público e não ter a liberdade de expressar minhas opiniões.

Chegou a sentir-se intimidada pelos professores?

Não. Em alguns momentos comecei a sentir medo de me posicionar em sala de aula, mas nunca fui maltratada por professor. Já aconteceu de uma professora não me deixar completar o que gostaria de falar na aula. Outro dia, quando se discutia em sala de aula o momento da política, uma colega falou que ‘Bolsonaro é corrupto, por causa dos 51 imóveis comprados com dinheiro vivo’. A professora ouviu tudo o que ela tinha a dizer e argumentou. Depois que escutei todo mundo, pedi para falar, com uma visão diferente (de que, na minha opinião, a mídia às vezes denuncia fatos que depois se mostram falsos) e a professora me cortou. Naquele momento fiquei constrangida, porque ela deu a oportunidade para a colega se manifestar e, mesmo que o assunto não fosse tema central da aula, deixou a colega terminar seu pensamento. Já na minha vez não me deixou terminar, alegando que ‘não era o tema da aula’. Fiquei calada e a aula seguiu.

No vídeo que você publicou, diz que foi ofendida por colegas do curso nas redes sociais. Quando começaram essas ofensas?

Eu me dei conta dessas ofensas pela rede social Twitter, onde tive certeza que estava sendo perseguida pelas minhas posições. Na mesma semana em que tive o conhecimento das agressões, teve o evento do Bolsonaro no centro de Eventos em Pelotas, que foi quando tive a ideia de levar o cartaz em forma de protesto e mostrar a todos que não vou fazer parte da espiral do silêncio. O cartaz dizia: ‘Sou estudante de Ciências Sociais na UFPel e sofro perseguição política. Estou aqui lutando pela minha liberdade e da minha família’. Com a repercussão do cartaz, comecei a receber muitas ameaças e ofensas no Twitter e em grupos do WhatsApp.

Nas suas redes?

Não. Nas redes deles.

O que diziam?

As primeiras manifestações, antes de eu divulgar o cartaz, eram mensagens se referindo a mim como ‘Bolsonara desgraçada que não aguentou ficar calada. Tenho nojo dessa Bolsonara’. Diziam que ‘eu era infeliz’, que a aula de ciência política, comigo presente, estava com gosto de violência, e que a professora me colocara no meu lugar em dois toques’. Diziam ‘colega bolsonarista insuportável’. Após o cartaz, comecei a receber ameaças me chamando de ‘fascista, mentirosa, que eu deveria levar um tiro, atacando o fato de eu ser cristã, que eu tinha que levar uma surra, sofrer as consequências de ter exposto a universidade e o curso’. Fiz print de tudo, inclusive de prints enviadas por pessoas que se solidarizam comigo, e passei para a advogada. 

O que aconteceu depois?

Dois dias depois que publiquei o cartaz, fui à aula. A sala estava fechada. Fiquei sentada em frente da porta, esperando a aula começar. Colegas começaram a chegar, olhavam para mim e riam, outros olhavam com cara de nojo. Então, um desses colegas veio até mim, olhou bem pra mim e cuspiu no chão, na minha frente, respingando cuspe no meu ombro, e disse: ‘Tu tens que arcar com as consequências’. Eu respondi que não iria aceitar nenhum tipo de violência e que iria chamar a polícia.

E depois?

Nervosa, não consegui entrar para assistir aula. Sentada no mesmo lugar, esperei todo mundo entrar e fiquei mandando mensagens pra minha mãe, pedindo ajuda. Ela me orientou a chamar a polícia e uma advogada. Quando o corredor ficou vazio, fui à Secretaria e pedi um papel para registrar por escrito a agressão. Com medo de ser mais agredida, pedi ao recepcionista se podia garantir minha segurança. Ele falou que não tinha como garantir e que se eu quisesse chamar a polícia, eu poderia. Sentei ao lado dos seguranças do prédio e fiquei ali. Enquanto isso, alunos passavam por mim, me xingavam, davam risada. Liguei uma live no meu Instagram, por segurança. Meu esposo foi me buscar. Ficou do lado de fora até que viu que eu estava na recepção, entrou e aguardou comigo a chegada da advogada. Fomos então ao professor comunicar o que tinha acontecido e explicar por que eu havia faltado à aula. Ele entendeu, disse que eu voltasse na próxima aula. Fomos então à polícia registrar BO contra a pessoa que cuspiu e fez ameaças. A advogada me orientou a esperar uma manifestação da UFPel. No dia seguinte (sexta passada), recebi e-mail da universidade avisando que teria uma reunião sobre o fato no mesmo dia, às 19h.

Como foi a reunião?

A coordenadora do curso se atrasou um pouco, pois estava conversando com a minha advogada. Fui ficando muito nervosa com aquela situação, pois muitos alunos passavam por mim com olhar de desprezo e riam da situação. A sala estava lotada de alunos de outros cursos também. A maioria dos agressores estava presente. Foi muito constrangedor para mim. Durou uns 40 minutos. A coordenadora falou sobre o respeito às diferenças, ‘que as pessoas têm direito a suas opiniões, mas que dentro das instituições não se trabalha com opinião’. Falou que toda ação tem consequência. Nesse momento, avisou que os alunos que de alguma forma se sintam ofendidos podem fazer boletim de ocorrência ou procurar por ela para conversar. Mas não garantiu minha segurança física e nem mental. Falou que vou precisar provar de que forma eu me senti perseguida. Orientou os alunos a não entrarem em atrito comigo nas redes sociais, para não colaborar na minha tese que eu estava sendo perseguida. Em um momento me senti ameaçada por ela, pois falou à sala que o caso ia ser investigado, que não iam deixar barato, e que ia incomodar. A coordenadora não sabia que eu estava na sala. Quase no final da fala dela, ela disse: ‘A aluna nem está aqui hoje’. Aí eu levantei a mão e disse que estava presente, sim. Ela me disse então que depois iria conversar comigo e seguiu falando. Depois, mesmo ciente de que eu estava ali, não me deu oportunidade de falar. Eu queria apenas ser respeitada e ouvir uma garantia de que não sofreria nenhum tipo de discriminação por ideologia ou partido político. Em seguida ela fez uma fala que me marcou: ‘Falou que a universidade não é um ambiente democrático. Que os advogados se apropriam do termo Democracia, que eles até podem trabalhar com esse termo, mas que o termo não é deles advogados e sim dos cientistas sociais, objeto de estudo destes, conceito trabalhado por estes, do qual os advogados se apropriam e empregam em suas funções’.

A Universidade falou com você em privado?

Não. Estou aguardando eles entrarem em contato comigo, até porque quero saber se meus direitos e minha integridade física serão preservados.

As ofensas e agressões pararam?

Depois de tudo isso, alguns estudantes que estavam me atacando fecharam suas redes sociais, deixando-as privadas. Então, se estão falando de mim lá, eu não sei. Recebi algumas mensagens ofensivas e até alguns prints de conversas que pessoas que se solidarizaram comigo me mandaram.

Quer dizer mais alguma coisa?

Sim. Gostaria de esclarecer que no dia em que fui agredida com o cuspe e chamei a polícia, saíram espalhando dentro da universidade que meu esposo era da brigada e estava armado, inclusive deixando alguns alunos com medo, mas a verdade é que meu esposo estava utilizando uma jaqueta camuflada que ele tem há mais de 12 anos. Outro ponto importante é que não estava armado, não possuímos porte de armas e não andamos com nenhum tipo de arma. Tenho já dois nomes de pessoas que espalharam essa notícia falsa nas redes sociais e elas vão ser confrontadas a provar o que estão dizendo. Por último, é bem importante frisar que entrar na universidade foi a realização de um sonho meu e da minha família. Quero sair de lá com meus objetivos concluídos. Não sou rica e não tenho pessoas que me bancam. Com muita vontade, aos poucos, eu e o meu esposo estamos construindo uma vida melhor. A oportunidade do curso é a maior da minha vida, a maior expectativa de a gente ter um futuro. Não vou aceitar ser perseguida, não vou aceitar que me maltratem.

Você sente doutrinação política em sala de aula?

Tem doutrinação ideológica lá dentro. Para a grande maioria, a base de autores estudados nos cursos das Ciências Humanas é a mesma base que deveria reger a nossa sociedade, como por exemplo o comunismo de Karl Marx. Isso é nítido, é o ideal da maioria. O método de educação de Paulo Freire, também. Diversas vezes, falam dele como se fosse o ideal e desqualificam outros autores com ideias e linhas diferentes. Então é claro que sim, eles têm uma linha ideológica estabelecida, e política também, pois dentro da Universidade vemos muitos cartazes de apoio a Lula; professores e coordenadores falam bem dele. Então eles impõem, sim, suas ideologias políticas. E dessa forma acabam coagindo quem pensa diferente, fazendo desses reféns deles. Por fim, algo que acontece pouco, mas acontece, é o uso da linguagem neutra por alguns professores. Acho isso um absurdo, por serem pessoas estudadas, mas acontece.

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“A água que está lá na capital, chega a Pelotas de novo na semana que vem”

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Apesar do atual cenário positivo em relação às cheias. especialistas em meteorologia e hidrologia alertam para a necessidade de continuar em estado de atenção. De acordo com o acompanhamento da situação na Região Metropolitana, na qual o Lago Guaíba registrou marcas acima dos cinco metros nesta terça-feira (14), a perspectiva é que uma nova elevação dos níveis atinja, posteriormente, a região Sul do Rio Grande do Sul.

Frente à possibilidade de novos momentos críticos para Pelotas e para a região como um todo, as equipes do Município, Defesa Civil e forças de segurança seguem mobilizadas monitorando em tempo real a situação climática.

“Temos que entender que este fenômeno que está atingindo o Rio Grande do Sul, não é um evento rápido. As primeiras águas do Guaíba estão descendo e ele já está de novo acima dos cinco metros. Essa água que hoje está lá na capital do Estado, chega a Pelotas de novo na semana que vem. Nós não sabemos ainda qual vai ser a direção e a intensidade dos ventos, mas, se tivermos condições desfavoráveis, possivelmente mudaremos o mapa para vermelho de novo e pediremos para as pessoas saírem de casa”, disse Paula.

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Pelotas amplia leitos hospitalares do SUS

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A Prefeitura está aumentando a capacidade de resposta hospitalar com a abertura de mais de 40 leitos clínicos hospitalares do SUS. Dez leitos foram disponibilizados em cada uma das seguintes instituições: Hospital Escola, Santa Casa, Beneficência Portuguesa e São Francisco.

Os leitos clínicos, contratados inicialmente por 30 dias, são financiados com recursos federais da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e por meio de uma portaria da Secretaria Estadual de Saúde. 

O Hospital Escola e o Hospital São Francisco já ativaram os novos leitos. A Santa Casa está programada para abrir nesta terça-feira (14) e os demais até o final da semana. Conforme informações da secretária municipal de saúde, Roberta Paganini, esta medida visa assegurar que as necessidades emergenciais da população sejam atendidas.

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