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Cultura e entretenimento

TRANSIÇÃO

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Não estou cabeludo nem desgrenhado. Estou em transição capilar.

Uma transição entre sapiens e o neandertal, entre o apresentável e o melhor fazer de conta que não viu.

Sabe aquelas camadas geológicas através das quais os cientistas descobrem (ou inventam) quando ocorreu determinado evento? Pois está assim: dá pra ver exatamente a data do início do confinamento. Se o cientista for de Harvard, não de Rárvarde, é possível saber até a hora.

O cabelo vem liso, reto, de boa, até a altura da orelha – que é onde estava em março de 2020. Nesse ponto, baixa um erê, sobe uma coisa esquisita e ele perde a linha.

Lembra da noviça voadora, uma que usava chapéu de aba, e levantava voo do Convento de San Tanco? Estou que nem. Só que com a ponta da aba para cima, feito as winglets dos aviões (não vou escrever uinguilete ou nem eu entenderia). Se bater um sudoeste, eu decolo.

Acontece a mesma coisa na nuca. O cabelo (pouco, mas meu) desce em ordem unida a partir da clareira do cocuruto. Um pouco antes da altura do lóbulo, é como se o chefe do pelotão gritasse “Pelotão, disper-SAR!” e dispara cada um pra um lado, fazendo cacho, pirueta, voluta, espiral, helicoidal, redemoinho. O que era uma disciplina militar vira quartelada, baderna na caserna, motim, sublevação. Em vez do estilo Príncipe Danilo da minha infância, o corte agora é do tipo de daria corte marcial.

A barba, por sua vez, está em transição entre indivíduo em situação de rua para náufrago. Numa laive, supostos amigos sugeriram que eu conseguiria bom faturamento atuando no segmento da mendicância. Mas a intenção é fazer ho-ho-ho nos shoppings – se eles reabrirem até o Natal.

As sobrancelhas lançam gavinhas sobre as pálpebras, levando o fantasma de Leonel Brizola a me assombrar cada vez que me vejo no espelho. Mais uma semana e será Darcy Ribeiro em pessoa quem arregalará os olhos para mim toda manhã, na hora em que eu entrar no banheiro.

Das orelhas, nem falo nada, ou vão descobrir que reassumi, a contragosto, minha porção chupacabra.

Se me perguntarem qual a primeira coisa que quero fazer quando a vida real for retomada, não será sexo, praia, livraria, chope, nada disso, mas depenar a orelha.

Sei que vai ter fila, senha, briga na porta da clínica de depilação. Que mulheres vão argumentar, aos gritos, que orelha não é parte da anatomia voltada para serviços essenciais. Mas estarei lá, acampado, esperando o momento de minha orelha poder retornar ao convívio social.

Na próxima pandemia, tenho que me lembrar: esquece o álcool gel e o papel higiênico, e foca na cera quente.

Eduardo Affonso é colunista de O Globo.

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Cultura e entretenimento

UnaMúsica inicia temporada com show da Gafieira do Clube

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O projeto UnaMúsica inicia sua temporada 2024 com show da Gafieira do Clube nesta quinta-feira, dia 18, às 18h. A apresentação será ao ar livre, no Anfiteatro do Parque Una e coincide com a abertura da Semana Nacional do Choro em Pelotas.

O evento, que ocorrerá de 18 a 27 de abril, celebra o  10º aniversário do Clube do Choro de Pelotas e o reconhecimento pelo Iphan do Choro como Patrimônio Cultural do Brasil. Durante o período, diversas atividades acontecerão em diferentes locais da cidade.

UnaMúsica

O UnaMúsica surgiu em 2020 com a intenção de valorizar a produção musical local ao promover shows de diferentes estilos no Anfiteatro do Parque Una. Porém, devido à pandemia de Covid-19, o projeto foi reestruturado e, dos cinco shows selecionados para aquela temporada, quatro foram realizados de forma virtual. Em 2022, o plano original foi retomado e a última apresentação foi realizada presencialmente.

Tendo o espaço público do Parque Una como cenário, o projeto retorna em 2024, buscando  levar boa música aos moradores e visitantes do bairro.

Gafieira do Clube

O projeto Gafieira do Clube reúne instrumentistas participantes do Clube do Choro e foi concebido com base nas tradicionais bandas de gafieiras do Rio de Janeiro que se destacavam em casas noturnas renomadas, como as estudantinas, oferecendo um repertório especialmente elaborado para a dança, com arranjos de músicas populares e composições instrumentais.

Apresentando uma formação moderna que combina os instrumentos do choro com nuances jazzísticas, incluindo contrabaixo, bateria e instrumentos de sopro, a Gafieira do Clube surge com o propósito de proporcionar uma experiência musical instrumental mais vibrante e envolvente, mesclando os ritmos do choro, maxixe, samba e outros, para o deleite dos apreciadores da música brasileira.

Participam do projeto: Rafael Velloso (sax), Rui Madruga (violão 7 cordas), Fabrício Moura (violão de 6 cordas/cavaquinho), Pedro Nogueira (cavaquinho solo), Paulinho Martins (bandolim), Gil Soares (flauta), Paulo Lima(contrabaixo) e Everton Maciel (percussão).

O QUÊ: Projeto UnaMùsica 2024 – Show Gafieira do Clube

QUANDO: Dia 18 de abril, às 18 horas

ONDE: Anfiteatro do Parque Una

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Cultura e entretenimento

Livro desconcertante esse: Por que nós morremos

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Pelo que diz, a cada geração nossos corpos são simplesmente barcos para facilitar a propagação de nossos genes, e eles se tornam dispensáveis tão logo cumprem sua missão. A morte de um animal ou pessoa seria apenas a morte desse barco.

Seríamos apenas cascos dos nossos genes. Máquinas de sobrevivência dos genes. Nosso cérebro seria um gerente de filial encarregado de tomar decisões delegadas pelos genes. Trocar uma lâmpada da vitrine, organizar a equipe de vendedores, trocar mercadorias com defeito.

Sendo assim, toda a nossa vida seriam truques dos genes pra sobrevivermos, nos colocarmos no grupo social pra sobreviver, e procriar e passar os genes adiante. Só isso. 🤪

Será?

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