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Opinião

Cinema: Ilha dos cachorros

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Já mencionei diversas vezes no Amigos que Wes Anderson é um dos meus diretores preferidos. Autêntico e original, o cineasta de filmes como Os Excêntricos TenenbaumsMoonrise Kingdom e O Grande Hotel Budapeste acaba de lançar seu segundo trabalho com animação stop motion após o ótimo O Fantástico Sr. Raposo. Ambientada no Japão e com um humor deliciosamente irônico, Ilha de Cachorros é, sobretudo, um filme lindo de se ver.

Partindo de um belíssimo prólogo, que faz uma alusão à ancestralidade japonesa, vemos os esforços do clã Kobayashi, amante dos gatos, para erradicar os cães do território. Esta aversão pelos caninos serviu para transformá-los em impotentes e domesticados animais de estimação.

A trama inicia na fictícia Megasaki, onde o prefeito (Kunichi Nomura) é um descendente Kobayashi. Sob sua tutela está seu sobrinho, Atari Kobayashi (Koyu Rankin), de 12 anos.

O político aprova uma nova lei que proíbe os cachorros de morarem no local, tendo como argumento uma doença aparentemente incurável, a gripe canina, que é transmitida pelos cães aos humanos. Com isso, todos os animais são enviados para uma ilha repleta de lixo. Porém, Atari não aceita se separar de seu cão Spots, então rouba um avião monomotor e parte em busca de seu fiel amigo, encontrando diversos outros cães pelo caminho.

A partir de uma história bastante simples, o diretor consegue explorar uma diversidade de temas através de uma espetacular abordagem visual que caracteriza o seu cinema. O longa aborda temas pesados como as ditaduras, os campos de concentração e o uso da ciência a serviço de tiranos.

Com relação ao roteiro, Anderson, Roman Coppola, Kunichi Nomura e Jason Schwartzman entregam, além do prólogo, uma excelente estrutura narrativa composta de quatro partes, e que ainda apresenta momentos que alternam entre o presente e flashbacks. O filme prova, mais uma vez, a excentricidade e a capacidade de Wes Anderson de criar histórias únicas e bem executadas.

Através de uma trama não-linear, mas dinâmica e coesa, Wes Anderson apresenta suas principais características, como a centralização e a simetria de suas cenas, os personagens excêntricos e diálogos minimalistas.

Aperfeiçoando uma técnica que combina tão bem com seu estilo, os personagens e a construção dos cenários são hipnotizantes a ponto de ser quase impossível desgrudar os olhos da tela por medo de perder algum detalhe.

A trilha sonora do incrível Alexandre Desplat (do qual também sou fã assumida) é extremamente charmosa e melancólica, com destaque para a música “I Won’t Hurt You” de The West Coast Pop Art Experimental Band.

Wes Anderson e equipe

Entre os cachorros, a trama propõe um complexo desenvolvimento de personagens, com destaque para Chief, o orgulhoso vira-latas que se torna um líder natural e que ganhou a voz excepcional de Bryan Cranston. Os outros cães, entretanto, gostam de tomar suas decisões através do consenso.

Nos momentos mais perigosos, eles param tudo para debater sobre qual plano devem seguir. Completando o time que vai ajudar o garoto a encontrar seu melhor amigo, temos as vozes de Edward Norton (Rex), Bob Balaban (King), Bill Murray (Boss) e Jeff Goldblum (Duke).

Outros nomes de peso ganham pequenas participações, como Scarlett Johansson como a cachorra de raça que passa aparentemente sem arranhões pelo lixão, Tilda Swinton como um oráculo canino que compreende a televisão, Yoko Ono no papel de uma assistente de cientista. Greta Gerwig é Tracy Walker, uma menina norte-americana intercambista. Ainda no elenco de vozes temos Harvey Keitel, Frances McDormand, Liev Schreiber, F. Murray Abraham e Courtney B. Vance como o narrador.

Visualmente impecável, a fotografia de Tristan Oliver é absolutamente impressionante. As letras do alfabeto oriental são utilizadas como elemento de concepção visual, além de desenhos tradicionais que rementem aos mangás. Vimos também transições com um vislumbre de uma luta de sumô. Tecnicamente, é tudo muito perfeito.

Ilha de Cachorros apresenta personagens cativantes em um filme divertido e charmoso. Simplesmente imperdível!

Déborah Schmidt é servidora pública formada em Administração/UFPel, amante da sétima arte e da boa música.

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Incômodas indicações para cargos na prefeitura

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Há pouco a prefeitura demitiu Pai Cleber de Xangô do cargo de “diretor de Patrolamento” da Secretaria de Obras. Numa cidade com muitas ruas de terra nos bairros, o setor é visado. Quando chove, as ruas, esburacadas, alagam. Ao ver a patrola, os moradores ficam felizes. O ponto: segundo o vereador César Brizolara, do PSB, Pai Cleber foi indicado ao cargo pelo vereador Márcio Santos, do PSDB, partido da prefeita Paula Mascarenhas. A demissão veio após Brizolara afirmar que Cleber entregava aos moradores cartões oferecendo serviços religiosos e propagandeando que o serviço de patrola ocorria graças a Santos.

Já na Secretaria de Assistência Social, o servidor Juliano Nunes foi guindado ao cargo de função gratificada de “diretor de Alta Complexidade”. Segundo o secretário de Assistência Social, Tiago Bündchen, em depoimento ontem (19) na Câmara, Nunes foi indicado ao cargo pelo vereador Carlos Júnior, do PSD, da base do governo. Como Pai Cleber, Nunes foi afastado do cargo, depois de denúncias de que desviava dinheiro público de beneficiários do Serviço de Prestação Continuada. O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado esteve na casa de Nunes, onde fez buscas e apreensões.

Já no Pronto Socorro Municipal, Misael da Cunha, então vice-presidente do PSDB e ex-tesoureiro do partido, foi elevado ao cargo de “gerente executivo do Pronto Socorro”, de onde acabou afastado após a descoberta de pagamentos em duplicidade a uma empresa específica. O caso motivou uma CPI, em curso na Câmara, onde Brizolara tem insistido em que se abra uma outra CPI específica para investigar a Secretaria de Assistência Social.

Por esses casos estima-se os riscos da indicação política de pessoas para cargos-chave. De apelo eleitoral. E que operam verbas.

Vereadores indicando cargos, de qualquer tipo, e a autoridade na prefeitura aceitando, é um sinal da miséria brasileira, da falta de entendimento do papel institucional. Às vezes cansa falar disso.

A imagem da patrola parece resumir o que ocorre.

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