Connect with us

Cultura e entretenimento

Considerações sobre os arranca-rabos na pré-eleição da UFPel

Publicado

on

Última atualização: 03h47 de 30/07.

É estranho que briguem tanto, pois dificilmente, provavelmente impossível, que um reitor à esquerda, se eleito, tome posse. Bolsonaro nomeará quem quiser, até o menos votado; no estrito legal, tem esse direito. Talvez o conflito seja um tipo de prazer para quem a ele se lance.

Na noite desta terça (28) visitei a página do reitor Pedro Hallal, em busca de notícias. Vi que, sem receio, ele aceitou na própria linha do tempo de seu facebook uma postagem de um membro de um grupo político diferente, com acusações de “jogo baixo” na pré-eleição. A acusação não foi contra ele diretamente, mas ao seu grupo, um híbrido de PSol e PT; desde logo, fiquei impressionado, pela coragem de não rejeitar um incômodo.

O crítico reclama do vazamento de extratos bancários de depósitos do Auxílio Emergencial federal em nome da filha de uma pré-candidata a reitora, do PT, Julieta Fripp, como se a atual gestão quisesse prejudicá-la. Em entrevista ao Amigos de Pelotas, que recebeu a denúncia dos depósitos indevidos e buscou esclarecimentos, Julieta disse que a garota não percebeu os depósitos na conta, que não os requereu, que o dinheiro foi devolvido (20 minutos depois que o site procurou pelos esclarecimentos) e que denunciará o caso, creio que ao MP.

No post do crítico que saiu em defesa de Julieta na página de Hallal, replicado pelo reitor, a pré-candidata a reitora escreveu, por exemplo, que o vazamento foi “uma atitude machista”, embora não possa provar quem vazou. Leio uma coisa assim e desanimo, pois não vejo machismo algum no episódio, mas sim, no caso dela, um argumento distorcido, talvez buscando macular o “adversário”, inverter a fatura ou equilibrá-la, partindo de uma suspeita sem provação. E penso que, de fato, a política mobiliza nas pessoas os piores instintos.

Houve os depósitos. Fato. Não importa quem vazou. O dinheiro foi devolvido e os depósitos, indevidos, serão denunciados, já se avisou. Fim.

Por ironia, ao expor conflitos nesse nível, os contendores parecem não perceber que convalidam a tese de Bolsonaro, que denuncia o “aparelhamento das Universidades”, a erosão de energias que deveriam estar concentradas em construir uma Universidade plural, moderna, administrativamente profissional, não partidarizada, não sectária, não conflagrada por razões supostamente ideológicas. Digo “supostamente” porque chego até a duvidar da motivação ideológica.

Jornalista, acompanho a UFPel desde 2008. Três gestões: Borges, Mauro, Pedro. Em todas, embora com nuances diferentes, sempre senti um clima de gueto, desconfiança, preconceito, manipulação (por vezes, repugnante). Algo lamentável, pois, a uma pessoa sensível, comum e de bom senso, talvez a maioria do corpo funcional, é o tipo de ambiente que faz mal, inibe a espontaneidade e coopta pela submissão.

Nesses anos todos vi cenas inesquecíveis. Por exemplo, me ficou impresso, como um cartum, a mudança de uma integrante autodeclarada à esquerda do PT. Numa campanha à Reitoria (me pareceu uma práxis), vestia jeans surrado, camiseta, sapatos baratos, identificada estética e sentimentalmente com estudantes, quase sempre em dificuldades, e ela, ao lado, solidária. Ao virar pró-reitora, passou a vestir roupas de madame e saltos altos. Nada contra mulher bem vestida, ao contrário…

O que me decepcionou foi ver o teatro a serviço da política, em nome de gratificações melhores, em nome da realização de fantasias de consumo “burguesas”. Não foi caso único, de gente passando-se por uma coisa, querendo ser outra, e sendo outra na primeira oportunidade. Eu sei que a política é inerente e os humanos, contraditórios, mas espero sempre alguma coerência, um mínimo de coesão entre discurso e prática.

Outro dia recebi cópias dos contracheques de uma lista de professores da UFPel, salários acima dos 20 mil reais. Casais ganhando juntos 50 mil reais por mês, que bom para eles, ainda assim sectários politicamente, envolvidos até o fio do cabelo nas peleias, com o objetivo de chegar ao topo da cadeia de “comando” na UFPel e me lembrei de Pavlov. Depois de garantida a subsistência, a segurança e as satisfações materiais, o homem anseia por “reconhecimento”.

Quantos têm o luxo no Brasil de um salário como os acima mencionados? Quantos têm o privilégio e o tempo de se imiscuir em brigas partidárias em busca não mais que de reconhecimento? O homem comum, que rala de manhã para comer à noite, ainda no degrau inicial da civilização, não tem tempo para discutir ideologias.

Certamente alguns acadêmicos, mesmo partidários, escapam à regra. Mas, muitas vezes, e para se cientificar basta observar, para alguns as chamadas lutas em nome da coletividade não passam de uma cortina de fumaça para seus praticantes subirem um patamar no grau de satisfação pessoal, embora se possa, no decorrer do caminho, deixar um legado para o conjunto da comunidade. Para atingir graus mais elevados de status e reconhecimento, muitas vezes (nem sempre) a política é apenas um meio.

Para não ficar só na crítica, gostaria de dizer que, nesses 12 anos que acompanho as gestões da UFPel, notei que a transparência na Reitoria melhorou muito. Foi como se, em três tempos, no primeiro uma pessoa fosse muda, no segundo, tivesse aprendido a falar e, então, no terceiro, passado a fazê-lo pelos cotovelos, ainda bem! Sobretudo após a internet e as redes, não há mais segredos sem direito a vir à tona. A transparência, felizmente, se tornou inevitável. Ainda assim, digno de nota. E, sim, devemos aplaudir a UFPel pelo brilhantismo e proeminência nas pesquisas da incidência da Covid-19 no Brasil e no RS, lembrando ainda que a pesquisa brasileira é, até aqui, a maior do mundo em abrangência. Reconhecimento mais que merecido! Orgulho para Pelotas e o Brasil.

Rubens Amador. Jornalista. Editor do Amigos de Pelotas. Ex funcionário do Senado Federal, MEC e Correio Braziliense. Pai do Vitor. Fã de livros, de cinema. E de Liberdade.

4 Comments

4 Comments

  1. MARCUS VINICIUS AGUILAR MEINE

    09/08/20 at 10:48

    Excelente texto. Mas está briga pelo “poder” tem muito a ver com o que acontece também nos Institutos Federais, não só aqui no RS mas em todo o Brasil. Existem fatos que como dissestes só estamos sabendo graças as mídias sociais, talvez por isso os “corruptos” querem censurar as mesmas. Abs.

  2. Hugo.

    07/08/20 at 17:27

    Gostei muito do seu artigo. Minha esposa é pelotense e como tal bairrista.Moramos em Santa Maria. Eu natural de Canguçu,me formei em Pelotas e também gosto muito da cidade. Temos família morando aí.Vou acompanhar o site,para me informar melhor sobre Pelotas.Hugo.

    • Rubens Spanier Amador

      07/08/20 at 17:39

      Muito obrigado, Hugo. Fico contente que o texto tenha te agradado.
      Abraço.

  3. Alarico

    29/07/20 at 12:48

    É isso aí, Rubens. Parabéns!
    É muito triste, que numa universidade também se precise escolher entre o pior e menos pior, assim mesmo, por exclusão. Essa briga entre a “esquerda” e a “extrema esquerda” já deu o tinha que dar, mas os caras não desistem: no caso que narras a briga é entre o PT (tradicional) tentando voltar ao trono, e a “nova direita reforçada pelo PSol” querendo se manter nele a qualquer preço.
    Lamentável, muito lamentável.

Deixe uma resposta para Rubens Spanier AmadorCancelar resposta

Cultura e entretenimento

Guerra civil, o grande filme do ano até agora. Por Déborah Schmidt

Publicado

on

Guerra Civil mostra a fotojornalista Lee Smith (Kirsten Dunst) e o redator Joel (Wagner Moura) em meio a uma guerra civil que dividiu os Estados Unidos em diversas facções políticas. A dupla pretende conseguir uma entrevista com o presidente, mas para isso, precisa atravessar um país dividido e enfrentar uma sociedade em guerra consigo mesma. A dupla é acompanhada por Jessie (Cailee Spaeny), uma jovem fotógrafa, e Sammy (Stephen McKinley Henderson), um repórter veterano.

Dirigido e roteirizado pelo premiado Alex Garland, o filme explora uma trama ambientada em um futuro distópico, porém não tão distante e nem tão improvável. Conhecido por filmes como Ex Machina (2014) e Aniquilação (2018) e pelos roteiros de Extermínio (2002), de Danny Boyle e Não Me Abandone Jamais (2010), de Mark Romanek, Garland apresenta uma mistura de ação e suspense ao apresentar a viagem de carro do quarteto de Nova York até Washington. Durante o trajeto, registram a situação e a dimensão da violência que tomou conta das ruas, envolvendo toda a nação e eles mesmos, quando se tornam alvos de uma facção rebelde.

Como a dupla de protagonistas, os sempre ótimos Kirsten Dunst e Wagner Moura criam um contraponto perfeito. Enquanto Lee já está entorpecida e demonstra frieza com relação ao caos, Joel é mais relaxado e conquista o público através do carisma. A serenidade do grupo pertence a Sammy, em um personagem que é impossível não simpatizar, ainda mais com a excelente atuação de  Stephen McKinley Henderson. Cailee Spaeny, que já havia se destacado em Priscilla (2023), repete a qualidade com Jessie, uma jovem tímida, mas ousada, e que está seduzida pela adrenalina da cobertura de uma guerra. Ainda no elenco, Nick Offerman vive o presidente dos EUA, e Jesse Plemons faz uma participação curta, porém intensa, na cena mais perturbadora do longa.

Com a qualidade técnica já conhecida dos filmes da A24, a produção mescla a todo o momento sons de tiros ensurdecedores a um silêncio que fala ainda mais alto, em uma verdadeira aula de edição e mixagem de som. A fotografia de Rob Hardy (parceiro de Garland desde Ex Machina) flerta com o documentário e a trilha sonora de Geoff Barrow e Ben Salisbury (também parceiros de longa data do diretor) é discreta, mas extremamente competente ao servir como alívio de momentos mais tensos.

É instigante acompanhar a jornada desses jornalistas e o filme definitivamente se beneficia deste fato. Através de frames com fotos realistas, em preto e branco, que surgem em meio às cenas mais duras, o filme aposta na fotografia para contar sua narrativa. Mesmo que acostumados com a violência, os jornalistas são os melhores personagens para retratarem essa história e, por mais que tenham seu posicionamento frente ao conflito, o trabalho deles é apenas registrar o que está acontecendo, deixando que o público tire as suas próprias conclusões. Guerra Civil é uma bela homenagem ao papel desses profissionais em momentos de crise.

Em cartaz nos cinemas, Guerra Civil é o grande filme do ano até o momento. Um olhar crítico e sensível, ainda que essencial, sobre a nossa própria realidade.

Continue Reading

Cultura e entretenimento

UnaMúsica inicia temporada com show da Gafieira do Clube

Publicado

on

O projeto UnaMúsica inicia sua temporada 2024 com show da Gafieira do Clube nesta quinta-feira, dia 18, às 18h. A apresentação será ao ar livre, no Anfiteatro do Parque Una e coincide com a abertura da Semana Nacional do Choro em Pelotas.

O evento, que ocorrerá de 18 a 27 de abril, celebra o  10º aniversário do Clube do Choro de Pelotas e o reconhecimento pelo Iphan do Choro como Patrimônio Cultural do Brasil. Durante o período, diversas atividades acontecerão em diferentes locais da cidade.

UnaMúsica

O UnaMúsica surgiu em 2020 com a intenção de valorizar a produção musical local ao promover shows de diferentes estilos no Anfiteatro do Parque Una. Porém, devido à pandemia de Covid-19, o projeto foi reestruturado e, dos cinco shows selecionados para aquela temporada, quatro foram realizados de forma virtual. Em 2022, o plano original foi retomado e a última apresentação foi realizada presencialmente.

Tendo o espaço público do Parque Una como cenário, o projeto retorna em 2024, buscando  levar boa música aos moradores e visitantes do bairro.

Gafieira do Clube

O projeto Gafieira do Clube reúne instrumentistas participantes do Clube do Choro e foi concebido com base nas tradicionais bandas de gafieiras do Rio de Janeiro que se destacavam em casas noturnas renomadas, como as estudantinas, oferecendo um repertório especialmente elaborado para a dança, com arranjos de músicas populares e composições instrumentais.

Apresentando uma formação moderna que combina os instrumentos do choro com nuances jazzísticas, incluindo contrabaixo, bateria e instrumentos de sopro, a Gafieira do Clube surge com o propósito de proporcionar uma experiência musical instrumental mais vibrante e envolvente, mesclando os ritmos do choro, maxixe, samba e outros, para o deleite dos apreciadores da música brasileira.

Participam do projeto: Rafael Velloso (sax), Rui Madruga (violão 7 cordas), Fabrício Moura (violão de 6 cordas/cavaquinho), Pedro Nogueira (cavaquinho solo), Paulinho Martins (bandolim), Gil Soares (flauta), Paulo Lima(contrabaixo) e Everton Maciel (percussão).

O QUÊ: Projeto UnaMùsica 2024 – Show Gafieira do Clube

QUANDO: Dia 18 de abril, às 18 horas

ONDE: Anfiteatro do Parque Una

Continue Reading

Em alta

Descubra mais sobre Amigos de Pelotas

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter acesso ao arquivo completo.

Continue reading