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Opinião

A estratégia malandra do PSDB para impedir a CPI

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O líder do PT na Câmara, vereador Marcos Ferreira, o Marcola, fechou um acordo pessoal com o líder do governo no Legislativo, o colega advogado Fabrício Tavares, do PSD. A dupla acertou o destino de um assunto de interesse coletivo. O que acertaram?

A dupla acertou o “adiamento” de uma CPI para investigar possíveis irregularidades na prefeitura de agora para depois da eleição de outubro. Justificativa para o “adiamento”: evitar a eventual utilização política da CPI em período eleitoral, já que o ex-prefeito tucano Eduardo Leite concorrerá a governador.

Advogado Tavares: defensor de Leite

Na prática, foi um acordo para não prejudicar o caminho do tucano ao Piratini.

Foi na prefeitura de Leite que as fraudes na concessão de lotes e apartamentos do Programa Minha Casa Minha Vida teriam ocorrido.

Como se soube na semana passada, os possíveis malfeitos estão sendo investigados pela Polícia Federal, a pedido da Justiça.

Nada menos que 40 policiais federais da Operação Dominus cumpriram mandatos de busca e apreensão nas residências e gabinetes dos vereadores Waldomiro Lima, do PRB, Ademar Ornel, do DEM, e outros locais.

Como numa ação da Lava jato, a PF levou documentos, computadores e outros objetos. Na casa de Lima, apreendeu um revólver calibre 38 sem registro. Conduzido à Delegacia num carro preto com vidro fumê, Lima pagou fiança de R$ 5 mil por posse de arma clandestina e saiu livre.

Qual a relação de Waldomiro com Leite?

Waldomiro, detido pela PF, ao lado de Paula, inaugurando obras

Leite nomeou um apadrinhado político de Waldomiro para uma pasta criada especialmente por ele, Leite: a Secretaria de Habitação e Regularização Fundiária, onde as fraudes teriam se dado. O apadrinhado: Ivan Vaz, biólogo, do mesmo partido de Waldomiro, PRB. A dupla não possui qualificação profissional e técnica na pasta para geri-la nem indicar gestores a ela.

Estratégia “moral”

A investigação pela Polícia Federal das supostas fraudes na gestão Leite ocorre em “segredo de justiça”. Com isso, informações preciosas não são divulgadas.

Já com a CPI, aquelas informações preciosas viriam a público desde já.

Portanto, o adiamento da CPI, pelo acordo amigável entre os líderes do PT e do governo do PSDB, é uma circunstância conveniente ao candidato Leite. Na verdade, é mais que só conveniente, porque isso “de ser conveniente” – sozinho, só isso – soa rude demais num político de estirpe [para quem a conveniência precisa ser embalada por uma justificativa moral, de preferência com arremate nobre do pacote].

A justificativa tem a pretensão de ser uma “estratégia brilhante”. Por quê?

Por isso: no meio de uma campanha eleitoral, não pega bem ser contra uma CPI.

Então, eles fazem o quê?

Eles fazem assim: eles dizem em público SER FAVORÁVEIS à CPI, só que NÃO AGORA. Mas sim depois da primavera, quando os brotos tiverem dado frutos; no verão, quando o clima estiver mais ameno.

Mesmo que a voz de Leite não se faça ouvir na decisão, sua elegante figura emerge sobre ela do mesmo modo que o espaço sideral se agiganta aos olhos do cientista.

Qual o medo?

A pergunta é inevitável: Do que tem medo Eduardo Leite, se culpa não tem?

Jamais um governo inocente poderia ser contra uma CPI, em qualquer tempo, certo? Isso é mais óbvio que a morte.

Alguma coisa na estratégia acima faz o leitor se lembrar do PT, além do que já faz lembrar o petista Marcola e seu acordo privado com Tavares? Se lembrou, faz sentido lógico.

O PT se julgava moralmente superior, mesmo depois de seus piores crimes terem sido desvendados pela PF e pela Justiça. Como todos sabemos, quando a farsa caiu, continuaram posando de moralistas. Deu, vem dando, no que sabemos…

Como estamos vendo mais uma vez, aquele comportamento que condenamos no PT não é coisa só do partido da estrela. É um problema da velha política, na qual, para o bem e para o mal, floresceu Eduardo Leite.

Políticos convencionais de partidos tradicionais agem assim: procuram revestir de nobreza seus gestos mais questionáveis, pois acreditam que a sociedade tem os sentidos embotados; que todos nós não passamos – perdoe – de uns bons trouxas.

Na hipótese mais generosa – segundo a avaliação deles – eles calculam que pelo menos metade da população que acompanha o noticiário certamente será trouxa, que a outra metade logo esquecerá o assunto, e vão em frente.

Eduardo Leite e Marcola, em Brasília, 

Se alguém tinha alguma dúvida de que PT e PSDB são a mesma coisa, eis mais um exemplo para tirar a prova. Dois partidos da velha política, para quem o que importa é a sobrevivência eleitoral, apesar dos malfeitos ou da eventualidade desses.

Pelo acordo, na futura-quem-sabe-possível-CPI-pós-eleição, Tavares seria o presidente da Comissão de Inquérito e Marcola, o relator. Sim, nas negociações, a dupla “já” tratou disso também. Tudo muito profissional, para convencer a gente de que a CPI não está sendo enterrada, que ocorrerá – OBRIGATORIAMENTE – na primavera ou no verão.

Querendo, acredite…

Releia a pretensão moral: Tavares disse que o acordo com Marcola “foi a forma de resolver um problema, já que o número de assinaturas mínimo para instalar uma CPI é de sete, e só havia seis, contando com a de Marcola”.

Dos três vereadores de oposição indecisos, bastaria que um (o sétimo) assinasse o requerimento e a CPI avançaria.

A pressão sobre eles foi grande. Vc sabe, está sendo um ano muito complicado…

Éder Blank, do PDT, logo foi avisando que não assinaria.

Já Toninho Peres e Zilda Bürkle, ambos do PSB, não sabiam o que fazer. Antes que a agonia se prolongasse, trataram de eliminá-la, com a subtração da assinatura de Marcola e o anúncio do acordo de adiamento da CPI entre PT e PSDB, com apoio de vereadores do PSB e do PDT.

Coisas da velha política, um ambiente onde, apesar de tudo, infelizmente ainda se persiste na lógica de que a ocupação de maiores espaços de poder é mais importante que fiscalizar a ocorrência de crimes na administração pública, sem calcular os passos, incluindo temporais.

Tudo o que eles querem é “chegar lá”, de preferência pelo caminho menos pedregoso.

Caminham com bolhas pelo deserto.

Rubens Amador. Jornalista. Editor do Amigos de Pelotas. Ex funcionário do Senado Federal, MEC e Correio Braziliense. Pai do Vitor. Fã de livros, de cinema. E de Liberdade.

8 Comments

8 Comments

  1. Fabio Bortoncello

    21/06/18 at 16:39

    Eduardo está rodando o estado lançando o que ele denomina ‘Rumos Para O Rio Grande’.
    Isso já não seria campanha política fora do prazo legal??

    • Daltro Dias Irigoyen

      28/06/18 at 22:42

      Eduardo candidato jovem . Que na idade e muito velho pois seus métodos de fazer política , não são nada REPUBLICANOS pois como Presidente do seu Partido ” TUCANOS ” . No momento de apoiar o Governo Sartori , na Assembleia Legislativa por ocasião da homologação , da lei que autorizaria o PLEBISCITO , da extinção das Autarquias , junto com as eleições , que daria o direito ao POVO a escolha de continuação ou não da permanência das mesmas . no governo . Mesmo tendo o seu Partido participado por três anos e meio da governança inclusive , comandando a Secretaria de Minas e Energia e a Presidência da CEEEE mesmo assim , afastou os seus secretários , induziu os seus deputados a votar contra o ´projeto , aliando-se aos Partidos de esquerda . Como se fala na campanha ” VIROU O COCHO ” , mais foi o verdadeiro tiro no pé , o tempo é o senhor da RAZÃO , este mundo é redondo ………………………

  2. João

    21/06/18 at 01:05

    Eduardo Leite tem 1/3 da intenção de votos de Sartori. Suas chances são mínimas e assim devem continuar, pois caso sejam confirmadas as denúncias de corrupção em seu governo, merece ser banido da política.

  3. Nereu Vargas

    20/06/18 at 18:30

    Teremos um político pelotense com menos de 40 anos aposentado com salário de mais de 25 mil reais??
    Basta Eduardo Leite se eleger governador.
    Será que ele, todo correto, abriria mão desta aposentadoria em nome da ética?

  4. Paulo Soares

    19/06/18 at 06:20

    E ainda tinha gente que acreditava que o governo Leite era a “nova política “!

  5. Loiva Hartmann

    18/06/18 at 16:01

    Não pertenço ao PT e nem ao PSDB. Mas, torço pelo desenvolvimento da Região Sul, na qual tenho minha família, estudei e vivo. Lendo o texto do “Amigos”, vejo que a resposta sobre a não instalação da CPI sobre o Minha Casa Minha Vida está no próprio texto !!! A CPI será política e não investigativa. Nâo conheço nenhum vereador com esse preparo. Em segundo lugar: por que a redundância de investigação? A PF está há mais de ano investigando. Por acaso há recursos abundantes??? Há motivos para o lento desenvolvimento da Zona Sul e, em especial de Pelotas: muita conversa, debates inúteis, suspeitas infundadas, etc. Fazer política, a boa política, é outra coisa. HOJE, o que temos que ter presente, é que temos alguém da cidade, desinportando o partido, candidato a governador. Todos deveriam estar voltados para esse fato. E não E não tergiversando, conversando e outros … ando. As eleições de 2018, serão a medida exata da maturidade de cada comunidade.

  6. Diego

    15/06/18 at 10:42

    Faz tempo que o Marcola deixou de ser oposição. Não sei por que continua no PT.

  7. Fernando

    15/06/18 at 02:44

    Infelizmente vivemos em um mundo de safadeza. O PT vai buscar apoio do PSDB no segundo turno, uma vez que o provável cenário será Sartori X Rosseto. Para isso, aparentemente está tentando encobrir todas as eventuais barbaridades ocorridas nos governos Leite e Paula que, cada vez mais, estão vindo à tona.

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Cultura e entretenimento

Guerra civil, o grande filme do ano até agora. Por Déborah Schmidt

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Guerra Civil mostra a fotojornalista Lee Smith (Kirsten Dunst) e o redator Joel (Wagner Moura) em meio a uma guerra civil que dividiu os Estados Unidos em diversas facções políticas. A dupla pretende conseguir uma entrevista com o presidente, mas para isso, precisa atravessar um país dividido e enfrentar uma sociedade em guerra consigo mesma. A dupla é acompanhada por Jessie (Cailee Spaeny), uma jovem fotógrafa, e Sammy (Stephen McKinley Henderson), um repórter veterano.

Dirigido e roteirizado pelo premiado Alex Garland, o filme explora uma trama ambientada em um futuro distópico, porém não tão distante e nem tão improvável. Conhecido por filmes como Ex Machina (2014) e Aniquilação (2018) e pelos roteiros de Extermínio (2002), de Danny Boyle e Não Me Abandone Jamais (2010), de Mark Romanek, Garland apresenta uma mistura de ação e suspense ao apresentar a viagem de carro do quarteto de Nova York até Washington. Durante o trajeto, registram a situação e a dimensão da violência que tomou conta das ruas, envolvendo toda a nação e eles mesmos, quando se tornam alvos de uma facção rebelde.

Como a dupla de protagonistas, os sempre ótimos Kirsten Dunst e Wagner Moura criam um contraponto perfeito. Enquanto Lee já está entorpecida e demonstra frieza com relação ao caos, Joel é mais relaxado e conquista o público através do carisma. A serenidade do grupo pertence a Sammy, em um personagem que é impossível não simpatizar, ainda mais com a excelente atuação de  Stephen McKinley Henderson. Cailee Spaeny, que já havia se destacado em Priscilla (2023), repete a qualidade com Jessie, uma jovem tímida, mas ousada, e que está seduzida pela adrenalina da cobertura de uma guerra. Ainda no elenco, Nick Offerman vive o presidente dos EUA, e Jesse Plemons faz uma participação curta, porém intensa, na cena mais perturbadora do longa.

Com a qualidade técnica já conhecida dos filmes da A24, a produção mescla a todo o momento sons de tiros ensurdecedores a um silêncio que fala ainda mais alto, em uma verdadeira aula de edição e mixagem de som. A fotografia de Rob Hardy (parceiro de Garland desde Ex Machina) flerta com o documentário e a trilha sonora de Geoff Barrow e Ben Salisbury (também parceiros de longa data do diretor) é discreta, mas extremamente competente ao servir como alívio de momentos mais tensos.

É instigante acompanhar a jornada desses jornalistas e o filme definitivamente se beneficia deste fato. Através de frames com fotos realistas, em preto e branco, que surgem em meio às cenas mais duras, o filme aposta na fotografia para contar sua narrativa. Mesmo que acostumados com a violência, os jornalistas são os melhores personagens para retratarem essa história e, por mais que tenham seu posicionamento frente ao conflito, o trabalho deles é apenas registrar o que está acontecendo, deixando que o público tire as suas próprias conclusões. Guerra Civil é uma bela homenagem ao papel desses profissionais em momentos de crise.

Em cartaz nos cinemas, Guerra Civil é o grande filme do ano até o momento. Um olhar crítico e sensível, ainda que essencial, sobre a nossa própria realidade.

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Comentário em vídeo: Liberdade de expressão

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