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Opinião

“Carta aos profissionais de saúde”. Por Roberta Paganini

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Roberta Paganini, secretária de Saúde de Pelotas

Roberta Paganini (Foto: Gustavo Vara)

Todo o mundo viveu ou está vivendo a pandemia da Covid-19.

Em Pelotas, fizemos nosso planejamento em fevereiro e, em março, os treinamentos e as preparações dos serviços da Rede de Atenção à Saúde. E aí as dúvidas, incertezas e inseguranças começaram.

Nós, da saúde, estávamos na linha de frente sem as certezas que normalmente estamos acostumados com pesquisas, estudos, orientações e recomendações claras de órgãos sanitários ou de classes profissionais. Entretanto, seguimos em frente e na linha de frente, pois esse chamado da vida é da saúde.

A pandemia é sanitária e compete principalmente a nós fazermos este enfrentamento. Nunca fomos tantas vezes chamados de heróis, nunca fomos tão valorizados. O mundo inteiro – confiante em nossa responsabilidade e esperançoso no nosso cuidado.

O tempo foi passando e muitos de nós fomos ficando cansados, alguns doentes emocionalmente pela pressão e fisicamente, pela infecção do coronavírus.

    Há cinco meses nos fazemos perguntas. Quando será nosso primeiro caso confirmado? Quando será nosso primeiro óbito? Quando será o pico da curva? De quantos leitos vamos precisar? Quantos respiradores (como e fosse só disso que se precisasse) nós temos? Será que vamos dar conta? Tem um tratamento precoce? Quando terá vacina? Quanto tempo vamos precisar fazer isolamento social? Será que estou contaminado? E minha família? Quanto tempo mais vou ficar longe dos meus filhos ou dos meus pais? Quantos leitos de UTI temos vagos? Vamos ter que transferir pacientes para outros municípios? Quem é o novo colega que se afastou por estar com Covid? Será que vamos conseguir completar a equipe para o próximo plantão?

    Esses heróis que estão na linha de frente vivem diariamente tudo isso e muito mais. E essa linha é composta por todos os profissionais DA saúde e DE saúde.

    Como gestora da saúde pública deste município escrevo esta carta para todos estes profissionais, para pedir que continuemos em frente, pois ainda não chegamos no pico e agora é quando mais a população precisa de nós, pois os números de infectados e internados aumentam e a gravidade dos casos também.

    Alguns de nós fizeram uma escolha no passado, quando decidiram cuidar do outro, e esses milhares de outros estão precisando de nós. Alguns podem estar nessa área não por opção, mas por falta dela, mas é aqui que estamos e temos nossa responsabilidade.

    Peço a todos que sigam priorizando a vida, a humanização, a empatia e deixem pra outra hora as disputas pessoais, profissionais ou financeiras.

    Se a gestão da minha instituição não é como penso que deveria ser, se o salário que ganho não é o que deveria ser, se as condições de trabalho não são o que deveriam ser, se a equipe de trabalho não é o que deveria ser, se o mundo não é o que deveria ser, que eu seja o que devo ser para o outro que precisa de mim e é aqui que estou.

    Temos um longo tempo pela frente de perdas, de frustrações, de inseguranças, mas a cada vida que prestamos assistência é uma grande vitória.

    Sabemos o quanto está difícil mantermos os profissionais nos serviços de saúde, mais difícil ainda conseguir novos profissionais para ampliar estes serviços. Não queremos obrigar, advertir ou convocar, queremos uma união de esforços.

    Por esta razão venho pedir a cada profissional DE saúde e DA saúde que apoie seu colega, que cuide de nossos pacientes. Que estejamos juntos neste enfrentamento, nesta missão.

    Agradeço a cada um que segue conosco nesta caminhada, por sua abnegação, por sua dedicação e compromisso com a saúde pública da nossa cidade e região, por esse heroísmo que comove a todos.

    Somente juntos e com harmonia poderemos mais em Pelotas.

    Contamos com você!

    2 Comments

    2 Comments

    1. Maria

      11/08/20 at 17:37

      Esses profissionais,todos merecem muito mais atenção.
      Teste em massa,apoio psicológico,roupas adequadas .
      O que vai ser da população se a grande maioria adoecer!?
      Tem muitos mas muitos já contaminados.
      Qual apoio que a senhora está dando a eles?
      Gostaria que me esclarecesse?

    2. Paulo Kelbert

      11/08/20 at 10:01

      “Quando a miséria bate à porta, a virtude sai pela janela”, dito popular. A pandemia mostra um lado que causa enfermidade, e um outro, que não imaginávamos que poderia ocorrer:
      a infâmia!
      Dentre tantas já vistas, com o vislumbre do lucro fácil no controle da enfermidade, gastos públicos desperdiçados ordenados por políticos e seus asseclas que deveriam estar presos e prestando serviços comunitários, por exemplo, cavarem covas para enterrar os mortos que resultaram de suas iniquidades.
      O cinismo transbordante de psicopatas defendendo o indefensável, negadores da hidroxicloroquina, ingerida no escuro quando doentes. Logo, desmascarados, deixaram a ideologia por recomendação médica.

      Quanto aos profissionais da saúde, em especial aos médicos que prescrevem, tiveram o tardio apoio do Conselho Federal de Medicina para espantar as moscas do comércio de outras drogas caras e sem estudos de eficácia.

      Vê-se a mídia bater no Ministério da Saúde por ter um interino. Mesmo interino, socorreu-se de médicos abnegados de sua equipe, de cientistas de verdade, e tratou de colocar logística na condução. As ofensas da mídia foram deixadas de lado, não se pode perder tempo com latidos ou xavecos.

      Pior ainda, os arautos do caos surgiram pomposos com suas observações míopes em busca de fama, notoriedade e pretensões sucessórias ao Paço.

      Este é o estado de Pelotas. Cria-se um decreto para evitar aglomeração. Tiro saiu pela culatra. Divisão panzer para abordar transeuntes ou alguns gambás desorientados pela consoladora cachaça, solvente da tristeza. Cem o revés no quase ocaso, uma pequena redenção de poucas preces e muita revolta. Tropicou na lei, e manteve a arrogância, afinal, gastou muita querosene na blitzkrieg contra a população, sirenes tendo orgasmos no vazio da cidade, com e justa reclamação dos cachorros que não suportam estes ruídos; iguais a nos, que não mais suportamos arbítrio que se apresenta como senhora caridosa.

      Pede para sair, e deixa o mudo entrar…

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    Cultura e entretenimento

    Guerra civil, o grande filme do ano até agora. Por Déborah Schmidt

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    Guerra Civil mostra a fotojornalista Lee Smith (Kirsten Dunst) e o redator Joel (Wagner Moura) em meio a uma guerra civil que dividiu os Estados Unidos em diversas facções políticas. A dupla pretende conseguir uma entrevista com o presidente, mas para isso, precisa atravessar um país dividido e enfrentar uma sociedade em guerra consigo mesma. A dupla é acompanhada por Jessie (Cailee Spaeny), uma jovem fotógrafa, e Sammy (Stephen McKinley Henderson), um repórter veterano.

    Dirigido e roteirizado pelo premiado Alex Garland, o filme explora uma trama ambientada em um futuro distópico, porém não tão distante e nem tão improvável. Conhecido por filmes como Ex Machina (2014) e Aniquilação (2018) e pelos roteiros de Extermínio (2002), de Danny Boyle e Não Me Abandone Jamais (2010), de Mark Romanek, Garland apresenta uma mistura de ação e suspense ao apresentar a viagem de carro do quarteto de Nova York até Washington. Durante o trajeto, registram a situação e a dimensão da violência que tomou conta das ruas, envolvendo toda a nação e eles mesmos, quando se tornam alvos de uma facção rebelde.

    Como a dupla de protagonistas, os sempre ótimos Kirsten Dunst e Wagner Moura criam um contraponto perfeito. Enquanto Lee já está entorpecida e demonstra frieza com relação ao caos, Joel é mais relaxado e conquista o público através do carisma. A serenidade do grupo pertence a Sammy, em um personagem que é impossível não simpatizar, ainda mais com a excelente atuação de  Stephen McKinley Henderson. Cailee Spaeny, que já havia se destacado em Priscilla (2023), repete a qualidade com Jessie, uma jovem tímida, mas ousada, e que está seduzida pela adrenalina da cobertura de uma guerra. Ainda no elenco, Nick Offerman vive o presidente dos EUA, e Jesse Plemons faz uma participação curta, porém intensa, na cena mais perturbadora do longa.

    Com a qualidade técnica já conhecida dos filmes da A24, a produção mescla a todo o momento sons de tiros ensurdecedores a um silêncio que fala ainda mais alto, em uma verdadeira aula de edição e mixagem de som. A fotografia de Rob Hardy (parceiro de Garland desde Ex Machina) flerta com o documentário e a trilha sonora de Geoff Barrow e Ben Salisbury (também parceiros de longa data do diretor) é discreta, mas extremamente competente ao servir como alívio de momentos mais tensos.

    É instigante acompanhar a jornada desses jornalistas e o filme definitivamente se beneficia deste fato. Através de frames com fotos realistas, em preto e branco, que surgem em meio às cenas mais duras, o filme aposta na fotografia para contar sua narrativa. Mesmo que acostumados com a violência, os jornalistas são os melhores personagens para retratarem essa história e, por mais que tenham seu posicionamento frente ao conflito, o trabalho deles é apenas registrar o que está acontecendo, deixando que o público tire as suas próprias conclusões. Guerra Civil é uma bela homenagem ao papel desses profissionais em momentos de crise.

    Em cartaz nos cinemas, Guerra Civil é o grande filme do ano até o momento. Um olhar crítico e sensível, ainda que essencial, sobre a nossa própria realidade.

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    Comentário em vídeo: Liberdade de expressão

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